Imagine a seguinte cena: você está na mesa de cirurgia para passar por um importante procedimento. Enquanto isso, o cirurgião fará todo o trabalho a milhares de quilômetros de distância, sem qualquer contato. De forma remota, ele operará um robô, responsável pela intervenção de forma minimamente invasiva. Parece algo das histórias de ficção? Pois saiba que isso já é realidade.
A primeira experiência de sucesso foi em 2001, com uma telecirurgia — a chamada Operação Lindbergh — que permitiu a um médico de Nova York (EUA) fazer um procedimento em um paciente em Estrasburgo, na França. Anos depois, com a evolução das conexões, mais seguras e com maior qualidade, tivemos feitos como cirurgias robóticas à distância na China. Em 2019, médicos da Jiaotong University School of Medicine, em Xangai, substituíram a articulação do joelho de duas mulheres, localizadas em pontos diferentes do país. Ambas as intervenções foram exitosas.
O resultado foi possível com uma tecnologia que, agora, tornou-se realidade no Brasil: o 5G. Além da altíssima velocidade, alcançando até 2 Gbps, essa frequência tem uma vantagem essencial: a sua baixa latência. Isso significa que o intervalo de comunicação na rede pode ser entre um e cinco milissegundos, o que beneficia uma série de atividades, como jogos, Internet das Coisas e realidade virtual.
A saúde brasileira pode evoluir com a chegada do 5G. Se a nova tecnologia de alta banda larga revoluciona as cirurgias, também deve trazer inúmeras vantagens para atendimentos bem mais simples, como consultas por telemedicina. Com menos falhas de conexão, a experiência mais próxima de uma consulta presencial deve ampliar e facilitar o acesso de pacientes que vivem em áreas remotas ou com dificuldades de mobilidade aos serviços de saúde.
O mesmo vale para exames de diagnóstico. Unidades de atendimento em regiões de difícil acesso e com escassez de profissionais podem vir a transmitir imagens de ressonância magnética e tomografias, por exemplo, de forma rápida e com qualidade para a análise de especialistas em grandes centros.
Mas vamos voltar para dentro do centro cirúrgico. Nos últimos anos, avançadas tecnologias têm trazido mudanças expressivas para melhores desfechos e tratamentos mais eficazes para diversas condições. Exemplo disso é a cirurgia robótica, que tem maior precisão. Há menos dor, sangramento e o paciente pode ter alta até no mesmo dia. A técnica tem ajudado contra o câncer, na colocação de próteses e em operações bariátricas.
No Hospital Moinhos de Vento, essa inovação é uma realidade desde 2018. Em quatro anos, nosso Programa de Cirurgia Robótica, um dos maiores da América Latina, tanto em expertise como em volume, já fez mais de mil intervenções, beneficiando principalmente pacientes com câncer de próstata, rim e bexiga. Em agosto, a primeira neurocirurgia robótica da América Latina foi realizada na instituição: uma artrodese de coluna. Estamos entre os melhores centros do mundo nessa área, além de incorporá-la à pesquisa e educação, formando profissionais e criando novas técnicas.
Com o 5G cada vez mais presente e com qualidade, será possível evoluir para a realização de cirurgias remotas também por aqui. Em nossos serviços médicos especializados, os pacientes poderão ser acompanhados em tempo real por profissionais de outras partes do mundo. Estes terão acesso às suas informações de maneira instantânea, inclusive comandando os equipamentos robóticos — e com total segurança.
Como disse o Dr. Richard Satava, autoridade mundial nesse campo: “o futuro da cirurgia não é sobre sangue e entranhas. É sobre bytes e bits”. A medicina de hoje e do amanhã passa pelas máquinas. Os robôs estão aqui para contribuir com a humanidade, trazendo uma saúde melhor e mais qualidade de vida para as pessoas. E com a chegada do 5G, essa realidade está mais perto de nós.
*André Berger é Coordenador do Núcleo de Cirurgia Robótica do Hospital Moinhos de Vento.