O Hospital Albert Einstein deu início a uma pesquisa com produto derivado da planta Cannabis sativa – canabidiol 133mg + canabigerol 66mg + tetraidrocanabinol (THC) 4mg versus Placebo como tratamento adjuvante na enxaqueca crônica, acrônimo CAMTREA, para tratar pacientes com enxaqueca crônica (que tenham dores de cabeça por, pelo menos, 15 dias do mês, ao longo de 90 dias consecutivos). O estudo, randomizado e duplo-cego, tem como objetivo principal observar se haverá redução na frequência, intensidade e duração das dores com o uso dos canabinoides quando comparados ao grupo placebo, e também observar o uso de analgésicos no período e o comportamento das comorbidades comuns a esses pacientes, como transtorno de ansiedade e distúrbios do sono.
Os efeitos das substâncias serão avaliados em 110 pacientes, acompanhados por 16 semanas. O recrutamento de participantes e o período de inclusão será de 18 meses, e os pacientes com enxaqueca crônica serão encaminhados pelos médicos que os atendem. Após quatro semanas de avaliação, os pacientes que se encaixarem nos critérios do estudo serão randomizados e receberão uma formulação com CBD/CBG/THC ou placebo, com reavaliação a cada quatro semanas.
“A literatura médica mostra que o uso de derivados de Cannabis pode atuar na enxaqueca, com o potencial de reduzir as crises, melhorando a qualidade de vida. Em consultórios, especialistas já utilizam, canabinoides em portadores de migrânea, e costumam notar diminuição nas dores e ganho de funcionalidade no dia a dia”, explica Alexandre Kaup, neurologista do Einstein e responsável pela pesquisa.
O sistema endocanabinoide é uma descoberta científica relativamente recente, sendo descrito na forma como conhecemos hoje no início da década de 1990. Ele tem como função principal manter o funcionamento do organismo em aspectos que abrangem geração e controle da dor, tanto no sistema nervoso central como no periférico.
Estudos experimentais pré-clínicos e estudos clínicos atestam a utilidade dos fitocanabinoides (aqueles presentes em plantas) na dor crônica de origem neurológica. O novo estudo é pioneiro na busca por tratamento para enxaqueca crônica e na formulação utilizada.
Apesar do crescente interesse médico-científico nos canabinoides, ainda faltam, no Brasil e no mundo, dados de grande amostragem de pacientes que mostrem os benefícios dos derivados de Cannabis para doenças como a enxaqueca, explica Kaup.
A pesquisa, inédita no mundo, tem patrocínio da Health Meds, indústria farmacêutica brasileira especializada em produtos à base de canabinoides, responsável pelo desenvolvimento e produção de suas formulações em laboratório próprio, na Flórida, nos Estados Unidos.
A farmacêutica não tem qualquer influência sobre a condução do estudo.