Mortalidade do patógeno, da mesma família do ebola, chega a ser de 88%; casos são os primeiros no país africano
Nesta semana, a Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmou o primeiro surto do vírus Marburg na Guiné Equatorial, enviando especialistas à região para ajudar o governo a combater a doença. O patógeno é da mesma família do ebola e altamente letal, chegando a uma mortalidade de 88% dos casos, segundo a organização.
Até o momento, foram confirmados nove óbitos e 16 casos suspeitos. O país vizinho, Camarões, também monitora dois possíveis infectados numa área de fronteira com a Guiné Equatorial.
Veja abaixo tudo o que se sabe até agora sobre o vírus e o novo surto:
O que é o Marburg e quais os sintomas?
O Marburg é um vírus raro da família Filoviridae, mesma do ebola, que causa uma febre hemorrágica. De acordo com a OMS, ela começa abruptamente, com altas temperaturas, dor de cabeça e mal-estar intensos. A maioria dos pacientes desenvolvem quadros graves em até sete dias.
Trata-se de um zoonose, ou seja, uma doença disseminada normalmente entre animais que passou a contaminar humanos – como foi o caso com o HIV, a Covid-19 e a monkeypox.
Como o Marburg é transmitido?
A transmissão acontece por meio de morcegos frugívoros, que se alimentam de frutas, e se espalha entre os humanos pelo contato direto com os fluidos corporais de pessoas contaminadas e por superfícies e materiais infectados.
Há tratamento ou vacina para o Marburg?
Não há vacinas ou tratamentos antivirais aprovados, embora uma série de fármacos estejam em testes. A OMS convocou uma reunião de emergência para ontem à tarde do consórcio para vacinas contra o vírus Marburg (MARVAC).
O grupo reúne líderes na área de desenvolvimento de imunizantes que trabalham juntos para o avanço nas pesquisas em relação ao vírus. O objetivo pode ser direcionar esforços para avançar em estudos durante o surto.
Quando foi o último surto e quando o vírus foi descoberto?
No ano passado, Gana também enfrentou pela primeira vez um surto do vírus, que foi declarado encerrado com dois mortos. Em 2021, a Guiné também detectou o patógeno de forma inédita, sendo o primeiro país na região da África Ocidental a identificar a doença.
Outros eventos esporádicos já foram registrados nos últimos anos em países como Quênia, África do Sul e Uganda, mas com poucos casos e de forma controlada. Os maiores avanços foram na República Democrática do Congo, de 1998 a 2000, e em Angola, de 2004 a 2005, quando foram contabilizados respectivamente 128 e 228 mortos.
Embora os casos sejam detectados no continente africano, o vírus foi descoberto nas cidades de Marburg e Frankfurt, na Alemanha, em 1967. Na época, funcionários de laboratórios adoeceram após entrarem em contato com tecidos de macacos infectados que vieram de Uganda.
Quando começou o novo surto do Marburg na Guiné Equatorial?
As nove mortes registradas pelo país foram entre 7 de janeiro e 7 de fevereiro, quando foi emitido um alerta pela província de Kie Ntem, no Oeste da Guiné Equatorial, onde ocorre o surto.
Na época, era considerada uma “febre hemorrágica de origem desconhecida”. As autoridades de saúde do país enviaram as amostras para um laboratório de referência do Instituto Pasteur em Senegal, com apoio da OMS. As análises comprovaram nesta semana a presença do vírus.
Porém, a origem exata de onde veio o vírus “ainda não está clara, e os resultados do sequenciamento do genoma ainda estão pendentes”, disse o Centro de Controle e Prevenção de Doenças da África (Africa CDC).
Quantos casos foram detectados?
Além das nove mortes registradas, há 16 casos suspeitos com sintomas como febre, vômito com sangue, diarreia e fadiga sendo monitorados na Guiné Equatorial. Segundo a agência de notícias Reuters, Camarões, país vizinho, detectou ontem dois possíveis infectados numa área de fronteira, que estão sendo monitorados.
No último dia 10, Camarões já havia restringido o movimento na divisa depois dos relatos de mortes, impedindo o trânsito de pessoas com sintomas ou que tiveram contato com os infectados. Em nota, o ministro da Saúde, Malachie Manaouda, afirmou no dia que as decisões foram tomadas “tendo em conta o elevado risco de importação desta doença e de forma a detetar e responder a eventuais casos numa fase precoce”.
Os contatos dos contaminados, assim como dos em observação, estão sendo isolados e acompanhados pelas autoridades de saúde. Ontem, o ministro da Saúde da Guiné Equatorial, Mitoha Ondo’o Ayekaba, disse em entrevista coletiva que “4.325 pessoas estão em quarentena” na província em que os casos foram detectados.
“O Marburg é altamente infeccioso. Graças à ação rápida e decisiva das autoridades da Guiné Equatorial na confirmação da doença, a resposta de emergência pode atingir todo o vapor rapidamente para salvarmos vidas e determos o vírus o mais rápido possível”, disse o Matshidiso Moeti, diretor regional da OMS para a África, em comunicado.