A maioria dos pacientes com câncer de pâncreas tem a doença diagnosticada em estágio avançado, o que dificulta o tratamento e, consequentemente, a cura. Atualmente, o tumor é a sétima principal causa de mortalidade relacionada a cânceres no mundo, de acordo com a IARC (Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer). O cenário preocupa e tem gerado debate para definir a melhor estratégia para a realização do tratamento oncológico dessas pessoas.
Com isso em mente, médicos e pesquisadores do Einstein realizaram uma revisão sistemática da literatura e uma metanálise de estudos randomizados e ensaios controlados. Eles compararam casos de pacientes que receberam quimioterapia ou quimiorradiação (combinação de quimioterapia e radioterapia) feitas antes da cirurgia para tentar reduzir o tamanho do tumor com casos de pacientes que passaram por uma cirurgia inicial seguida de tratamento quimioterápico.
De 3.229 resumos, 6 ensaios clínicos randomizados foram considerados elegíveis, inclusive, por sua qualidade metodológica, todos publicados após 2015, com um tamanho de amostra combinado de 805 pacientes com câncer de pâncreas ressecável — ou seja, que podem ser operados.
Ao final da pesquisa, não foi identificado nenhum benefício de sobrevida, seja geral ou livre da doença no grupo de pacientes que passaram por tratamento neoadjuvante ou quimiorradiação (combinação de quimioterapia e radioterapia). Notou-se, entretanto, uma maior taxa de ressecção cirúrgica completa (~20%). “Esse é um indicador importante, pois sugere que a medicina possa aprimorar o desenvolvimento de tratamentos nesse sentido”, destaca Pedro Luiz Serrano Usón Júnior, médico oncologista e um dos responsáveis pela análise do Einstein.
De acordo com o pesquisador, mesmo que a cirurgia inicial ainda deva ser considerada uma abordagem padrão nesse grupo de pacientes operável, a melhor estratégia varia caso a caso, devido a fatores clínicos e moleculares.
“A literatura ainda apresenta resultados muito controversos no que diz respeito ao tratamento de pacientes com câncer de pâncreas. Assim, ao incluir todos os ensaios clínicos existentes em nossa metanálise, foi possível identificar quais intervenções, de fato, são ou não positivas para esses pacientes”, pontua. Usón Júnior relembra, no entanto, que precisam ser desenvolvidos melhores métodos para estratificar os pacientes que devem ser submetidos a tratamentos neoadjuvantes, como avaliação do DNA tumoral circulante e avaliação de doença residual.
Os resultados da metanálise vão ao encontro dos achados de outro estudo conduzido pelo pesquisador no Einstein, com pacientes atendidos entre janeiro de 2016 e dezembro de 2020. Na ocasião, 216 participantes foram divididos em grupos diferentes, conforme estágio da doença, idade, gênero. Considerando os dois grupos, pacientes tratados com cirurgia inicial tiveram sobrevida média de 28 meses. Já nos pacientes tratados com tratamento neoadjuvante a sobrevida média foi de 15 meses.
“Em ambos os estudos, observamos que, independentemente do caso, a intervenção cirúrgica foi o único fator associado à melhora de sobrevida do paciente”, comenta.