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Busca por enfermeiros gera atrito entre Alemanha e Brasil

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Após pressão de Brasília, agência do governo alemão suspendeu seleção de enfermeiros brasileiros que desejam trabalhar no país europeu. Oportunidade de evolução profissional ou perda de trabalhadores qualificados?

A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e uma comitiva de ministros a Berlim, em dezembro, teve elogios recíprocos e aprofundamento de parcerias, mas um tema provocou mal-estar entre os dois países: os esforços da Alemanha para atrair enfermeiros brasileiros.

O país europeu projeta um déficit de ao menos 280 mil enfermeiros nos próximos 25 anos, e uma das apostas de Berlim para preencher as vagas é contratar profissionais do exterior. Mas o ministro do Trabalho do Brasil, Luiz Marinho, não gostou da forma como a Alemanha vinha tentando atrair os brasileiros.

Ele reclamou com o ministro alemão do Trabalho, Hubertus Heil, em uma reunião privada entre os dois em Berlim em dezembro, e tornou pública a insatisfação no programa Café com o Presidente: “Estávamos com um problema relacionado com a intenção da Alemanha de trazer trabalhadores da enfermagem para trabalhar aqui na Alemanha. Mas não adotaram os procedimentos que nós tínhamos combinado”, disse.

Qual é o conflito

Marinho e Heil assinaram em junho de 2023, em Brasília, um memorando de entendimento para estabelecer uma cooperação futura entre os dois países sobre migração de mão de obra qualificada. Mas, antes disso, Berlim já tinha outros canais para atrair enfermeiros do Brasil, em especial por meio de iniciativas desde 2018 da Agência Federal de Emprego alemã (Bundesagentur für Arbeit – BfA), que assinou um acordo com o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) em junho de 2022 para aprofundar esse recrutamento.

O Ministério do Trabalho brasileiro disse à DW que tinha a expectativa de que, após a assinatura do memorando de entendimento, o governo federal alemão suspendesse as iniciativas para atração de enfermeiros brasileiros até que a cooperação fosse estabelecida. Marinho pressionou para que o acordo entre a BfA e o Cofen fosse suspenso, o que ocorreu no final de 2023.

A suspensão do acordo também havia sido solicitada pela Federação Nacional dos Enfermeiros, que representa 15 sindicatos estaduais da categoria.

Desde então, o Ministério do Trabalho, o Cofen e entidades que representam os enfermeiros seguem realizando conversas sobre o tema. Marinho conduziu em março uma reunião a respeito, mas não há previsão de se e quando será firmado um novo acordo com balizas para a migração de enfermeiros brasileiros para o país europeu.

A BfA suspendeu a partir de janeiro novos programas de seleção de enfermeiros brasileiros. Enquanto isso, Berlim segue procurando parcerias do tipo com outros países – em março, o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, tratou do tema diretamente com o presidente da Filipinas, Ferdinand Marcos Jr.

Quais são os números

O Brasil tem 741 mil enfermeiros inscritos na atividade, além de 1,8 milhão de técnicos de enfermagem, segundo dados do Cofen. Os enfermeiros fazem curso de bacharelado, que dura cerca de cinco anos, enquanto os técnicos fazem uma formação de cerca de dois anos.

O país forma cerca de 50 mil novos enfermeiros por ano. Em 2022, segundo o Censo da Educação Superior feito pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), 51.348 novos enfermeiros receberam o diploma. No mesmo ano, o Cofen registrou a inscrição de 49.489 novos enfermeiros na atividade – além de 133.992 novos técnicos de enfermagem.

Na Alemanha, a enfermagem é uma profissão de nível técnico, com formação de três anos e menor autonomia e complexidade nas tarefas hospitalares. Em junho de 2023, o país europeu tinha 1,2 milhões de enfermeiros na ativa, dos quais 140.329 (12%) não eram alemães. A participação de brasileiros vem crescendo, mas é muito baixa: 1.252 eram do Brasil, ou 0,1% do total, segundo dados da BfA.

Devido à natureza diferente da formação em enfermagem no Brasil e na Alemanha, a comparação direta entre os números de enfermeiros é problemática. Uma aproximação, também imprecisa, é comparar a soma de enfermeiros e técnicos de enfermagem no Brasil com o número de enfermeiros na Alemanha. Nesse cálculo, o Brasil tem 11,8 desses profissionais de saúde a cada mil habitantes, enquanto a Alemanha tem 14,2 enfermeiros a cada mil habitantes.

Em 2023, o governo alemão informou que tinha a intenção de atrair até 700 enfermeiros brasileiros por ano para trabalhar no país.

Como funciona a migração de enfermeiros

Durante a vigência do acordo com o Cofen, a BfA anunciava periodicamente processos seletivos para enfermeiros brasileiros que desejavam migrar para a Alemanha. Os candidatos selecionados recebiam curso de alemão gratuito e uma bolsa mensal de 500 euros mensais (R$ 2.800) pelo período de 8 a 12 meses, para se dedicar exclusivamente ao aprendizado do idioma, até obter o certificado do nível intermediário B1.

Os enfermeiros depois se mudavam para a Alemanha, com voo custeado pelo recrutador e um visto com duração de até três anos para reconhecimento parcial de formação profissional. Eles eram inicialmente contratados por hospitais alemães como assistentes de cuidados – em uma seleção realizada em agosto de 2023, o salário bruto para essa função era de 2.540 euros (R$ 14 mil).

Por até 12 meses, os enfermeiros seguiam realizando curso de alemão gratuito, para alcançar o nível B2, e acumulavam o trabalho como assistentes de cuidados com a preparação para o exame prático e teórico de reconhecimento do diploma na Alemanha. Os profissionais tinham até três anos após a chegada ao país para serem aprovados nesse exame e, então, serem contratados como enfermeiros. Se não concluíssem o processo no período, ficariam sem visto e precisariam retornar ao Brasil.

Os enfermeiros que desejam migrar para a Alemanha ainda podem seguir esse roteiro, porém sem a atuação da BfA e do Cofen, mas individualmente ou por meio de processos de agências de recrutamento privadas, como já ocorre há alguns anos.

Algumas dessas agências foram alvo no passado de denúncias de assédio moral e desrespeito de direitos de enfermeiros que migraram para a Alemanha – um dos motivos que levaram o governo alemão a buscar o acordo formal de cooperação.

Um dos problemas denunciados era a exigência, por alguns recrutadores, de que o candidato devolvesse o valor do curso de alemão, da passagem e dos procedimentos de reconhecimento de documentos se decidisse rescindir o contrato – o que criava altas dívidas em euro para os enfermeiros que não se adaptassem e decidissem voltar ao Brasil durante o processo. Essa prática havia sido proibida no acordo entre a BfA e o Cofen.

Cofen via “oportunidade” para quem desejasse morar fora

O Cofen afirmou à DW que assinou o convênio com a BfA após ter sido procurado pelas autoridades alemãs, e indicado como o órgão competente para tal pelos ministérios da Saúde e do Trabalho do então governo Jair Bolsonaro.

Alberto Cabral, assessor legislativo do Cofen, disse que o órgão via o acordo como vantajoso para a categoria, pois estabelecia cláusulas e direitos para os profissionais e facilitava o caminho para os que tinham vontade de ter uma experiência internacional.

“Uma oportunidade para enfermeiros que quisessem morar em outro país, com certeza de boa remuneração e com a possibilidade de se desenvolver pessoalmente e profissionalmente”, diz. Ele afirma que, na primeira rodada de seleção sob o acordo, havia 150 vagas e 5 mil currículos foram enviados.

“O Brasil tem uma capilaridade extraordinária de instituições de ensino superior e mão de obra excedente na enfermagem. Podemos contribuir com outras nações, assim como recebemos de outras, como pelo [programa] Mais Médicos reeditado no governo Lula”, disse Cabral.

Governo reclama de “perda de trabalhadores qualificados”

O Ministério do Trabalho brasileiro tem uma visão diferente. Maíra Lacerda, chefe da assessoria especial de assuntos internacionais da pasta, disse à DW que o Cofen, por não ser uma entidade sindical, não tinha legitimidade para assinar um acordo do tipo, e que o governo recebeu reclamações de enfermeiros que migraram para a Alemanha, citando problemas como o fato de os profissionais serem inicialmente contratados como assistentes de cuidado.

“A formação de enfermeiro é muito forte no Brasil, uma graduação longa, com residência. É claro que os trabalhadores têm direito de ir aonde quiserem, mas temos resistência a perder trabalhadores qualificados”, disse Lacerda. Ela também questionou o argumento do Cofen de que o Brasil teria excedente de enfermeiros.

“Se outros países estão precisando de pessoal qualificado, por que não pegam pessoas em locais de vulnerabilidade e dão formação e as levam para trabalhar lá? Por que vir aqui buscar um profissional que está pronto, formado, com investimento do governo brasileiro, e levar para lá sem contrapartida?”, questionou.

Sua declaração reflete uma visão majoritária no atual governo federal sobre a mobilidade internacional de trabalhadores. No final de abril, Lula também criticou a americana Boeing por contratar engenheiros brasileiros. “Não é honesto vir aqui e roubar nossos engenheiros, sem gastar um centavo para formá-los”, afirmou o presidente na ocasião.

A presidente da Federação Nacional dos Enfermeiros, Solange Caetano, disse à DW que o acordo “não era bom para os trabalhadores”. Ela criticou a falta de referências sobre a preparação para se adaptar a uma cultura diferente da brasileira, e o fato de o enfermeiro permanecer na Alemanha por até três anos aguardando a validação do diploma e, enquanto isso, trabalhando como cuidador, o que, segundo ela, seria “subemprego”.

Caetano também disse que não há desemprego na categoria, mas uma má distribuição dos profissionais, concentrados nos grandes centros urbanos e escassos nas áreas remotas. “Se o trabalhador quiser migrar, ok, a gente apoia desde que tenha condições garantidas, mas não estimulamos nem achamos que tem que ser estimulado.”

Alemanha: acordo oferecia migração “regulada, justa e ética”

A BfA afirmou à DW, por meio de nota, que “lamenta” a suspensão do acordo com o Cofen e entende que ele oferecia um mecanismo confiável para a “migração de trabalhadores de forma regulada, justa e ética, de acordo com padrões internacionais”.

A agência alemã ressaltou que não tem a intenção de provocar “fuga de cérebros” de outros países, que respeita as preocupações do governo brasileiro e que interrompeu novas iniciativas de recrutamento após a suspensão do acordo. A BfA afirmou ainda que recebeu indicações do governo brasileiro de que as conversas sobre uma nova cooperação seguirão no segundo semestre de 2024, mas não comenta negociações em andamento.

O Ministério do Trabalho e Assuntos Sociais alemão afirmou à DW que considera de “alta prioridade” a implementação do memorando de entendimento com o Brasil sobre migração de mão de obra qualificada. “É importante promover um intercâmbio no qual os dois países, assim como seus trabalhadores, beneficiem-se, e por meio do qual a imigração de mão de obra do Brasil seja intensificada.”

A pasta ressalta que a maior parte da migração de trabalhadores ocorre de forma autônoma, por meio de canais privados de seleção, e que o governo alemão desenvolveu um selo de qualidade que obriga as agências privadas de recrutamento a conduzirem o processo de forma justa e transparente.

“Segurança financeira e moradia”

Yasmin Casini, de 32 anos, é uma enfermeira brasileira que decidiu migrar para o país europeu. Natural do Rio de Janeiro, ela se mudou em 2017 para Kiel, no norte da Alemanha, e relata à DW que a experiência teve “pontos positivos e negativos”.

Formada pela Universidade Federal Fluminense, ela teve dificuldades para se inserir no mercado de trabalho e estava há três anos desempregada quando viu o anúncio de uma empresa de recrutamento alemã. “Nunca tinha pensado em morar na Alemanha, não falava nada de alemão, mas me interessei”, diz.

Ela se inscreveu no processo, foi selecionada e fez curso de alemão por cinco meses no Brasil, pago pelo recrutador. Em Kiel, ela foi contratada por um salário de auxiliar de enfermagem até que passasse na prova de reconhecimento de diploma, o que levou sete meses no seu caso, e depois efetivou-se como enfermeira.

Nos sete anos em que mora na Alemanha, ela se casou – com o namorado brasileiro que tinha antes de se mudar – teve um filho e diz ter hoje uma vida “relativamente segura”. “Consigo prover para a minha família, tenho segurança e moradia, por isso não me vejo voltando para o Brasil, onde não consegui nem meu primeiro emprego.”

Mas nem tudo é simples, e ela também ressalta as dificuldades de morar em outro país. Ela diz ter sofrido episódios de xenofobia, inclusive no hospital onde trabalha, de colegas e de pacientes, como comentários de que brasileiros só saberiam “sambar e fazer carnaval” ou de que seu objetivo mesmo era “casar com um alemão”.

Ela vê com bons olhos a ideia de um acordo entre autoridades alemães e brasileiras que ofereça mais proteção a quem está chegando. E tem uma sugestão: que ele inclua a necessidade de orientar os candidatos sobre como lidar com a xenofobia e a quem recorrer nesses casos.

“Boa experiência internacional, mas decidi voltar”

Camila Ferreira, 31 anos, também migrou para trabalhar como enfermeira na Alemanha, mas voltou para o Brasil após três anos e meio. Formada em 2014, ela teve dificuldade para encontrar o primeiro emprego e conhecia uma tutora da residência que migrou para a Alemanha. Decidiu então seguir o mesmo caminho, em busca de uma “experiência internacional”.

Depois de seis meses de curso de alemão no Brasil, custeados pela recrutadora, ela se mudou em 2019 para Lübeck, no norte da Alemanha. Ferreira pontua que, na questão salarial, a Alemanha “está muito à frente do Brasil”, mas que o trabalho em si como enfermeira é mais básico. “No Brasil, é enfermeira que punciona a veia, instala a quimioterapia, coloca cateter. Na Alemanha, é o médico”, exemplifica.

Ela validou seu diploma oito meses após chegar em Lübeck e foi contratada como enfermeira, mas sentia que recebia um tratamento diferente por ser estrangeira e que passou a não tolerar mais “comentário xenófobo em tom de brincadeira”. “Talvez por eu ter ido para uma cidade pequena, isso tinha uma proporção maior. Mas foi o principal motivo que me fez voltar”, diz.

Em retrospectiva, ela afirma que a experiência também teve aspectos positivos, como “ter condições para visitar vários países e levar minha família para conhecê-los” e ampliar seu horizonte cultural. “Cresci como ser humano, financeiramente é muito bom, mas a sensação deles te lembrarem o tempo todo de que você não pertence àquele lugar faz muita gente querer desistir.”

Outro brasileiro com uma visão interna do setor na Alemanha é Luciano Rossetto, que trabalha como auxiliar de enfermagem há 11 anos no país. Hoje no Charité, em Berlim, ele diz que os hospitais alemães que contratam enfermeiros brasileiros costumam indicar mentores para os acompanharem na adaptação, mas que muitos não têm tempo suficiente para se dedicar a esse treinamento diante da alta pressão do ambiente hospitalar.

Ele também avalia que o nível intermediário B1 de alemão, com os quais os enfermeiros brasileiros hoje podem começar a trabalhar como assistentes de cuidado, é insuficiente para uma comunicação adequada e adiciona mais pressão na fase de chegada.

Por Bruno Lopin

Créditos: https://amp.dw.com/pt-br/busca-por-enfermeiros-gera-atrito-entre-alemanha-e-brasil/a-69140257

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ABSS e o Distrito firmam parceria para fomentar mercado de healthtechs

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A Associação Brasileira de Startups de Saúde e HealthTechs (ABSS) e o Distrito, plataforma de tecnologias emergentes, acabam de firmar uma parceria para impulsionar e fomentar o crescimento no segmento de healthtechs no Brasil.

“O Distrito já é uma referência em dados de startups para todos os segmentos. Para o setor de saúde não é diferente. Graças ao trabalho de pesquisa do Distrito sabemos que as startups e healthtechs triplicaram na América Latina nos últimos 10 anos. Saímos de um patamar de 315 startups/healthtechs no ano de 2013 para mais de 1241 em 2023, de acordo com o relatório da empresa em 2023”, comenta Bruno Borghi, presidente da ABSS. “Além disso, a solução do Distrito de capacitação, estratégia e gestão e inteligência de mercado pode auxiliar muitas startups em termos de maturidade e resultados de negócios”, complementa.

Para ampliar o valor para seus associados, a ABSS irá buscar novos parceiros, treinamentos e principalmente mentores especializados em healthtechs, para cadastrá-los na plataforma do Distrito. Desta maneira, os associados terão acesso a conhecimento especializado para lidar com as dores do setor, que tem muitas particularidades, desde temas regulatórios até modelos de remuneração.

O Distrito monitora em seu ecossistema mais de 38 mil startups na América Latina e possui parceria com mais de 120 investidores anjos e Venture Capitals. “O setor de healthtech, que é um dos que mais cresce no Brasil, pode se beneficiar muito com a aproximação de investidores, corporações e startups associadas da ABSS. Acreditamos que parcerias como essa colaboram para impulsionar o desenvolvimento do ecossistema e estamos comprometidos nesse propósito junto a ABSS”, afirma Gustavo Gierun, CEO do Distrito.

O diretor executivo da ABSS, Guilherme Sakajiri, acredita que o espaço para o segmento crescer é muito maior do que o imaginado. “Segundo o Global Market Insights prevê que até 2032 o mercado mundial atinja US$ 981,5 bilhões. Os dados do Distrito mostram que, no Brasil, o desenvolvimento está concentrado em três áreas macro: redução das ineficiências do setor, Telemedicina e Integração de dados”, conclui.

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Estudo da FDC demonstra invisibilidade da pauta do envelhecimento em investimentos sociais privados

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Segundo dados do Censo GIFE, em 2022, foram R$ 4,8 bilhões de Investimento Social Privado no Brasil, ou seja, mobilização de recursos privados para fins públicos, realizado de forma planejada, monitorada e sistemática para iniciativas sociais, ambientais, culturais e científicas de interesse público. Destes, somente 10% foram destinados às leis de incentivo fiscal, que têm um papel fundamental no financiamento para a transformação social positiva no Brasil. E, quando adentramos nesse universo, uma porcentagem mínima vai para a população 60+: por exemplo, apenas 26% no uso de leis federais.

Atualmente, já são mais de 36 milhões de brasileiros acima de 60 anos e, em 2050, o Brasil será o sexto país mais velho do mundo, segundo o IBGE. Enquanto a França levou 115 anos para dobrar de 7% para 14% a proporção de população 60+ na população, o Brasil fez isso em menos de 20 anos. Estamos envelhecendo muito rápido e é preciso preparar a sociedade e as organizações para essa mudança no padrão demográfico.

Há oportunidades de investimento direto e via leis de incentivo fiscal que poderiam beneficiar a população idosa, mas que ainda são desconhecidas pelas empresas. É o que mostra o novo estudo “Investimentos Sociais Privados e a Longevidade”, do FDC Longevidade, uma plataforma da Fundação Dom Cabral de geração e disseminação de conhecimento sobre o tema longevidade.

“A Fundação Dom Cabral como escola de negócios está atenta à contribuição e oportunidades que a população idosa no Brasil apresenta. Estamos deixando de ser um país de jovens para apresentar um crescimento significativo da população 60+ que, na maioria dos casos, é produtiva e participativa na vida social, política e econômica do nosso país. Por esta razão, estudos desta magnitude são fundamentais para que possamos entender todas as possibilidades e necessidades desta população”, afirma Paula Simões, vice-presidente de Conhecimento e Aprendizagem da FDC.

Segundo o levantamento, seja em nível federal, estadual ou municipal, o foco das leis de incentivo fiscais utilizadas pelas empresas está no setor da Cultura e no público jovem. A Lei Rouanet/Lei de Incentivo à Cultura é a mais popular entre as empresas que investem em alguma lei de incentivo federal (62%). Por outro lado, somente 26% das organizações desse grupo utilizam o Fundo do Idoso. Nas leis de incentivo estaduais, esse número cai para 3%.

“Se, por um lado, as empresas que investem no social têm ganhos na imagem da sua marca, conseguem atrair os melhores talentos e manter relacionamentos mais profundos com seus clientes, por outro, elas criam vantagens competitivas sólidas, reduzem seus riscos reputacionais e garantem sustentabilidade dos seus negócios no longo prazo”, coloca a vice-presidente da Educação Social, Ana Carolina de Almeida.

Segundo a professora associada da FDC e coordenadora do FDC Longevidade, Michelle Queiroz Coelho, as empresas que atendem aos requisitos da lei poderiam fazer suas doações abatendo 100% do imposto de renda e, logo, seriam milhões de reais todos os anos investidos se os fundos dos idosos e conselhos tivessem regulamentados e se as empresas optassem por essa agenda. “Com este estudo temos a oportunidade de apresentar a um público maior um mecanismo desenhado exatamente para canalizar recursos para projetos que buscam cuidar dos maduros no Brasil: o Fundo do Idoso”, conclui.

Fundo do Idoso

O Fundo do Idoso capta recursos financeiros para serem investidos em ações que promovam o bem-estar e a qualidade de vida de pessoas 60+, sobretudo aquelas em situação de vulnerabilidade social e econômica.

Com o envelhecimento da população em crescimento, o país tem uma janela ideal para a criação de Fundos do Idoso em todos os municípios. Em 2022, somente 19% dos municípios brasileiros tinham fundos regularizados, embora este número cresça em boa velocidade: apenas dois anos antes ele era de 7%.

De acordo com levantamento da Nexo Investimento Social, apenas 436 dos 5.570 municípios brasileiros receberam recursos via Fundo do Idoso em 2021.

Em volume de recursos, a região Sudeste concentrou 56% dos valores e recebeu recursos em 204 fundos, enquanto a Norte recebeu somente 2% dos aportes em 10 fundos. Os estados do Amapá, Amazonas, Rondônia e Roraima sequer receberam recursos desse mecanismo.

Mesmo entre os municípios e Estados que passaram pela primeira etapa para conseguir mobilizar recursos via fundos – ou seja, constituíram um conselho -, somente 14% efetivaram o recebimento de recursos.

Na outra ponta destes investimentos e realizando, de fato, as ações sociais, somente 13% de organizações da sociedade civil (OSC) trabalham com impacto direto sobre a população 60+. Os maiores números ficam com adolescentes e jovens, de 15 a 29 anos, cerca de 45%. O estudo revela ainda que o público idoso não é considerado prioridade em 59% das organizações.

BASIS

“Ao mesmo tempo em que a longevidade representa uma ótima notícia, já que estamos vivendo mais, ela também exige um enorme esforço de adaptação”, contextualiza Ana Carolina. Por meio de incentivo fiscal do Fundo do Idoso, a Educação Social da FDC está capacitando gestores de OSCs e líderes sociais de instituições que atuam com a população idosa em Belo Horizonte por meio do programa BASIS. “A ideia é conectar o nobre propósito dessas instituições com práticas de gestão, governança e estratégia de mobilização de recursos visando apoiá-las para que possam ser sustentáveis”, explica a vice-presidente.

Cerca de 85 organizações da sociedade civil estão realizando o BASIS. Até o final do ano de 2024, a expectativa da Fundação Dom Cabral é capacitar 500 gestores em 14 turmas, impactando cerca de 100 organizações.

As capacitações acontecem, de forma gratuita, por meio de fomento da Prefeitura de Belo Horizonte, Conselho Municipal do Idoso e Fundo Municipal do Idoso, com patrocínio da B3, BrasilPrev, Cemig, Instituto Unimed BH, Instituto Votorantim e Usiminas. O estudo “Investimentos Sociais Privados e a Longevidade” também faz parte das ações envolvidas neste fomento em prol do público idoso na capital mineira.

Além dos dados da pesquisa, o e-book traz entrevistas com Stefane Rabelo, CEO na Nexo Investimento Social e Fundadora da Rede Igapó; Ana Carolina Almeida, vice-presidente de Educação Social da Fundação Dom Cabral; Gelton Pinto Coelho, economista e presidente do Conselho Municipal da Pessoa Idosa de Belo Horizonte; Luiza Ribeiro Fagundes, gerente de projetos da Fundação Dom Cabral; e Dra. Mercês Fróes, diretora de Relacionamento com os cooperados da Unimed.

A íntegra do e-book pode ser consultada aqui.

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TJSP mantém absolvição de Santa Casa em caso de erro médico

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O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP) manteve a decisão que não reconheceu responsabilidade da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Mogi Mirim e de dois médicos, acusados de erro médico pela mãe de um paciente psiquiátrico. A autora buscava indenização por danos morais, alegando que falhas em atendimentos hospitalares dedicado teriam levado ao óbito de seu filho.

Na decisão inicial, os pedidos de mãe do paciente foram julgados improcedentes porque o tribunal entendeu que não houve falhas no atendimento médico prestado e concluiu que não havia elementos suficientes para comprovar a alegação de erro médico. A autora recorreu e, durante a análise do recurso, os desembargadores argumentaram que o laudo pericial concluiu que não havia elementos que indicassem a necessidade de internação do paciente, como sua mãe sugeriu na ação, e que não havia nexo causal entre os atendimentos médicos e o óbito.

Além disso, havia informações no prontuário indicando que havia resistência do paciente ao atendimento médico, corroborando a hipótese de culpa exclusiva da vítima. A autora foi condenada a arcar com as custas processuais e honorários advocatícios.

O advogado Idalvo Matos, do escritório BMF Advogados Associados, que representou um dos médicos processados, explica que a decisão é uma boa notícia para a defesa dos profissionais de saúde, que muitas vezes são injustamente acusados de erro médico. “No caso em questão, demonstramos que os protocolos médicos foram seguidos rigorosamente. A perícia médica confirmou que não houve negligência ou imprudência por parte dos médicos envolvidos. É fundamental entender que a medicina não é uma ciência exata e que nem sempre um resultado negativo é indicação de um erro do profissional”, comenta.

Desafios legais

O advogado explica que a dificuldade em provar erro médico muitas vezes decorre da falta de cuidado do paciente e de sua defesa em coletar todas as informações necessárias do caso para verificar sua viabilidade antes de entrar com uma ação. “Muitos acreditam que é o médico é sempre quem deve provar a ausência de erro, mas é essencial que o paciente obtenha seu prontuário e consulte um outro profissional médico para obter evidências de erro. Além disso, é fundamental que o advogado e o paciente verifiquem os protocolos de atendimento e tratamento relevantes. Sem essa preparação inicial, a ação pode falhar devido à falta de provas concretas”, explica Matos.

Matos explica que a prova pericial é crucial para determinar se houve erro médico. “No entanto, é importante lembrar que a responsabilidade civil do médico só é configurada se houver prova de culpa, mesmo que tenha ocorrido um resultado negativo. A percepção de um tratamento malsucedido não é suficiente para estabelecer a culpa do médico, mas sim um erro encontrado diante de evidências”, acrescenta o advogado.

Judicialização crescente

A judicialização da saúde é um fenômeno crescente na sociedade brasileira. Segundo o Conselho Nacional de Justiça, há uma média de 1,02 processo por médico no Brasil. “Esse tema é delicado pois envolve a expectativa de cura e a realidade das limitações médicas. É essencial que o Judiciário avalie cuidadosamente cada caso, considerando as informações contidas nos documentos médicos, de laudos periciais e depoimentos de testemunhas, para garantir que a justiça seja feita sem prejudicar indevidamente os profissionais de saúde. Decisões como essa ajudam a estabelecer um equilíbrio entre as expectativas dos pacientes e a realidade da prática médica”, completa Matos.

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