Ansiedade, insônia e depressão estão muito presentes na população dos pequenos municípios às margens do rio Solimões
Acadêmicos de Medicina da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná (Fempar) participaram de uma missão humanitária, entre os dias 28 de julho e 3 de agosto, prestando assistência para duas comunidades ribeirinhas da Amazônia. Durante 7 dias, a expedição Amazon Vida percorreu em um barco-hospital a Vila do Jacaré e a Vila do Cuia – ambas às margens do rio Solimões. Foram atendidos 395 pacientes, entre crianças, adolescentes e adultos.
Entre as doenças detectadas, chamou a atenção a presença de insônia, ansiedade e depressão, que o coordenador da missão, Dr. Luiz Antonio da Silva Sá, chamou de a “tríade nefasta do século XXI”.
“As pessoas têm a impressão de que moradores de locais mais próximos à natureza não têm insônia, ansiedade e depressão, contudo vimos aqui que essa tríade assola também as comunidades ribeirinhas, com situações até de maior gravidade”, conta Sá.
O objetivo da expedição coordenada por Sá foi levar qualidade de vida para moradores de regiões isoladas, além de proporcionar experiência humanitária para futuros médicos. Participaram nove estudantes do 9⁰ ao 11⁰ período do curso, e também a pediatra Wilma Lilia de Castro, professora da Fempar.
“É uma experiência transformadora, pelos conhecimentos adquiridos de uma realidade diferente e por terem a chance de se doarem e fazerem o bem a essas comunidades que têm muitas carências. Foi um trabalho altruísta com repercussões positivas para suas futuras vidas profissionais”, destaca Sá.
De acordo com o médico, além das questões de saúde mental, a população das duas vilas enfrenta uma série de dificuldades como hipertensão, diabetes, colesterol elevado, além de doenças de pele agora na época de seca e doenças contagiosas, principalmente a giardíase.
Além de médicos e estudantes de medicina, também estiveram presentes dentistas, enfermeiras, fisioterapeutas, biólogos, professores e alunos dos cursos de Farmácia, Biologia, Fisioterapia e Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).
15 horas de barco
Após voarem até Manaus, os integrantes da expedição viajaram rio acima no barco J.J. Mesquita, pertencente à Igreja Presbiteriana de Manaus, até chegar primeiramente na Vila do Jacaré, no município de Manacapuru. O barco é equipado com farmácia, quatro consultórios, mesa de parto e outras cirurgias, bem como todo aparato para atendimentos de emergência.
Além dos atendimentos médicos e assistenciais no barco, também foram realizadas ações de prevenção e educação, tanto no barco como nos domicílios. Após dois dias na Vila do Jacaré, a expedição seguiu para a Vila do Cuia, no município de Anamã, totalizando 15 horas de viagem de barco.
A estudante Jennifer Ferro, 24 anos, conta que chegou indecisa mas voltou da missão resolvida em relação à especialidade que pretende seguir. “Me chamou muita atenção a chegada de uma criança queimada. Foi desafiador, porque no barco não tem internet e tivemos que usar nossos conhecimentos para manejar o menino. Fiquei pensando o que teria acontecido com ele se não estivéssemos lá. Voltei decidida a ser pediatra”, conta a jovem.
Sobre a experiência pessoal e profissional ela afirma que mudou a sua vida. “Fui motivada para vivenciar uma medicina de atendimento completo, de conhecer a história dos pacientes, entender a realidade deles. São pessoas que não contam com atendimento médico sempre, vêm equipes uma vez por mês. Foram aprendizados que nenhum outro estágio consegue fornecer. A gratidão das pessoas pelo nosso projeto foi algo lindo”, ressalta a acadêmica da Fempar.
Gestação na adolescência
A pediatra e professora da Fempar, Dra. Wilma Lilia de Castro realizou atendimentos e atividades de orientação nas duas comunidades. Ela conta que existe uma preocupação com o elevado número de gestações na adolescência.
“Há casos de adolescentes de 17 anos gestando o segundo filho, então procuramos realizar um trabalho de educação em saúde e planejamento familiar. Importante fazer a nossa parte para ajudá-los e também poder mostrar aos estudantes um estilo de vida completamente diferente ao que eles estão acostumados”, destaca a médica.
Amazon Vida
O projeto Amazon Vida é desenvolvido pelo Serviço Estudantil de Responsabilidade Social (SER SOCIAL), um programa de intercâmbio socioeducacional que cria pontes entre a comunidade do Instituto Presbiteriano Mackenzie (IPM) e instituições sociais para o desenvolvimento de comunidades das diversas regiões brasileiras, visando a transformação social por meio de ações humanitárias.
Para a diretora geral da Fempar, Dra Carmen Marcondes Ribas, o voluntariado educativo contribui para o processo de ensino e aprendizagem, e para um sentimento de realização pessoal e responsabilidade social. “O estudante de medicina sendo protagonista da sua trajetória de formação e desenvolvendo juntamente com seus professores a importância da qualidade do cuidado”, afirma.