Pesquisas de ponta em biotecnologia, especialmente aquelas relacionadas à manipulação genética de microrganismos, têm o potencial de revolucionar campos como medicina, agricultura e indústria. Entretanto, segundo um renomado cientista laureado com o Prêmio Nobel, existe uma preocupação crescente acerca das chamadas “bactérias espelho” — organismos que podem ser projetados em laboratório para possuir uma forma “invertida” ou “espelhada” de suas biomoléculas naturais, tornando-os resistentes a enzimas e antibióticos convencionais.
O que são bactérias espelho?
Essas bactérias são concebidas com moléculas “canhotas” ou “destras” (no jargão químico, chamadas de enantiômeros), em vez da forma predominante na natureza. Isso significa que, caso escapem para o ambiente ou sofram mutações indesejadas, poderiam não ser afetadas pelas defesas naturais do organismo humano ou pelos medicamentos existentes, já que todo o nosso metabolismo é calibrado para interagir com os enantiômeros “naturais”.
Riscos e possibilidades
- Resistência a antibióticos: Uma bactéria invertida, em teoria, poderia contornar as estruturas que os antibióticos atacam, dificultando o tratamento de infecções.
- Fuga de laboratório: Assim como ocorre com qualquer microrganismo geneticamente modificado, há o temor de que tais organismos sejam liberados acidentalmente, o que poderia trazer consequências imprevisíveis para ecossistemas e para a saúde pública.
- Aplicações benéficas: Por outro lado, os cientistas acreditam que a engenharia de bactérias espelho pode gerar avanços em vacinas, biodegradação de poluentes e até produção de compostos terapêuticos, desde que haja controle rigoroso e regulamentação específica.
Importância da regulação e da transparência
O alerta do laureado com o Nobel reforça a urgência em estabelecer regras claras para pesquisa e desenvolvimento de organismos modificados, sobretudo aqueles com potencial de ultrapassar as barreiras naturais do nosso sistema biológico. A transparência nos estudos e a colaboração internacional são pontos cruciais para garantir que a ciência não se torne uma ameaça, mas permaneça como uma aliada no combate a doenças e na promoção de avanços sustentáveis.
O papel da comunidade científica e do poder público
Para lidar com as incertezas e os riscos, será necessário um esforço conjunto que envolva universidades, agências reguladoras, organizações de saúde e governos. A implementação de protocolos de biossegurança mais rigorosos, a realização de estudos de impacto ambiental e a conscientização social podem ajudar a mitigar os perigos sem impedir o progresso científico. A discussão também deve incluir questões éticas, assegurando que os benefícios sejam amplamente partilhados e não gerem novos desequilíbrios.
Fonte: Época Negócios – Cientista ganhador do Prêmio Nobel alerta contra o risco de ‘bactérias espelho’ criadas em laboratório