O setor de saúde privada no Brasil atravessa uma fase de consolidação inédita. Hospitais e laboratórios regionais têm se transformado em redes nacionais por meio de fusões e aquisições multimilionárias. Liderando esse movimento, a Rede D’Or São Luiz anunciou um investimento de R$ 7,5 bilhões até 2028 para expandir sua capacidade em 46%, adicionando 5.400 novos leitos. Com caixa robusto de R$ 17,5 bilhões, a empresa projeta realizar aquisições de até R$ 10 bilhões nos próximos anos, firmando-se como gigante do setor.
Por outro lado, o Grupo Mater Dei, de Belo Horizonte, adotou uma postura mais seletiva. Após aquisições significativas em 2021 e 2022, iniciou um processo de racionalização, vendendo 70% da participação no Hospital Porto Dias, em Belém, por R$ 410 milhões, para reduzir alavancagem e ajustar seu foco estratégico. Ainda assim, mantém presença em mercados estratégicos como Salvador e São Paulo.
Integração Vertical: O Diferencial Competitivo
Além da expansão territorial, os grandes grupos investem na integração vertical — unindo hospitais, clínicas, laboratórios e planos de saúde em ecossistemas completos. A Dasa, hoje Rede Américas, exemplifica essa tendência ao consolidar unidades e plataformas digitais para oferecer cuidado contínuo, do diagnóstico à alta complexidade. Essa estratégia visa ganhos operacionais, fidelização de pacientes e maior previsibilidade financeira, atendendo à demanda por eficiência e a um consumidor cada vez mais digital e exigente.
Cláudio Lottenberg, presidente do conselho do Instituto Coalizão Saúde, reforça:
“A integração vertical promove escalabilidade e controle de custos, elementos valorizados pelo mercado financeiro.”
Sinais de Cautela no Ritmo de Fusões e Aquisições
Apesar do ímpeto, o setor mostra sinais de desaceleração. Um relatório da KPMG apontou queda de 15% nas fusões e aquisições hospitalares e laboratoriais no terceiro trimestre de 2024 em comparação ao mesmo período do ano anterior, com retração ainda maior de 44% em análises clínicas. Esse recuo é atribuído ao aumento do custo de capital, desafios operacionais na integração e foco em consolidar aquisições já feitas.
Impactos no Mercado e para os Pacientes
A concentração traz benefícios como padronização, poder de negociação e maior eficiência. Contudo, preocupa entidades como o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), que alertam para riscos de aumento de preços e redução da oferta em regiões dominadas por um único grupo.
Para investidores, o cenário é promissor, impulsionado pelo envelhecimento da população, maior demanda por planos de saúde e avanços tecnológicos. O desafio está em equilibrar crescimento com governança e qualidade assistencial para garantir sustentabilidade