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O que as healthtechs de planos de saúde estão mirando em 2024?

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O cenário de crise na saúde suplementar ao longo de 2022 e 2023, com os custos refletindo na alta sinistralidade do setor, que fechou no acumulado dos três primeiros trimestres do ano passado por volta de 88,2%, de acordo com dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), impôs mudanças estratégicas para que as operadoras se tornassem mais eficientes. Com as healthtechs de planos de saúde não foi diferente.

Depois do boom de startups que ocorreu entre 2020 e 2021, período em que receberam grandes investimentos para comprovar teses inovadoras, o cenário mundial acabou tornando os investidores mais criteriosos na hora de aplicar seu dinheiro. Principalmente em um mundo pós-pandemia, com altas taxas de juros e recursos mais limitados, as empresas precisaram mostrar resultados para o mercado e sua resiliência frente às adversidades.

Com a proposta de novos modelos de cuidado, uso de tecnologia e proximidade na relação com os beneficiários, as healthtechs de planos de saúde se movimentaram ao longo do último ano. Seja na compra de ativos de outras operadoras, mudanças nas estratégias das empresas, adoção de vendas por corretores ou ajuste nas contas, elas buscaram se manter ativas e relevantes.

Com um crescimento no número de beneficiários no último ano, essas startups têm construído estratégias para ampliar ainda mais sua base em 2024. O desafio, porém, é seguir com os modelos propostos, mantendo os custos baixos e o controle sobre os reajustes. Dessa forma, elas podem seguir ocupando o espaço como alternativa a planos de saúde tradicionais.

Futuro da Saúde conversou com executivos da Alice, Leve Saúde e Sami para entender o cenário, o planejamento para 2024 e as adaptações necessárias para enfrentar um setor cheio de contratempos. Juntas, elas ainda possuem uma pequena fatia do mercado — cerca de 100 mil vidas — , mas trabalham com metas de crescimento que podem impactar o mercado.

“É um desafio diário, mas temos conseguido driblar questões como inflação médica, sinistralidade e fraudes, porque nosso modelo de negócio não é engessado. Evitamos desperdícios porque atuamos lado a lado com nossos parceiros clínicos, construindo e fomentando uma rede inteligente, que ajuda a equilibrar nossos custos para que nossos preços não pesem no bolso dos nossos clientes. Mesmo em meio à crise do setor, continuamos oferecendo um dos melhores custo-benefício do mercado”, afirma Vitor Asseituno, cofundador e presidente da Sami.

Baixo custo e reajuste controlado

Focada no público com mais de 45 anos, a Leve Saúde teve um crescimento em 2023 de mais de 92% no número de beneficiários, saltando de cerca de 23 mil em janeiro para aproximadamente 46 mil em dezembro do mesmo ano. Com atuação no Rio de Janeiro, a operadora afirma que o aumento foi orgânico e está dentro do planejamento.

“Estamos no passo da nossa estratégia inicial. Diferente das outras operadoras que vieram tentando fazer um modelo mais padrão de compras digitais e com que o cliente comprasse sozinho os produtos, a Leve Saúde foi para o mercado híbrido, tendo uma célula nossa de venda e recebendo leads, e principalmente entendendo que esse é um mercado que tem um canal de corretores. No Rio de Janeiro existem 14 mil lojas para colocar o seu produto à venda”, avalia o CEO da operadora, Ulisses Silva.

Com produtos principais para o público das classes B e C, a empresa oferece planos a partir de 168 reais. Para 2024, novos produtos para outras classes devem chegar ao mercado, buscando atingir outros públicos. Da mesma forma, a operadora atua com planos de saúde individuais, familiares e empresariais, de acordo com a demanda do contratante.

O aumento na base de beneficiários e a crise da saúde suplementar não trouxe um grande impacto para a operadora, que de acordo com Ulisses Silva fechou o ano com sinistralidade em menos de 58%. Os dados da ANS, acumulado até o 3º trimestre de 2023, apontam para uma relação de 63,35% entre receitas e despesas assistenciais.

“Quando decidimos montar a Leve Saúde, sempre deixei claro que ninguém ia sofrer por fraude ou judicialização, porque infelizmente faz parte do nosso ecossistema. A gente tem que ter um modelo de gestão com tecnologia que nos permita cada vez mais ter essas análises para que a gente possa ter tranquilidade no nosso dia a dia. Vai passar alguma coisa, mas criamos nossos processos e o modelo que temos é tão confiável que somos a primeira ou segunda melhor sinistralidade do Brasil”, reforça o CEO, que afirma que o segredo está na gestão de custos.

Os planos para 2024 também envolvem criar unidades próprias, ampliando a parte verticalizada da rede, que também conta com parceiros credenciados. Segundo Ulisses, a meta é terminar o ano com até 20 clínicas próprias, que devem atender mais de 80% dos clientes. Um hospital próprio também está nos planos, com cerca de 150 leitos. A Leve Saúde está em fase de estudo e captação de recursos para definir a estratégia para esta unidade.

As metas ainda envolvem chegar a 7 mil novas vidas por mês no final do ano, fechando dezembro com 100 mil beneficiários e uma receita de 600 milhões de reais. O plano faz parte de uma expectativa maior, que visa alcançar 1 milhão de beneficiários até 2028. Para isso, a Leve Saúde já está contratando uma consultoria para analisar quais devem ser os próximos estados de atuação. 

Apesar de 60% da base de beneficiários não migrar de outros planos, o CEO explica que isso tem mudado com o passar do tempo, principalmente por conta dos altos custos para os beneficiários. “Para o plano empresarial para pequenas e médias empresas, como o nosso sinistro é baixo, o reajuste também é baixo. Em 2023 a gente reajustou o valor do IPCA, cerca de 5%. Isso faz com que tenhamos menos saída de clientes. Quem está recebendo 25% de reajuste em outras operadoras, acaba não tendo condições de manter o plano e nós temos uma oferta”, analisa Ulisses.

Crescimento orgânico

Já a Alice buscou outro caminho para aumentar a sua carteira de beneficiários. A empresa adquiriu, em maio de 2023, as vidas geridas pela QSaúde, somando 16 mil novos clientes à sua base, fechando dezembro com 32 mil beneficiários. Mas apesar da compra, também houve um crescimento orgânico, em torno de 20%. De acordo com a healthtech, não houve impacto significativo nas despesas. 

“O nosso desafio foi realmente comunicar os membros que agora são parte da Alice. O aplicativo utilizado mudou para um app Alice, que tem funcionalidades semelhantes, mas é um outro ambiente com outra interface. Os beneficiários ficam com dúvidas, se a rede ia mudar ou perder alguma coisa, mas a ANS e nós somos muito preocupados com isso. Então, era preciso comunicar que nada mudava, inclusive o preço. Conseguimos lidar bem com isso, investimos tempo e planejamento”, afirma Guilherme Azevedo, cofundador e chief health officer (CHO) da operadora.

A relação de receitas e despesas assistenciais acumulada em 2023 até o 3º semestre foi em torno de 78%. O último semestre normalmente é considerado um período com menos custos, já que parte da população evita realizar procedimentos eletivos e ir a consultas em dezembro, período de festas de fim de ano. 

Parte da estratégia de crescimento para 2024 foi mudar o foco dos produtos da operadora. A Alice nasceu com planos de saúde individuais e familiares, considerados pelo mercado como produtos mais complexos e menos vantajosos, já que o reajuste é definido pela ANS e não é permitido encerrar o contrato de forma unilateral, mas em novembro anunciou que iria focar agora apenas em produtos B2B. 

“Todo nosso crescimento para 2024 a 2025 foi feito com base em crescimento orgânico, com um foco em plano de saúde para empresas. Temos nossa carteira individual que irá continuar, mas as novas vendas desde novembro estão 100% focadas em empresas de diferentes portes. O planejamento é dobrar de tamanho na carteira empresarial”, afirma Azevedo. 

Com isso, a meta para o ano é dobrar a carteira de beneficiários empresariais, que até dezembro de 2023 contava com pouco mais de 10 mil vidas. Para alcançar o objetivo, a Alice começou também a atuar com corretores, que têm trazido um crescimento de 1 mil novos clientes por mês, de acordo com o CHO.

“A gente tinha um produto limitado para o corretor vender e é difícil vender o produto que tem uma rede pequena. Então, demorou para termos um produto completo para que fosse atrativo para o corretor vender, sendo empresarial e com cobertura nacional. Isso foi um complemento à nossa estratégia. É um canal que está indo muito bem e estamos investindo bastante, fazendo campanhas, estando próximo e criando o portal do corretor Alice”, explica Guilherme.

A Alice não planeja realizar aquisições ao longo do ano. De acordo com a operadora, a compra da carteira da QSaúde foi estratégica porque os modelos de ambos os planos de saúde contavam com atenção primária e rede credenciada semelhante, o que colaborava com a absorção.

Parte da estratégia de crescimento tem sido em propagandas que afirmam que a operadora tem um dos menores reajustes do mercado. Em 2023, a empresa praticou um reajuste de 13,4%, contra a média de 23% na saúde suplementar. O modelo de cuidado e a análise constante de dados, com uso de tecnologia, são considerados as principais ferramentas para o controle de custos, mostrando o que é custo-efetivo em relação aos parceiros e tratamentos.

“A tecnologia escala. No momento em que todo mundo tem o app da Alice e acesso ao Alice Agora, que é a nossa atenção primária, isso é escalável. A gente não precisa montar hospitais ou clínicas, é uma operação digital e centralizada. Enquanto eles continuarem engajando com a Alice desse jeito, continuaremos tendo a visibilidade dos dados para tomar as ações”, afirma o cofundador.

Clientes maiores

A Sami, por sua vez, levantou uma rodada de investimentos no 1º semestre de 2023, que resultou em um aporte de 90 milhões de reais com atuais e novos investidores, entre eles a Redpoint eventures, Mundi Ventures, Endeavor Catalyst, monashees, Valor Capital, Kevin Efrusy (Accel), Ricardo Marino (Itaú), Mancora Ventures, Mauro Figueiredo (ex-Diretor da Bradesco Saúde) e Brad Otto (ex-executivo do CVC da UnitedHealth Group, dona da Amil).

“Isso reforça a confiança dos investidores em nosso potencial e em nossa performance no mercado, bem como a necessidade de um novo player no segmento de planos de saúde. Com isso, nos preparamos ainda mais para seguir avançando na conquista de clientes dos mais diferentes portes, repetindo ou melhorando ainda mais nosso desempenho positivo do ano passado”, afirma Vitor Asseituno, cofundador e presidente da Sami.

A operadora teve um crescimento de 35,81% em sua carteira ao longo do ano passado, chegando ao marco de 21 mil beneficiários em dezembro. Contudo, a crise na saúde suplementar parece ter afetado mais as contas da empresa, que de acordo com os dados divulgados pela ANS, teve uma relação de contraprestações e despesas assistenciais de 98,54%, valor acumulado até o 3º trimestre.

“Estamos sempre revisitando nossos processos, nossas parcerias, nossa rede, para conseguir driblar a inflação médica e inflação geral, que impactam diretamente nosso negócio e acabam respingando nos clientes, e também trabalhando em tecnologia e inteligência de dados para evitar fraudes, agilizar rotinas e evitar desperdícios”, avalia Asseituno. De acordo com o executivo, a Sami tem conseguido manter a sinistralidade caixa estável em 72-73%.

Ao longo de 2023, a operadora realizou algumas ações que devem trazer um melhor cenário neste ano. A empresa iniciou sua segunda operação própria, dentro do Hospital Santa Virgínia, no bairro do Belém, zona leste da capital paulista. A ideia é atender os cerca de 20% de beneficiários que moram nessa região tendo maior controle sobre os custos. Outra ação foi adotar um reajuste de 23%, que está na média do mercado.

Em 2024, a operadora também anunciou que deve focar em planos para empresas com mais de 30 vidas. “Temos visto cada vez mais a migração de empresas de planos de saúde tradicionais para a Sami, mostrando a confiança crescente do RHs e dos funcionários na marca e na entrega que construímos”, observa Asseituno.

A healthtech afirma que também deve focar no uso de inteligência artificial do Google, a Vertex, para dar suporte a técnicos de enfermagem, enfermeiros e médicos. A ideia é que essa ferramenta possa sumarizar e analisar dados do histórico de cada paciente, propondo os próximos passos. “Com isso, esperamos obter mais eficiência e eficácia no cuidado. A ideia com o uso de IA é diminuir em 50% o tempo médio de atendimento”, explica o cofundador.

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Healthtech Mevo capta R$ 110 milhões em Série B

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Mevo, healthtech brasileira especializada em prescrições digitais, captou R$ 110 milhões em sua série B. O aporte teve como principal investidor a Matrix, tradicional fundo de venture capital sediado em São Francisco, na Califórnia, que já investiu em empresas como a Apple e FedEx  quando ainda estavam começando, e teve a participação da Jefferson River Capital, family office de Hamilton E. James, ex-presidente da Blackstone e atual presidente do conselho da Costco.

Neste ano, a healthtech – que aplicará os recursos recém captados no avanço tecnológico e desenvolvimento de novos produtos – deve superar a marca de 10 milhões de brasileiros atendidos com prescrições eletrônicas e outras soluções digitais.

“Esse investimento não é apenas um voto de confiança em nosso modelo de negócios, mas também um passo crucial para acelerarmos a adoção da prescrição eletrônica no Brasil. Ainda existem muitas instituições de saúde e médicos que não têm acesso a essa tecnologia, e nosso objetivo é desenvolver a melhor solução do mercado para alcançá-los”, comenta Pedro Dias, fundador e CEO da Mevo, que já atende instituições como o Sírio-Libanês, Rede D’Or São Luiz e Oncoclínicas.

Reconhecida por sua expertise em identificar e apoiar startups inovadoras, a Matrix escolheu a Mevo como seu primeiro investimento no Brasil e o segundo, depois de mais de 13 anos, na América Latina. A Matrix possui US$ 2,2 bilhões em Assets Under Management (AUM) e a chegada ao Brasil reforça seu compromisso em apoiar o ecossistema de inovação onde quer que esteja.

“Temos a convicção de que, na próxima década, a prescrição manuscrita será algo do passado. Nosso foco é trazer mais segurança, transparência e qualidade para pacientes e profissionais de saúde, e este investimento nos permitirá continuar perseguindo esse sonho com ainda mais determinação”, completa Pedro.

Anteriormente, a Mevo já havia realizado outras captações seed e série A, entre 2019 e 2022, totalizando aproximadamente R$ 100 milhões levantados, que contaram com a participação de investidores como Floating Point, fundo de venture capital sediado em NY, IKJ Capital, FIR Capital, além de representantes de grupos e famílias de referência como a LTS Investments, dos fundadores do 3G Capital, Paul Fribourg, da Continental Grain Company, e a família Martins do Grupo Martins e Tribanco, entre outros.

Recentemente, a empresa foi selecionada para participar da 4ª turma do Programa Emerging Giants, uma parceria entre o Distrito e a KPMG, para apoiar os próximos passos estratégicos de startups em rápido estágio de crescimento e já consolidadas em seus mercados.

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Entenda como se proteger e quais os principais danos à saúde causados pelas fumaças das queimadas no Brasil

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Com a presença de fumaças que percorreram longas distâncias até grandes cidades, os cuidados com a saúde devem aumentar

A quantidade de queimadas no Brasil no mês de agosto bateu recordes em diversos estados e a fumaça decorrente dessas queimadas se espalhou, para além de locais próximos, para grandes cidades no Brasil. O resultado foram dias que se tornaram “nublados” e em que muitas pessoas relataram incômodos e até mesmo dificuldades para respirar. Mas quais são os principais danos que as fumaças das queimadas podem causar à saúde e como se proteger desses prejuízos?

O cirurgião torácico do Hospital Edmundo Vasconcelos, Marcel Sandrini, explica que os maiores danos são causados às pessoas com problemas respiratórios anteriores, que apresentam piora dos sintomas, como tosse e falta de ar. Esses pacientes, como asmáticos, enfisematosos e alérgicos, podem apresentar um quadro de crise aguda de tosse, rinite, bronco espasmo (chiado no peito) e desconforto para respirar.

Crédito: Marcelo Camargo / Agência Brasil

“Isso podemos falar para casos de queimadas à distância, em que a fumaça chega até outras cidades. Para pessoas que moram próximas aos locais com incêndios, pode haver a inalação de fumaças extremamente tóxicas. Os casos podem ser muito graves, com quadros de lesões com queimaduras de vias aéreas, por exemplo. Se as queimadas da mata atingirem depósitos de lixo, por exemplo, onde existem muitos tipos de plástico e outros materiais tóxicos, esta fumaça traz prejuízos adicionais à saúde”, detalha o médico.

O especialista afirma que todo tipo de fumaça é prejudicial, inclusive pessoas que inalam muita fumaça ao longo dos anos, como, por exemplo, fumaça de fogão a lenha, podem apresentar quadro de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), síndrome que engloba doenças como bronquite e asma, e até mesmo o enfisema pulmonar. Essas pessoas que já apresentam DPOC podem evoluir com quadros respiratórios mais graves durante as queimadas. “Os problemas mais graves vão depender do tempo de exposição à fumaça, da disposição do corpo, quantidade de vezes essa pessoa foi exposta e da distância em que a pessoa está em relação à fonte da fumaça”, avalia.

Marcel Sandrini ainda indica que, em casos de exposição leve à fumaça, pode ser normal ter um quadro de tosse, contudo, caso o quadro piore, o melhor a fazer é se afastar da fumaça e pode ser necessário procurar atendimento médico de urgência. “Se começar a evoluir para um chiado ou falta de ar e tosse persistente, o conselho é se afastar da fonte da fumaça e procurar um hospital, pois o quadro clínico pode se agravar. Uma reversão do bronco espasmo (chiado no peito) e intoxicação causados pela fumaça podem levar muito tempo para melhorar e se o paciente continuar inalando isso por mais tempo, só agrava a situação. Por isso, é preciso observar o quadro junto a especialistas”, ressalta. 

Para se proteger, o médico explica que o mais indicado é, sempre que possível, se afastar da fumaça ou ficar o mais distante possível. Utilizar umidificadores de ar dentro de casa também podem colaborar para a respiração.

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O impacto psicológico das barreiras sociais para autistas e cuidadores

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66% das pessoas com autismo já pensaram em suicídio, aponta estudo

O mês de setembro é marcado pela campanha do Setembro Amarelo, dedicada à conscientização e prevenção do suicídio. Entre os temas cruciais abordados durante o período, destaca-se a saúde mental de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), que enfrentam desafios únicos em todas as fases da vida. Além dos autistas, os cuidadores, principalmente as mães, também vivenciam pressões significativas que afetam diretamente seu bem-estar psicológico.

Não é de hoje que as pessoas com autismo enfrentam barreiras sociais e emocionais desde a infância, o que pode levar ao isolamento e ao agravamento de condições psicológicas. Segundo o estudo “Cuidando de quem cuida: um panorama sobre as famílias e o autismo no Brasil”, realizado pela Genial Care, 29% das pessoas com TEA sofrem de transtornos de ansiedade, e 4% apresentam distúrbios do sono, epilepsia ou Transtorno Opositivo-Desafiador. Esses dados destacam como as adversidades cotidianas podem afetar a qualidade de vida dos autistas. 

Outro obstáculo significativo enfrentado durante a adolescência e a vida adulta é a busca por empregos, que pode gerar sérios problemas devido à constante luta pela inclusão no mercado de trabalho. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 85% dos autistas permanecem fora do mercado de trabalho, contribuindo para o número de 1,7 milhão de desempregados no Brasil, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS). A dificuldade em conseguir um emprego agrava ainda mais os sentimentos de frustração e exclusão social, impactando diretamente a saúde mental.

Dados da National Autistic Society indicam que 66% das pessoas com TEA já pensaram em suicídio, e 35% já planejaram ou tentaram se suicidar, destacando o impacto profundo das dificuldades diárias na saúde psicológica. Pessoas com TEA têm até quatro vezes mais chances de desenvolver depressão ao longo da vida. O estudo “Retratos do Autismo no Brasil”, da Genial Care, apontou que 49% dos autistas já apresentaram comportamentos de autolesão ou automutilação, e 7% tentaram tirar a própria vida. 

Em suma, o ‘preço’ de ser uma pessoa autista no Brasil é alto, multifacetado e muitas vezes injusto. Enfrentar obstáculos em todas as áreas da vida, desde o acesso ao diagnóstico até a inclusão no mercado de trabalho, é uma batalha contínua e exaustiva mentalmente. 

“Apoiar cada jornada, especialmente na comunidade autista, é uma necessidade urgente. Os números não deixam dúvidas: o risco de lidar com desafios de saúde mental é significativamente maior entre pessoas com TEA, reforçando a importância de uma atenção coletiva. O impacto acumulado da exclusão social, da dificuldade de inserção no mercado de trabalho e da falta de suporte adequado afeta não apenas a saúde mental dos autistas, mas também de suas famílias”, afirma a Diretora Clínica da Genial Care, Alice Tufolo.

No entanto, o bem-estar psicológico de uma criança ou adulto com TEA está diretamente ligada ao ambiente ao seu redor. A criação de redes de suporte, desde escolas preparadas até empresas mais inclusivas, pode fazer uma enorme diferença na qualidade de vida dessas pessoas e de suas famílias. 

O outro lado da jornada: a saúde mental dos cuidadores

Embora o foco esteja crescendo nas dificuldades enfrentadas pelos autistas, os cuidadores, especialmente as mães atípicas, também sofrem impactos emocionais profundos.  Conforme o estudo “Cuidando de quem cuida: um panorama sobre as famílias e o autismo no Brasil”, da Genial Care, 86% das pessoas cuidadoras de crianças com TEA são as próprias mães, e 68% dos cuidadores relataram dificuldades em encontrar tempo para cuidar de si e descansar, o que compromete diretamente a sua estabilidade mental e bem-estar.

Para quem vive uma maternidade atípica, as responsabilidades podem ser ainda mais complicadas, pois os tratamentos contínuos dos filhos demandam mais tempo na vida dessas mães. Segundo o estudo da Genial Care, 47% delas sentem-se culpadas pela condição de seus filhos. Esse sentimento de culpa também afeta 36% dos outros cuidadores. A sobrecarga emocional combinada com a falta de tempo para autocuidado prejudica a saúde psicológica, tornando necessário o desenvolvimento de redes de apoio e programas de acolhimento.

A presença de um sistema de apoio, formada por familiares, amigos, profissionais de saúde e grupos especializados, oferece às mães suporte emocional, recursos práticos e informações valiosas sobre o autismo. Esse grupo torna as decisões menos pesadas e proporciona solidariedade, fortalecendo-as para superar desafios e celebrar conquistas. Ao compartilhar experiências, as mães se sentem compreendidas e menos isoladas, criando um ambiente essencial para o bem-estar de toda a família e o desenvolvimento de seus filhos.

A orientação parental é essencial para apoiar o desenvolvimento de crianças com autismo, proporcionando aos pais ferramentas e conhecimento para lidar com os desafios diários. Pais bem informados podem desempenhar um papel fundamental no ensino de habilidades e comportamentos que facilitam a autonomia e o crescimento da criança. É necessário que eles se sintam preparados e seguros, pois a insegurança pode impactar negativamente o desenvolvimento infantil. Por isso, etapas como educação sobre o autismo, comunicação aberta com profissionais, definição de metas claras e consistência nas rotinas são muito importantes.

Além de focar no desenvolvimento da criança, a orientação parental também cuida da saúde emocional dos pais. “A orientação parental auxilia os cuidadores a entenderem melhor os comportamentos desafiadores de seus filhos e a lidar com suas próprias emoções. A inclusão do autocuidado e a criação de uma rede de apoio são aspectos essenciais para garantir que os cuidadores tenham o suporte necessário para promover o bem-estar de toda a família”, ressalta Alice.

Nesse cenário, falar sobre saúde emocional de forma aberta e acessível é imprescindível para desmistificar o tema e promover intervenções eficazes. O Setembro Amarelo serve como um lembrete de que cuidar da saúde mental é essencial para todos, especialmente para os que enfrentam os desafios diários do autismo, direta ou indiretamente. 

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