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Tecnologia

Smartwatches são realmente eficazes no diagnóstico de arritmias cardíacas?

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Os smartwatches ou relógios inteligentes, como o recém-anunciado Apple Watch Series 8, têm se tornando cada vez mais populares como uma ferramenta de monitoramento de saúde, possibilitando acompanhar, por exemplo, o sono, a oxigenação do sangue, a ovulação e até mesmo os batimentos cardíacos. Essa última função é especialmente interessante para pacientes que sofrem com arritmias cardíacas como a fibrilação atrial. Mas até que ponto os smartwatches podem realmente contribuir para superar essas limitações e facilitar o diagnóstico de fibrilação atrial? No primeiro estudo baseado em evidências de mundo real com foco no uso do Apple Watch para diagnóstico de fibrilação atrial, publicado em outubro no Canadian Journal of Cardiology, pesquisadores observaram que, apesar de realmente demonstrarem potencial na detecção da condição, esses dispositivos encontram certos desafios para conferirem diagnósticos precisos em pacientes com doenças cardíacas pré-existentes.

“Figurando entre os tipos mais comuns de arritmias cardíacas, a fibrilação atrial ocorre quando os impulsos elétricos que coordenam os batimentos cardíacos são transmitidos de maneira irregular, fazendo com que o coração dispare. Uma das principais maneiras de detectar a condição é através do uso de dispositivos eletrônicos cardiovasculares implantáveis, como marca-passos. O problema é que esses aparelhos possuem limitações, como a bateria curta e a falta de feedback imediato. Nesse cenário, os smartwatches apresentam-se como potenciais alternativas,” explica a nefrologista Caroline Reigada, especialista em Medicina Intensiva pela AMIB.

Estudos anteriores já haviam validado a precisão do Apple Watch no diagnóstico de fibrilação atrial, mas apenas com base em um número limitado de pacientes com perfis clínicos similares. “O diferencial desse novo estudo está no fato de testar a precisão do diagnóstico proporcionado pelo dispositivo em pacientes com uma variedade de anormalidades coexistentes no eletrocardiograma”, afirma a médica. A pesquisa foi realizada com 734 pacientes hospitalizados, com cada indivíduo sendo submetido a um eletrocardiograma (ECG) de 12 derivações, considerado o exame padrão. Imediatamente em seguida foi realizada uma gravação de 30 segundos do ECG de derivação única do Apple Watch, que classificou os resultados em três categorias: fibrilação atrial, nenhum sinal da condição ou leitura inconclusiva. Os ECG’s feitos pelo dispositivo também foram interpretados cegamente por um médico, que atribui a cada gravação um dos seguintes diagnósticos: fibrilação atrial, ausência da condição ou diagnóstico inconclusivo.

Em aproximadamente um em cada cinco pacientes, o smartwatch falhou em gerar um diagnóstico preciso de fibrilação atrial, com risco aumentado de falso positivo em pacientes com outras disfunções cardíacas, como contrações ventriculares prematuras (CVP), disfunção do nó sinusal e bloqueio atrioventricular. Em pacientes com fibrilação atrial diagnosticada, o risco de falso negativo foi maior em pacientes com distúrbios de condução ventricular e ritmo cardíaco controlado por marca-passo implantado. Pacientes com CVP foram três vezes mais propensos a ter um diagnóstico falso positivo de fibrilação atrial, o que não surpreendeu os pesquisadores, visto que a detecção da condição por parte do relógio é baseada apenas na variação dos ciclos cardíacos. “Um ciclo cardíaco é o conjunto de atividades que ocorre entre o início de um batimento e o outro. A CVP causa ciclos cardíacos longos e curtos, com aumento da variabilidade, o que pode fazer com que os algoritmos do relógio tenham dificuldade em diferenciá-la da fibrilação atrial”, explica Caroline. Para comparação, o aplicativo conseguiu identificar corretamente 78% dos pacientes com fibrilação atrial, enquanto o médico que avaliou os resultados conseguiu identificar 97% desses pacientes. Dos pacientes que não tinham a condição, o dispositivo identificou 81% e o médico 89%.

O estudo não significa, no entanto, que a tecnologia de diagnóstico dos smartwatches seja inútil. Muito pelo contrário. Não faltam exemplos de sua capacidade de auxiliar na saúde e salvar vidas. Em setembro, um usuário do Apple Watch chamado Jason Smith conseguiu, através da função de eletrocardiograma do dispositivo, detectar justamente um quadro de fibrilação atrial em sua mãe que estava passando mal. Ao buscar auxílio médico, os profissionais confirmaram a condição, que necessitava de tratamento imediato. “O que o estudo nos mostra é que, apesar de ter grande potencial, o desempenho do Apple Watch no diagnóstico de fibrilação atrial é significativamente afetado pela presença de outras anormalidades cardíacas, pois os algoritmos do aparelho ainda não são inteligentes o suficiente para detectarem precisamente a doença em meio a outras condições cardiovasculares. Mas, com o avanço das tecnologias, deve ser uma questão de tempo e pesquisas como essas são fundamentais para estimular os fabricantes a investirem, por exemplo, em melhores algoritmos, que não se baseiem apenas nos ciclos cardíacos, e em tecnologias de machine learning para aumentar a precisão do diagnóstico em pacientes com doenças cardiovasculares pré-existentes”, diz a médica.

E as empresas parecem já estar cientes da necessidade desses avanços, trazendo, a cada atualização de seus dispositivos e softwares, novas ferramentas para melhorar os diagnósticos proporcionados. Por exemplo, o watchOS 9, nova versão do sistema operacional do Apple Watch lançada em setembro desse ano pela Apple, conta com uma função inovadora que mantém um histórico de fibrilação atrial, permitindo ao usuário verificar com que frequência apresenta arritmia e como ela é afetada por fatores como sono, exercícios e peso. “Por fim, vale ressaltar que os smartwatches podem sim ser grandes aliados no monitoramento da saúde cardiovascular, mas não substituem, de maneira alguma, a avaliação e o diagnóstico médico. Na dúvida ao ser notificado pelo seu Apple Watch sobre a possibilidade de fibrilação atrial ou caso apresente sintomas como palpitações, queda de pressão, fadiga, falta de ar e desmaios, o mais importante é buscar auxílio médico, pois, se não tratada, a fibrilação atrial pode favorecer complicações como insuficiência cardíaca e renal, infarto e acidente vascular cerebral”, alerta Caroline Reigada.

Atualidades

Santa Joana desenvolve ferramenta de Big Data e IA para casos de pré-eclâmpsia

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O Hospital e Maternidade Santa Joana, referência em gestações de risco e de alta complexidade, desenvolveu uma ferramenta de Big Data e Inteligência Artificial visando o apoio à decisão e ao manejo de casos graves de pré-eclâmpsia. A tecnologia contribuiu para a reduzir os casos de reinternação de pacientes acometidas pela doença, além de casos de politratamento e hemoderivados.

Segundo dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a taxa de mortalidade materna no Brasil retornou aos patamares pré-pandemia: após atingir a taxa de 117 mortes por 100 mil nascidos vivos em 2021, voltou a 57 —índice similar ao ano de 2019. Entretanto, ainda está longe da meta da Organização Mundial da Saúde (OMS). A média mundial é de 223 mortes para cada 100 mil partos e a taxa de morte materna da Europa Ocidental é de 8 para cada 100 mil partos.

“Desde 2022 nossa taxa de morte materna, que já era uma das menores do mundo, é zero. Isso reforça que o cuidado, treinamento médico, protocolos, bem como ferramentas de apoio à decisão podem de fato impactar diretamente na saúde do paciente”, explica Eduardo Cordioli, diretor médico de Obstetrícia do Grupo Santa Joana.

Segundo dados do Ministério da Saúde (MS), a hipertensão na gestação é a maior causa de morte materna no Brasil, representando em torno de 35% dos óbitos a cada 100 mil nascidos. Além disso, as gestantes hipertensas têm mais risco de terem pré-eclâmpsia.

“A hipertensão e pré-eclâmpsia são o principal flagelo de saúde materna em nosso país. Cerca de 40% das pacientes que são internadas na UTI Semi-Intensiva da Instituição são mulheres acometidas com crises hipertensivas, tanto hipertensão crônica quanto pré-eclâmpsia. Por isso, é muito importante que o cuidado e a prevenção comecem no pré-natal”, destaca.

A pré-eclâmpsia é o aumento da pressão arterial a partir da 20ª semana de gestação, que pode acometer mulheres que normalmente apresentam ou não problemas de hipertensão. O quadro pode evoluir para um quadro grave da pré-eclâmpsia, sendo que sintomas são dor de cabeça, inchaço, retenção de líquidos, pressão alta e presença de proteína na urina. A evolução desse quadro pode levar à eclâmpsia, que causa convulsão, e à síndrome HELLP, com complicações com alto potencial de gravidade e risco de vida para o binômio mãe-bebê.

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Inteligência Artificial é a solução anti-burnout para os médicos

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Por Igor Couto

No epicentro do sistema de saúde brasileiro, uma crescente inquietação afeta os profissionais: o esgotamento profissional. Conhecido como burnout, atinge atualmente dois em cada três médicos no Brasil, conforme apontado pela pesquisa Saúde Mental do Médico, conduzida pelo Research Center, núcleo de pesquisa da Afya. Este dado alarmante não apenas evidencia um problema de saúde pública, mas também sublinha a urgência na criação de soluções eficazes.

Um dos principais desafios é a carga burocrática associada ao prontuário eletrônico. Pesquisas revelam que mais de 50% dos casos de síndrome de burnout entre profissionais da medicina estão diretamente vinculados às tarefas administrativas demandadas por esses sistemas. A equação é desanimadora: para cada hora de atenção ao paciente, outras duas são consumidas pela burocracia nos registros eletrônicos de saúde (EHR – Electronic Health Record).

Esse cenário tem repercussões graves na segurança dos pacientes. Nos Estados Unidos, quase 800.000 pacientes sofrem danos anualmente devido a erros de diagnóstico, muitos relacionados a equívocos cognitivos, conforme revelado por um recente estudo de John Hopkins (Newman-Toker et al. 2024). Equívocos médicos representam a terceira causa de morte nos EUA (Makary e Daniel 2016).

Esse esgotamento não apenas prejudica a saúde dos profissionais, mas também impacta seriamente seu desempenho no ambiente de trabalho, resultando em erros médicos graves, queda na qualidade do cuidado ao paciente e redução na satisfação dos pacientes.

Tecnologia transformando o cuidado

Diante do panorama, a solução está na inovação, mais especificamente na inteligência artificial. Em tempos de ChatGPT, Llama e Gemini, um Large Language Model adaptado à linguagem da saúde, por exemplo, pode reduzir e tornar eficientes os encargos administrativos. Ferramentas que integram-se perfeitamente com terminologias e padrões médicos de ponta. Isso eleva a eficiência da análise de dados (mais de 80% dos dados de saúde são desestruturados), capacitando os profissionais de saúde a tomar decisões mais inteligentes para resultados superiores aos pacientes.

O objetivo desse tipo de IA é facilitar um melhor planejamento de cuidados de saúde e um atendimento eficiente ao paciente por meio de documentação clínica abrangente e organizada. Otimizada para compreender o vocabulário específico da saúde em português, apresenta-se não apenas como uma economia de tempo, mas como um antídoto contra o estresse, aliviando a rotina exaustiva dos profissionais.

Já imaginou, por meio dessa solução, médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde podendo reduzir em mais de 40% o tempo gasto com burocracia, enquanto aumentam a precisão e personalização no cuidado aos pacientes? Isso é a prova de que a IA não vai substituir os humanos, mas sim colocá-los como protagonistas dessa evolução.

Um futuro cada vez mais inteligente

O desenvolvimento acelerado e os impactos significativos indicam que o protagonismo da IA no campo clínico é irreversível. Ela tem o potencial de revolucionar o setor, melhorando o gerenciamento do fluxo de pacientes, reduzindo erros, aprimorando a comunicação entre equipes e oferecendo suporte decisivo à prática clínica.

Além dos benefícios mencionados, a IA pode se tornar um meio vital no combate ao burnout, monitorando padrões de trabalho, níveis de estresse e sinais de esgotamento entre médicos. Por meio de insights e recomendações precisas, é possível ajustar cargas de trabalho, oferecer suporte e intervenções focadas no bem-estar dos profissionais, prevenindo o esgotamento antes que ele se torne, de fato, um problema.

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SXSW 2024: Einstein reúne Mayo Clinic, Sheba Medical Center e City of Hope

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Pelo segundo ano consecutivo, o Einstein sobe ao palco do South by South West, o SXSW, festival de inovação e tecnologia do mundo, para liderar um painel com executivos da Mayo Clinic (EUA), City of Hope (EUA) e Sheba Medical Center (Israel). O encontro irá debater como as organizações de saúde podem atuar em projetos colaborativos utilizando tecnologia, inteligência artificial e dados para criar estratégias que respondam aos grandes desafios de saúde globais ligados às inequidades de acesso, ao envelhecimento populacional, à ameaça de novas epidemias e ao impacto das mudanças climáticas na saúde.

Segundo Sidney Klajner, presidente do Einstein e mediador do painel, a organização quer dar mais um passo na reflexão iniciada na edição de 2023, quando apresentou como as tecnologias podem ser um importante impulsionador da equidade em saúde. Agora, mais do que discutir sobre ferramentas, o debate também passa pela importância da colaboração na inclusão de grupos de pessoas que ficam muitas vezes à margem quando pesquisadores, desenvolvedores e analistas de dados constroem modelos digitais destinados a fornecer cuidados médicos mais precisos e imparciais.

“Vamos falar de três importantes frentes que passam por essa ideia central: como os ensaios clínicos descentralizados, impulsionados pela tecnologia, criam uma revolução na ciência da saúde ao fornecer dados de pacientes geográfica e etnicamente diversificados, como o desenvolvimento de inovações que usam IA requerem a captação e análise de um enorme volume de dados para garantir uma medicina mais precisa, e como o compartilhamento internacional de dados afeta o que sabemos hoje sobre tratamentos de doenças”, diz o presidente do Einstein.

Organizações filantrópicas de renome internacional, que têm na busca pela equidade em saúde uma missão, vão debater como é possível orquestrar ecossistemas de saúde locais e globais e conectar startups para criar inovações que tenham mais escalabilidade, impulsionando, assim, o surgimento de uma nova onda de soluções.

Além do presidente do Einstein, também participam da mesa no dia 08 de março, às 13h, horário de Brasília (4PM horário local), Eyal Zimlichman, Chief Transformation Officer and Chief Innovation Officer do Sheba Medical Center; Eric L. Harnisch, Vice President Partner Programs, da Mayo Clinic Platform; e Linda Bosserman, Medical Oncology and Therapeutics Research, Medical Director, Center for International Medicine, City of Hope.

Mentorias para startups de saúde

Ainda, durante o festival, o Einstein compartilhará sua expertise em inovação em saúde por meio de mentorias individuais voltadas para startups que querem atuar na área. Com duração de aproximadamente 20 minutos cada, as sessões serão conduzidas por Rodrigo Demarch, diretor executivo de Inovação do Einstein. O foco será em startups de saúde no sul global, passando por desafios que a região enfrenta, como criar um ecossistema em saúde, empreendedorismo e inovação na área. O Einstein tem um hub que oferece apoio a startups nacionais e internacionais em todos os estágios de desenvolvimento: pré-aceleração (projetos em fase de ideação), aceleração e late-stage (organizações com produtos no mercado e em expansão de mercado).

Atualmente, 45 startups integram o ecossistema da Eretz.bio, sendo seis internacionais. Além disso, foram cerca de 300 projetos em 2023, como validação científica, codesenvolvimento de solução ou incorporação tecnológica. Neste ano, até o momento, são mais de 150 projetos ativos, envolvendo 20 países.

Para complementar o programa e enriquecer ainda mais a visita daqueles que desejam acompanhar todos os detalhes do evento, o SXSW 2024 – Experiência Einstein levará, pela primeira vez, uma comitiva de profissionais da área de saúde para uma imersão internacional, com programação personalizada, curadoria de conteúdos e agenda de debates com participação de diretores e executivos do Einstein.

O SXSW acontece desde 1987 e é a principal referência em tendências mundiais de inovação nas suas mais amplas frentes.

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