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Do jeito que está, projeto de lei da Inteligência Artificial ameaça futuro da inovação em Saúde no Brasil

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A área da saúde não é um monólito. Altamente dinâmica, ela representa a intersecção de vários serviços e indústrias, empregando profissionais com expertises diversas. Engloba também atividades com diferentes níveis de risco, das mais sensíveis, como a exercida por um médico cirurgião, até as corriqueiras, como a pesquisa universitária ou a burocracia interna de uma unidade hospitalar.

Esses diferentes níveis de risco, óbvios ao senso comum, além de já reconhecidos e regulamentados por órgãos como a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), infelizmente estão sendo ignorados pelo Projeto de Lei 2338/2023, que disciplina o uso de inteligência artificial (IA)  no país. O texto, que hoje tramita no Senado, trata quaisquer atividades ligadas à saúde como de “alto risco”, o que pode simplesmente inviabilizar parte da pesquisa com IA em território nacional.

Comecemos por reconhecer o óbvio: não há respostas prontas ou soluções fáceis para o problema da regulação de IA. A disseminação dessa tecnologia é, provavelmente, o fenômeno mais disruptivo nos últimos anos.

Seu potencial para transformar por completo nosso cotidiano gera um tremendo desafio do ponto de vista regulatório: como preservar direitos fundamentais da população sem, no entanto, interditar o avanço tecnológico?

No caso da saúde, esse desafio ganha contornos ainda mais dramáticos, pois estamos lidando diretamente com a segurança, a privacidade e, no limite, com a vida das pessoas. Sendo assim, qual é o ponto de equilíbrio entre interesse público e necessidade de inovação?

A questão não é puramente teórica. Há inúmeras ferramentas de IA voltadas à saúde que já são usadas ou estão em fase de implementação. Somente no primeiro semestre de 2023 a FDA (Food and Drug Administration), o órgão regulatório da saúde nos Estados Unidos, liberou quase 700 dispositivos médicos que utilizam algum tipo de IA ou machine learning. Até 2030, a saúde digital como um todo irá movimentar algo na casa dos US$ 850 bilhões.

No seu nível mais “básico”, por assim dizer, IAs são capazes de reunir, organizar e analisar volumes gigantescos de dados, extraindo conclusões ou identificando padrões invisíveis ao olhar humano. São também ferramentas capazes de aprender (daí a expressão machine learning) a partir de uma base de dados, o que as torna cada vez mais competentes para lidar com aquele tipo de informação.

Por isso essa tecnologia é eficaz, por exemplo, na análise do histórico de pacientes ou na leitura de exames de imagem (que se baseia em grande medida na identificação de padrões e, consequentemente, do que foge a esses padrões), sobretudo na oncologia ou em diagnósticos que demandam perfis genéticos. As ferramentas de IA conseguem apontar para (possíveis) sinais precoces, quase invisíveis, de várias enfermidades.

A gestão das instituições de saúde também ganha eficiência com a aplicação de IA, que permite automatizar tarefas como a organização das escalas dos profissionais, filas de atendimento, catalogação de documentos e muito mais.

IA generativa

Atualmente, o campo mais inovador em matéria de IA é o da chamada IA generativa, isto é, aquela capaz não apenas de ler informações, mas de gerar informações novas. A face mais popular dessa tecnologia é o ChatGPT ou aqueles divertidos sites que geram imagens a partir de uma descrição por escrito, mas há aplicações muito promissoras também na saúde.

Um programa de IA generativa é capaz de redigir o laudo de um exame, de gerar imagens e simulações a serem usadas na formação de novos médicos, de acelerar o desenvolvimento de novos medicamentos. Assim como um programador pode hoje pedir ao ChatGPT para escrever algumas linhas de código, pesquisadores da indústria farmacêutica podem pedir à máquina que projete a fórmula de novas moléculas e substâncias para este ou aquele fim, o que reduzirá o tempo e o custo de produção de uma nova droga.

Diante de tudo isso, fica evidente que regulamentar a IA, sobretudo em áreas sensíveis como a saúde, sempre será um pouco como trocar o pneu de um carro em movimento: o ritmo das inovações é vertiginoso, e fatalmente uma lei recém-criada estará obsoleta em alguma medida, já que ninguém conhece ainda o potencial pleno da inteligência artificial. Mesmo assim, é preciso encarar o desafio, e há experiências internacionais nas quais o Brasil pode e deve mirar.

A principal inspiração do PL 2338/2023 é a legislação da União Europeia, criada em 2021. Essa lei, embora seja a primeira do mundo sobre o tema, já estabelece gradações de risco para o uso de IA na saúde. Órgãos internacionais como a OMS (Organização Mundial da Saúde) e a OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde) também oferecem parâmetros de classificação de risco.

O Brasil, no entanto, escolhe um caminho diferente (e arriscado) ao tratar qualquer uso da IA na saúde como de “alto risco”. Tive a honra de participar de uma audiência pública na Comissão Temporária sobre Inteligência Artificial (CTIA) acerca do impacto do PL 2338/2023, onde pude expressar, junto a outros colegas da área, algumas preocupações referentes à redação genérica do texto. A partir dos trabalhos dessa comissão, o senador Marcos Pontes chegou a apresentar um substitutivo ao atual PL, com a previsão de gradações de risco, o que, espera-se, servirá de base para uma versão mais coerente dessa legislação.

Ninguém nega que o país precisa, sim, regulamentar essas novas tecnologias, mas isso não pode sufocar nossa capacidade de inovação científica. É importante insistir no fato de que desatar esse nó não requer uma quimera legislativa, mas simplesmente que os parlamentares inscrevam na nova lei gradações de risco utilizadas com sucesso há décadas pelos órgãos regulatórios.

É o que faz a Anvisa, por exemplo, ao liberar novas drogas ou tecnologias. Órgãos como a SEIDIGI (Secretaria de Informação e Saúde Digital) ou a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) também possuem capacidade técnica para classificar o risco de cada nova aplicação de IA. Seus critérios podem servir de modelo para uma legislação federal.

Resolver esse imbróglio é crucial porque o Brasil já começou a desenvolver iniciativas próprias de uso da IA na saúde. Um exemplo que conheço de perto vem do InovaHC, núcleo de inovação tecnológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC/FMUSP), cujo conselho eu atualmente presido.

Avanços em pesquisa com IA

O InovaHC acabou de firmar uma parceria com a Amazon Web Services, plataforma de computação em nuvem da Amazon, para criar um laboratório de IA generativa. De caráter interdisciplinar, atraindo estudantes, docentes, pesquisadores e empreendedores, esse laboratório nasce com a missão de desenvolver ferramentas inovadoras com potencial de melhorar os serviços prestados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Seu primeiro projeto já está em fase de desenvolvimento. Batizado de GAL (Gerador Adaptativo de Laudos), ele permitirá estruturar de maneira automática laudos radiológicos, levando em conta o histórico de cada paciente. Com supervisão e apoio do Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas, o GAL será capaz de fazer um sumário das informações pertinentes a cada exame, facilitando a estruturação de laudos pela equipe de radiologia. Espera-se com isso reduzir o tempo gasto pelo radiologista acessando os dados necessários para a análise das imagens de cada paciente, acelerando, portanto, a entrega do diagnóstico.

Esse é exatamente o tipo de pesquisa que pode ser seriamente comprometida, ou mesmo interrompida, por uma regulação genérica da IA. A classificação de “alto risco” para todas as atividades do setor impõe restrições incompatíveis com a realidade da pesquisa universitária ou da burocracia de uma instituição médica.

Trata-se, novamente, de um apelo ao bom senso, não à imprudência: a saúde é uma área complexa, composta por inúmeros setores. Assim como é preciso absoluto cuidado com as inovações que lidam diretamente com a integridade física dos pacientes, não faz sentido exigir o mesmo escrutínio para tecnologias voltadas a tarefas secundárias, auxiliares, e que podem trazer ganhos enormes de qualidade, eficiência e assertividade.

Em matéria de tecnologia, boa regulamentação é aquela que protege tanto o bem-estar coletivo quanto o potencial de inovação de uma sociedade.

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Hospital São Luiz Itaim inaugura Centro Avançado de Endoscopia com foco em alta tecnologia e IA

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Novo centro oferece tratamentos menos invasivos para obesidade, tumores e distúrbios digestivos, com apoio de inteligência artificial e equipe multidisciplinar

O Hospital São Luiz Itaim, da Rede D’Or, inaugurou um moderno Centro Avançado de Endoscopia que promete transformar o cuidado com doenças do trato gastrointestinal. A estrutura une alta tecnologia, inteligência artificial (IA) e procedimentos minimamente invasivos, oferecendo alternativas inovadoras para tratar desde obesidade e diabetes tipo 2 até tumores e complicações pós-operatórias.

Segundo o médico endoscopista Eduardo Guimarães Hourneaux de Moura, responsável técnico pelo serviço, a proposta é clara: “Hoje conseguimos realizar procedimentos que antes exigiam cortes e internações prolongadas, com uma câmera e acesso minimamente invasivo, muitas vezes com alta no mesmo dia.”

Tratamentos modernos com alta precisão

Entre os destaques do novo centro estão técnicas de:

  • Gastroplastia endoscópica – alternativa à cirurgia bariátrica tradicional, realizada por endoscopia para reduzir o estômago;
  • Ablação da mucosa gástrica – aplicação de calor em áreas específicas do estômago para controle da glicose em pacientes com diabetes tipo 2;
  • Dissecção endoscópica da submucosa (ESD) e ressecção endoscópica de parede total (EFTRD) – para remoção de tumores e lesões digestivas de forma precisa, sem cirurgia aberta;
  • POEM e G-POEM – procedimentos para tratar distúrbios digestivos como megaesôfago e gastroparesia;
  • Vacuoterapia endoluminal – técnica inovadora que acelera a cicatrização por meio de pressão negativa aplicada diretamente no local da lesão.

O centro também se destaca por aplicar colangioscopia e ecoendoscopia guiadas por imagem em tempo real, permitindo tratamentos mais seguros para doenças do fígado, pâncreas e vias biliares.

Inteligência artificial a favor da medicina

Um dos diferenciais mais inovadores do centro é a utilização de IA no apoio ao diagnóstico precoce. A tecnologia permite detectar lesões gastrointestinais com maior precisão e agilidade, aumentando as chances de cura e reduzindo a necessidade de cirurgias invasivas.

“Unimos o melhor da medicina com o poder da tecnologia. A inteligência artificial nos permite detectar lesões com mais precisão e rapidez, algo que impacta diretamente no sucesso dos tratamentos”, afirma Fernando Sogayar, diretor-geral do Hospital São Luiz Itaim.

Um marco para o cuidado digestivo no Brasil

A proposta do novo Centro Avançado de Endoscopia é colocar o Hospital São Luiz Itaim na vanguarda do cuidado digestivo no Brasil, integrando assistência, ensino e pesquisa clínica. Com foco na humanização e na precisão, o centro representa um salto qualitativo na forma como condições gastrointestinais serão diagnosticadas e tratadas nos próximos anos.

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Justiça obriga plano de saúde a reembolsar R$ 496 mil por sessões de hemodiálise

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Decisão da 2ª Vara Cível do Butantã considera abusiva a suspensão de reembolso de tratamento vital a paciente com doença renal crônica

Em decisão proferida na última quinta-feira (8), a Justiça de São Paulo determinou que uma operadora de plano de saúde reembolse R$ 496,6 mil a um paciente com doença renal crônica que teve o reembolso de sessões de hemodiálise suspenso de forma unilateral e sem justificativa contratual válida. O caso foi julgado pela juíza Larissa Gaspar Tunala, da 2ª Vara Cível do Butantã.

Segundo os autos, o paciente depende da hemodiafiltração de alto fluxo, realizada cinco vezes por semana, e vinha sendo ressarcido desde 2013. No entanto, a operadora reduziu gradualmente os valores a partir de novembro de 2023, interrompendo completamente os pagamentos em maio de 2024, mesmo sem qualquer alteração contratual ou mudança no tratamento prescrito.

A empresa alegou estar seguindo limites contratuais, mas o argumento foi rechaçado pela magistrada, que classificou como abusiva e ilegal a recusa de reembolso para um tratamento vital à sobrevivência do paciente.

“Se há fraudes, cabe à empresa analisar com o devido cuidado as relações individuais, não penalizando aquele que não tem correlação com os fatos. No limite, importa saber se o autor está sendo tratado e se os valores de reembolso são condizentes com o que se pratica no mercado no mesmo nível de serviços”, afirmou a juíza na sentença.

Cláusulas vagas e livre escolha de prestadores

Outro ponto destacado foi a falta de clareza contratual quanto aos limites de cobertura. A juíza entendeu que o plano de saúde violou os direitos do consumidor ao impor restrições sem transparência e que, mesmo havendo uma rede credenciada, o contrato previa a livre escolha de prestadores.

“Haver rede credenciada é um irrelevante jurídico, pois o contrato permite a livre opção do consumidor”, destacou a magistrada.

Conforto e qualidade de vida preservados

Para a advogada do paciente, Giselle Tapai, especialista em Direito à Saúde, a decisão representa mais do que a garantia de um direito contratual — trata-se de preservar a dignidade e o bem-estar do paciente:

“A decisão permitirá ao beneficiário promover o seu tratamento em clínicas que ofereçam um cuidado diferenciado, como era feito antes do conflito. Ambientes confortáveis, sofisticados e acolhedores impactam positivamente a qualidade de vida do paciente e de sua família”, declarou ao portal Terra.

Precedente relevante para outros casos

A decisão judicial representa um importante precedente para casos semelhantes, nos quais pacientes com doenças crônicas enfrentam dificuldades no custeio de tratamentos contínuos por conta de reembolsos negados ou limitados de forma arbitrária pelas operadoras.

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Correios anunciam plano emergencial para contornar prejuízo bilionário em 2024

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Enfrentando um déficit histórico de R$ 2,6 bilhões em 2024 — quatro vezes maior que o prejuízo de 2023 — os Correios lançaram um pacote de medidas para tentar recuperar o equilíbrio financeiro da estatal. A proposta, divulgada internamente nesta segunda-feira (12), pretende economizar R$ 1,5 bilhão ao longo de 2025 e exige forte adesão dos mais de 86 mil empregados da empresa.

📉 Causas do prejuízo
A estatal atribui a crise principalmente:

  • à queda nas receitas com encomendas internacionais;
  • ao aumento dos custos operacionais, que chegaram a R$ 15,9 bilhões (+ R$ 716 milhões em relação a 2023);
  • aos gastos com pessoal, que subiram de R$ 9,6 bilhões para R$ 10,3 bilhões.

📦 Apenas 15% das mais de 10 mil unidades de atendimento registraram superávit, reforçando o desafio de manter a capilaridade do serviço postal em todos os municípios do país.


📋 Medidas do plano de recuperação:

  1. Redução de jornada de trabalho e salários: de 8h para 6h diárias, com 34h semanais;
  2. Suspensão de férias a partir de junho de 2025, retomando apenas em 2026;
  3. Corte de 20% nos cargos comissionados na sede;
  4. Fim do home office: retorno obrigatório ao trabalho presencial a partir de 23 de junho;
  5. Prorrogação do PDV (Programa de Desligamento Voluntário) até 18 de maio;
  6. Revisão dos planos de saúde com nova rede credenciada e economia prevista de 30%;
  7. Lançamento de um marketplace próprio ainda em 2025;
  8. Captação de R$ 3,8 bilhões com o NDB para modernização e investimento interno.

🚴‍♂️ Investimentos e transição ecológica

Apesar das dificuldades, a estatal afirma manter seu plano de transição sustentável em até 5 anos. Foram investidos R$ 830 milhões em 2024, com destaque para:

  • 50 furgões elétricos;
  • 2.306 bicicletas elétricas e 3.996 convencionais com baú;
  • 1.502 veículos para renovação da frota.

💸 Alerta de liquidez

A empresa consumiu R$ 2,9 bilhões do caixa, restando apenas R$ 249 milhões disponíveis. Isso levou ao atraso de repasses a transportadoras e agências franqueadas, resultando em entregas mais lentas e paralisações parciais dos serviços.


📢 Mensagem da direção

Segundo o documento interno, “cada pequena contribuição dos empregados será essencial para superar os desafios e construir um futuro mais promissor”.

Com o plano de contenção, os Correios tentam evitar nova crise estrutural como a enfrentada em 2016, quando também registraram prejuízo bilionário. A proposta, porém, deve gerar forte resistência dos sindicatos diante da suspensão de direitos e da redução salarial.

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