Novo levantamento do Global Cancer Observatory (Globocan), uma base de dados estatístico de câncer da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC, na sigla em inglês), calcula que, em 2050, o mundo deve registrar mais de 35 milhões de casos de câncer. Para países menos desenvolvidos e em desenvolvimento, incluindo o Brasil, o aumento deve superar os 100%.
O estudo, lançado em abril deste ano, reforça a necessidade de uma escalada global de ações direcionadas para o controle do câncer. Investimentos em prevenção, incluindo a conscientização sobre fatores de risco chave para o câncer (como tabagismo, excesso de peso e obesidade, e infecções), podem evitar milhões de futuros diagnósticos e salvar muitas vidas em todo o mundo.
Além disso, o trabalho também chama a atenção para a escalada geral do câncer e a diversidade dos perfis de câncer por região do mundo e nível de desenvolvimento humano. Nesse sentido, as estatísticas preveem que países com baixos e médios Índices de Desenvolvimento Humano (IDH), que incluem o Brasil, devem registrar o dobro de novos casos nos próximos 30 anos.
“No mundo, mas principalmente no nosso país, precisamos de muito mais atenção da nossa sociedade e em especial, dos nossos governantes para a situação do câncer”, afirma Luciana Holtz, fundadora e presidente do Oncoguia. “O câncer está na fila de espera e os pacientes estão pagando com suas vidas. Isso tem que mudar, o câncer precisa ser tratado de forma prioritária com cuidados iguais e mais justos para todos”.
Casos de câncer devem crescer 100% em regiões de baixo e médio IDH
Segundo o levantamento, em termos absolutos o risco de desenvolver câncer tende a crescer com o aumento do IDH. Por exemplo, o risco acumulado de homens desenvolverem câncer antes dos 75 anos em 2022 foi de 10% em áreas de baixo IDH e mais de 30% em áreas de IDH muito alto. Entretanto, o aumento do número de casos é mais proeminente em países menos desenvolvidos.
Em regiões de baixo IDH, o trabalho prevê um crescimento 142%, chegando a 2 milhões de novos casos até 2050 em relação a 0,8 milhão em 2022. Já para os países de médio IDH, onde o Brasil se encaixa, a projeção de aumento se aproxima dos 100%, passando de 2,4 milhões de casos globais em 2022 para 4,8 milhões em 2050.
Considerando os dados de câncer atuais no país, que preveem 704 mil novos casos de câncer por ano segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Brasil pode registrar mais de 1,4 milhão de casos em 2050.
As diferenças relacionadas ao nível de desenvolvimento das regiões também pode ser notada com relação à mortalidade e tipos de câncer mais incidentes.
Por exemplo, o levantamento mostra que as taxas de câncer de pulmão ocupam o primeiro lugar entre homens e mulheres em países mais desenvolvidos. Isso coloca o tumor como o mais incidente no mundo, com mais de 2,4 milhões de novos casos em 2022.
No entanto, em países menos desenvolvidos ou em desenvolvimento, as taxas de mortalidade por câncer de mama, colo do útero e ovário são de maior magnitude do que as de câncer de pulmão. O câncer do colo do útero, por exemplo, ocupa as cinco primeiras posições em termos de incidência e mortalidade em regiões de baixo e médio IDH.
Os dados mostram também a relação e o impacto dos determinantes sociais no acesso à saúde, diz Luciana Holtz. “Afinal, seguimos perdendo mulheres para o câncer de colo de útero, doença que nem deveria mais existir já que temos uma vacina (HPV) que por preveni-lo”.
“No caso do Brasil, pessoas pobres, pretas e das periferias são as mais vulneráveis e sofrem para cuidar da própria saúde, principalmente diante de um câncer”, ressalta a presidente da ONG.
Estatísticas do câncer no mundo
Segundo o Globocan, em 2022 o mundo registrou cerca de 20 milhões de novos casos de câncer e 9,7 milhões de mortes pela doença. Essas estatísticas sugerem, de acordo com o levantamento, que uma em cada 5 pessoas desenvolverão câncer ao longo da vida. Na projeção para os próximos 30 anos, a estimativa representa um aumento de 77% nos casos de câncer.
Entre os tipos de câncer, o mais incidente foi o câncer de pulmão, com mais de 2,4 milhões de casos globalmente. Em seguida aparece o câncer de mama (2,3 milhões), colorretal (1,9 milhão), próstata (1,4 milhão) e estômago (968 mil).
Em relação à mortalidade, o câncer de pulmão também é disparado o mais preocupante, sendo o responsável por 18,7% do total de mortes por câncer em 2022, registrando mais 1,8 milhões de óbitos. Em segundo lugar, o câncer colorretal aparece com 9,3% das casualidades, seguido pelo câncer de fígado (7,8%), câncer de mama (6,9%) e estômago (6,8%).
No Brasil, a incidência segue as estatísticas globais. Mas, ao separar por gênero, o estudo revela que o câncer de próstata continua sendo o mais incidente em homens, enquanto o de mama é o mais frequente nas mulheres.
O câncer de mama também aparece como principal causa de morte por câncer entre as mulheres. Entre os homens, no entanto, o câncer de pulmão toma o primeiro lugar.