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SXSW 2024: O uso da Inteligência Artificial no contexto clínico

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O SXSW 2024 trouxe uma trilha de palestras dedicadas a cuidados de saúde, e, de longe, o assunto mais comentado nas temáticas de palestras e painéis de discussão foi o uso da inteligência artificial no contexto clínico.

Sabemos que um dos maiores potenciais de disrupção da IA é na indústria de saúde, e dezenas de exemplos reais e aplicáveis atualmente foram citados no evento. Trago os principais pontos de aplicabilidade da IA e seus desafios, conforme discutido pelos participantes de três painéis da trilha de cuidados em saúde: “AI, Healthcare, and the strange future of Medicine”; “Will AI replace Healthcare Workers? No, but it will turn them into Tech Workers”; e “Clinical AI is Not Just Any AI”.

1. Uso de inteligência artificial na tomada de decisão clínica

A IA tem um grande potencial ajudando médicos a tomarem decisões mais seguras, prevenindo erros diagnósticos ou solicitação indiscriminada de exame, porém, apesar dessa potencialidade, especialistas destacaram suas limitações e o caminho para o desenvolvimento de modelos mais confiáveis.

Como o próprio nome de um dos painéis descrevia, uma IA clínica não pode ser qualquer IA, talvez em resposta ao crescente uso do ChatGPT por leigos para diagnóstico de doenças. Sendo assim, os panelistas indicaram quais os desafios que precisariam ser superados para o uso da IA no contexto clínico:

· Responsabilização (Accountability): Um grave problema é que todo erro na cadeia de saúde causa consequências que envolvem contextos extremamente sensíveis à saúde do paciente. Um ponto que ainda não está bem definido é: quem responde por erros eventualmente causados pela IA?

· Transparência e Explicabilidade: Os sistemas de IA devem ser capazes de explicar suas decisões e recomendações de maneira que profissionais de saúde e pacientes possam entender, ou seja, os sistemas precisam ser auditáveis, e o modelo de “caixa preta” dos LLM (large language models) atuais não permite isso.

· Determinismo: Os modelos de IA precisam fornecer resultados consistentes, ou seja, uma mesma pergunta feita de duas maneiras diferentes precisa dar o mesmo resultado. Os modelos gerais atuais não garantem isso.

· Contextualização: É fundamental que IA compreenda a jornada do paciente e o contexto médico, ao invés de interpretar dados como uma folha de papel preenchida por caracteres.

· Falta de Empatia: Uma lacuna significativa da IA é a incapacidade de ter empatia e compreender plenamente as necessidades humanas, algo fundamental na relação médico-paciente.

· Conciliação de informações divergentes: A IA clínica precisa ser capaz de analisar informações que pareçam contraditórias, a exemplo do que os médicos lidam diariamente.

O caminho para superar estes desafios não está tão distante. Embora não seja dada uma “fórmula de bolo”, é claro que alguns princípios precisarão ser aplicados na IA para garantir a superação destes obstáculos.

Um ponto importante é trazer para a IA uma forma de raciocínio clínico semelhante ao humano e extremamente contextualizado. O raciocínio humano é muitas vezes descrito como um processo de dois sistemas: intuitivo e lógico (Sistema 1 e Sistema 2, respectivamente). Para ser efetiva, uma IA na clínica deve ser capaz de integrar a habilidade de reconhecimento de padrões (Sistema 1) com a aplicação de regras lógicas (Sistema 2), utilizando ambos, conforme necessário. Ou seja, além dos algoritmos de deep learning que são extremamente eficientes no reconhecimento de padrões, a IA também precisa incorporar componentes simbólicos, regras lógicas pré-estabelecidas por experts nos respectivos assuntos.

A combinação dessas duas abordagens pode tornar sistemas de IA mais seguros, explicáveis, contextualizados e melhor capazes de auxiliar o médico, ao invés de substituí-los. O grande potencial do uso da IA para decisão clínica é em oferecer uma inteligência aumentada aos profissionais, tornando-os capazes de resolver problemas mais complexos.

2. Uso de IA pelo paciente

A IA generativa também apresenta ampla oportunidade de aplicação na interface com o paciente. Alguns dos potenciais usos envolvem:

  • Aconselhamento médico para casos simples;
  • Tradução da linguagem médico-científica para uma linguagem mais acessível e melhor assimilável pelo paciente;
  • Assistência no lembrete de aderência terapêutica a medicamentos e cuidados em saúde.

A utilização da IA que estará nos consultórios médicos é o uso como assistente virtual pelo paciente, durante a consulta médica, contexto este que o médico precisa estar preparado para enfrentar num futuro bem imediato.

3.  Consequências no mercado de trabalho

Como toda tecnologia disruptiva, a inteligência artificial trouxe um cenário de muita incerteza no mercado de trabalho, e na saúde não foi diferente. As lideranças participantes do painel “Will AI replace Healthcare Workers? No, but it will turn them into Tech Workers”, no entanto, destacam que o impacto no mercado de trabalho em saúde será menor (possivelmente inexistente) no que se refere a quantidade de postos de trabalho. Dado comprobatório do baixo impacto em quantidade de postos de trabalho é que, atualmente, 6 dos 10 campos profissionais de maior aumento de demanda global são da área de saúde.

O impacto, no entanto, será profundo, no que refere a perfil profissional e habilidades. Segundo pesquisa do LinkedIn, 28% das habilidades exigidas para cargos no setor de saúde mudaram desde 2015, e esta é uma tendência que deve se intensificar à medida que as novas tecnologias sejam incorporadas no fluxo de trabalho de hospitais e clínicas.

Conhecimento em dados e entendimento de como melhor usar a IA serão fundamentais para esse novo perfil profissional. Soft skills relacionados à capacidade interpessoal, empatia e atenção também serão fundamentais, pois, diante de um crescente uso de tecnologia nos processos de cuidado, os profissionais estarão muito mais envolvidos na interface humana junto ao paciente para garantir o sucesso dos protocolos terapêuticos e acompanhamento do paciente. Movimento importante deve ser feito, por exemplo, por faculdades de medicina e programas de residência médica no desenvolvimento de um currículo que aborde o uso da IA na prática clínica.

No contexto brasileiro, em que a digitalização de prontuários médicos e a interoperabilidade de dados de saúde ainda estão incipientes, lideranças de saúde precisam pensar em alguns passos antes de tomar ações mais práticas do uso de IA. É necessário começar entendendo e estruturando melhor seus dados. A partir disso, definir perguntas claras e identificar casos de uso reais para orientar o desenvolvimento dessas soluções.

Uma das aplicações mais imediatas da IA no contexto clínico é auxiliar no preenchimento de prontuários eletrônicos, melhorando a eficiência e a acurácia dos dados registrados. São muitas as oportunidades e é fundamental que o médico e profissional de saúde estejam envolvidos nestas iniciativas, garantindo que a nova tecnologia se encaixe dentro do fluxo de trabalho e seja efetivamente adotada para o benefício do paciente e do sistema de saúde.

Por Eduardo Moura


*Eduardo Moura é Médico, Co-fundador do Whitebook e Diretor de Pesquisa da Afya.

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Hospital São Luiz Itaim inaugura Centro Avançado de Endoscopia com foco em alta tecnologia e IA

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Novo centro oferece tratamentos menos invasivos para obesidade, tumores e distúrbios digestivos, com apoio de inteligência artificial e equipe multidisciplinar

O Hospital São Luiz Itaim, da Rede D’Or, inaugurou um moderno Centro Avançado de Endoscopia que promete transformar o cuidado com doenças do trato gastrointestinal. A estrutura une alta tecnologia, inteligência artificial (IA) e procedimentos minimamente invasivos, oferecendo alternativas inovadoras para tratar desde obesidade e diabetes tipo 2 até tumores e complicações pós-operatórias.

Segundo o médico endoscopista Eduardo Guimarães Hourneaux de Moura, responsável técnico pelo serviço, a proposta é clara: “Hoje conseguimos realizar procedimentos que antes exigiam cortes e internações prolongadas, com uma câmera e acesso minimamente invasivo, muitas vezes com alta no mesmo dia.”

Tratamentos modernos com alta precisão

Entre os destaques do novo centro estão técnicas de:

  • Gastroplastia endoscópica – alternativa à cirurgia bariátrica tradicional, realizada por endoscopia para reduzir o estômago;
  • Ablação da mucosa gástrica – aplicação de calor em áreas específicas do estômago para controle da glicose em pacientes com diabetes tipo 2;
  • Dissecção endoscópica da submucosa (ESD) e ressecção endoscópica de parede total (EFTRD) – para remoção de tumores e lesões digestivas de forma precisa, sem cirurgia aberta;
  • POEM e G-POEM – procedimentos para tratar distúrbios digestivos como megaesôfago e gastroparesia;
  • Vacuoterapia endoluminal – técnica inovadora que acelera a cicatrização por meio de pressão negativa aplicada diretamente no local da lesão.

O centro também se destaca por aplicar colangioscopia e ecoendoscopia guiadas por imagem em tempo real, permitindo tratamentos mais seguros para doenças do fígado, pâncreas e vias biliares.

Inteligência artificial a favor da medicina

Um dos diferenciais mais inovadores do centro é a utilização de IA no apoio ao diagnóstico precoce. A tecnologia permite detectar lesões gastrointestinais com maior precisão e agilidade, aumentando as chances de cura e reduzindo a necessidade de cirurgias invasivas.

“Unimos o melhor da medicina com o poder da tecnologia. A inteligência artificial nos permite detectar lesões com mais precisão e rapidez, algo que impacta diretamente no sucesso dos tratamentos”, afirma Fernando Sogayar, diretor-geral do Hospital São Luiz Itaim.

Um marco para o cuidado digestivo no Brasil

A proposta do novo Centro Avançado de Endoscopia é colocar o Hospital São Luiz Itaim na vanguarda do cuidado digestivo no Brasil, integrando assistência, ensino e pesquisa clínica. Com foco na humanização e na precisão, o centro representa um salto qualitativo na forma como condições gastrointestinais serão diagnosticadas e tratadas nos próximos anos.

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Justiça obriga plano de saúde a reembolsar R$ 496 mil por sessões de hemodiálise

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Decisão da 2ª Vara Cível do Butantã considera abusiva a suspensão de reembolso de tratamento vital a paciente com doença renal crônica

Em decisão proferida na última quinta-feira (8), a Justiça de São Paulo determinou que uma operadora de plano de saúde reembolse R$ 496,6 mil a um paciente com doença renal crônica que teve o reembolso de sessões de hemodiálise suspenso de forma unilateral e sem justificativa contratual válida. O caso foi julgado pela juíza Larissa Gaspar Tunala, da 2ª Vara Cível do Butantã.

Segundo os autos, o paciente depende da hemodiafiltração de alto fluxo, realizada cinco vezes por semana, e vinha sendo ressarcido desde 2013. No entanto, a operadora reduziu gradualmente os valores a partir de novembro de 2023, interrompendo completamente os pagamentos em maio de 2024, mesmo sem qualquer alteração contratual ou mudança no tratamento prescrito.

A empresa alegou estar seguindo limites contratuais, mas o argumento foi rechaçado pela magistrada, que classificou como abusiva e ilegal a recusa de reembolso para um tratamento vital à sobrevivência do paciente.

“Se há fraudes, cabe à empresa analisar com o devido cuidado as relações individuais, não penalizando aquele que não tem correlação com os fatos. No limite, importa saber se o autor está sendo tratado e se os valores de reembolso são condizentes com o que se pratica no mercado no mesmo nível de serviços”, afirmou a juíza na sentença.

Cláusulas vagas e livre escolha de prestadores

Outro ponto destacado foi a falta de clareza contratual quanto aos limites de cobertura. A juíza entendeu que o plano de saúde violou os direitos do consumidor ao impor restrições sem transparência e que, mesmo havendo uma rede credenciada, o contrato previa a livre escolha de prestadores.

“Haver rede credenciada é um irrelevante jurídico, pois o contrato permite a livre opção do consumidor”, destacou a magistrada.

Conforto e qualidade de vida preservados

Para a advogada do paciente, Giselle Tapai, especialista em Direito à Saúde, a decisão representa mais do que a garantia de um direito contratual — trata-se de preservar a dignidade e o bem-estar do paciente:

“A decisão permitirá ao beneficiário promover o seu tratamento em clínicas que ofereçam um cuidado diferenciado, como era feito antes do conflito. Ambientes confortáveis, sofisticados e acolhedores impactam positivamente a qualidade de vida do paciente e de sua família”, declarou ao portal Terra.

Precedente relevante para outros casos

A decisão judicial representa um importante precedente para casos semelhantes, nos quais pacientes com doenças crônicas enfrentam dificuldades no custeio de tratamentos contínuos por conta de reembolsos negados ou limitados de forma arbitrária pelas operadoras.

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Correios anunciam plano emergencial para contornar prejuízo bilionário em 2024

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Enfrentando um déficit histórico de R$ 2,6 bilhões em 2024 — quatro vezes maior que o prejuízo de 2023 — os Correios lançaram um pacote de medidas para tentar recuperar o equilíbrio financeiro da estatal. A proposta, divulgada internamente nesta segunda-feira (12), pretende economizar R$ 1,5 bilhão ao longo de 2025 e exige forte adesão dos mais de 86 mil empregados da empresa.

📉 Causas do prejuízo
A estatal atribui a crise principalmente:

  • à queda nas receitas com encomendas internacionais;
  • ao aumento dos custos operacionais, que chegaram a R$ 15,9 bilhões (+ R$ 716 milhões em relação a 2023);
  • aos gastos com pessoal, que subiram de R$ 9,6 bilhões para R$ 10,3 bilhões.

📦 Apenas 15% das mais de 10 mil unidades de atendimento registraram superávit, reforçando o desafio de manter a capilaridade do serviço postal em todos os municípios do país.


📋 Medidas do plano de recuperação:

  1. Redução de jornada de trabalho e salários: de 8h para 6h diárias, com 34h semanais;
  2. Suspensão de férias a partir de junho de 2025, retomando apenas em 2026;
  3. Corte de 20% nos cargos comissionados na sede;
  4. Fim do home office: retorno obrigatório ao trabalho presencial a partir de 23 de junho;
  5. Prorrogação do PDV (Programa de Desligamento Voluntário) até 18 de maio;
  6. Revisão dos planos de saúde com nova rede credenciada e economia prevista de 30%;
  7. Lançamento de um marketplace próprio ainda em 2025;
  8. Captação de R$ 3,8 bilhões com o NDB para modernização e investimento interno.

🚴‍♂️ Investimentos e transição ecológica

Apesar das dificuldades, a estatal afirma manter seu plano de transição sustentável em até 5 anos. Foram investidos R$ 830 milhões em 2024, com destaque para:

  • 50 furgões elétricos;
  • 2.306 bicicletas elétricas e 3.996 convencionais com baú;
  • 1.502 veículos para renovação da frota.

💸 Alerta de liquidez

A empresa consumiu R$ 2,9 bilhões do caixa, restando apenas R$ 249 milhões disponíveis. Isso levou ao atraso de repasses a transportadoras e agências franqueadas, resultando em entregas mais lentas e paralisações parciais dos serviços.


📢 Mensagem da direção

Segundo o documento interno, “cada pequena contribuição dos empregados será essencial para superar os desafios e construir um futuro mais promissor”.

Com o plano de contenção, os Correios tentam evitar nova crise estrutural como a enfrentada em 2016, quando também registraram prejuízo bilionário. A proposta, porém, deve gerar forte resistência dos sindicatos diante da suspensão de direitos e da redução salarial.

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