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Fábio Mattoso, CEO da Tuinda Care: “Com modelos de assinatura, dispositivos médicos não ficariam obsoletos no SUS”

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Tuinda é distribuidora do TytoCare, dispositivo portátil que realiza 8 exames à distância e armazena os resultados em nuvem. Empresa atua em São Caetano do Sul e participa de outras 12 licitações para implementar dispositivo no SUS

Os dispositivos médicos têm potencial para revolucionar cada vez mais a saúde. Com o avanço da tecnologia, a inteligência artificial e a interoperabilidade de dados podem modificar a rapidez, a assertividade em diagnósticos e a forma como profissionais de saúde atuam. Parte dessas tecnologias pode, inclusive, ampliar o acesso da população à saúde. É de olho nesse cenário que a Tuinda Care vem atuando. A empresa é distribuidora exclusiva no Brasil do TytoCare, um dispositivo portátil que realiza 8 exames à distância e armazena os resultados em sua plataforma. Em entrevista ao Futuro da Saúde, o CEO Fabio Mattoso falou sobre os planos da empresa, entrada no SUS e como o modelo de negócio de assinatura poderia contribuir para que equipamentos de saúde não se tornassem obsoletos no SUS.

A healthtech vem buscando aumentar o número de clientes, com o apoio de investidores como o Sabará Hospital Infantil e o Hospital Pequeno Príncipe. Desde janeiro de 2023, a Tuinda realiza atendimentos em São Caetano do Sul, cidade próxima a capital paulista, em uma parceria com a prefeitura. Mais de 11 mil teleconsultas utilizaram a tecnologia e, de acordo com o CEO, foram essenciais para zerar a fila de cardiologia no município.

À frente da empresa, Mattoso quer ampliar o uso do dispositivo no SUS e aponta que a empresa está participando de 12 licitações públicas, mas que ainda não podem ser divulgadas por questões jurídicas. Com experiência no setor, ele foi líder executivo do Watson, tecnologia da IBM que era o “ChatGPT” do tratamento oncológico muito antes do boom da inteligência artificial, além de passagens por GE e Philips.  

Veja abaixo os principais trechos da entrevista:

Hoje, qual a inserção da Tuinda no SUS?

Fabio Mattoso – Neste momento de calamidade pública no Rio Grande do Sul, fornecemos equipamentos a vários municípios, mas isso é pontual. Além de São Caetano, temos outras iniciativas com o SUS, mas elas não são públicas ainda, estão em um momento de licitação, em aprovação pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Estamos participando de 12 licitações diretamente. Isso é muito expressivo. Existe um tempo regulamentar, alguém pode tentar impugnar a licitação, é um instrumento legal e temos que respeitar.

São Paulo está à frente dessa discussão?

Fabio Mattoso – O Estado de São Paulo é onde estamos mais ativos em licitações hoje. Ele está muito maduro em telemedicina. Comparando com outros estados, estamos falando de universos completamente diferentes. A região Centro-Oeste está em uma tendência muito forte, mas em outras regiões não vemos grandes movimentos. Apesar de a telemedicina ser recém-regulamentada, ainda depende muito de um bem querer das pessoas. Alguém que quer fazer isso nascer. A tecnologia está consolidada, mas quando chega um ator disruptivo, se os envolvidos não estiverem com os bons olhos para inserir a telemedicina, não vai para frente.

Como é a parceria com o Hospital Pequeno Príncipe?

Fabio Mattoso – O Hospital Pequeno Príncipe é um dos nossos investidores, através da Associação Eunice Weaver. Cerca de 40% do atendimento é prestado ao SUS, o que o torna um hospital deficitário em lucro, mas que recupera isso através de doações em geral ou de imposto de renda. É totalmente publicizado a maneira como ele trabalha, com seriedade e transparência. O Hospital atende municípios específicos no Paraná utilizando Tyto. Paranaguá e a comunidade indígena de Kakané Porã, por exemplo. O Pequeno Príncipe faz um trabalho belíssimo de atendimento ao SUS, seja para telessaúde, para doenças de alta complexidade, patologias congênitas, pacientes oncológicos ou cirurgias críticas em neonatos. Eles já tratam igual o paciente da saúde suplementar e do SUS. São atendidos na mesma sala, pelo mesmo médico e com hotelaria igual, o que é difícil de ver. Profissionais de saúde nunca viram isso antes. É normal as Santas Casas atenderem ambos sistemas, mas a saúde suplementar na entrada principal e o SUS pela porta da rua lateral. O Pequeno Príncipe atende todo mundo igual, e na alta complexidade. Além de contar com faculdade, centro de pesquisas, centro genômico, unidade oncológica e de transplante. Fico muito orgulhoso de saber que um dos nossos investidores faz um trabalho tão bonito quanto esse.

E além do SUS?

Fabio Mattoso – Fora isso, estamos atendendo o sistema carcerário, que era uma grande dor. A dificuldade do médico lá é ter a colaboração do paciente e também a ajuda de outros colegas dele para o tratamento ou acompanhamento. O médico ficar em uma entidade distante do preso não é o que realmente ajuda. Estar inserido dentro do contexto também é prejudicial, tanto para o médico – porque coloca em risco –, quanto para a população prisional. Muitas vezes instrumentos de telemedicina são importantes como ferramentas para aproximação de extremos, quando você não tem médico, especialista ou subespecialistas para população ou através de interconsultas.

No SUS, a entrada da Tuinda é feita através de parcerias com empresas de telemedicina ou sozinha, em contratos diretos com as próprias prefeituras?

Fabio Mattoso – Em alguns casos, entramos em parceria porque é uma solução mais completa, não queremos colocar só o device. O device sozinho vira um peso de papel, como um estetoscópio normal. Quando entramos prestando serviços médicos ou com uma empresa de telemedicina/telessaúde, às vezes precisa ter todo um aparato para atendimento remoto, mas ao mesmo tempo precisa ter funcionários físicos. Nesse ambiente híbrido a gente não opera, porque aumenta muito a complexidade e esforço, é mais fácil a gente entrar em associação. É muito transparente.

Na sua visão, quais os maiores desafios do SUS?

Fabio Mattoso – Há vários desafios. O primeiro deles, independente se na esfera federal, estadual ou municipal, é que não falta profissionais em um âmbito global, o que falta é uma distribuição demográfica para isso. Faltam especialistas. Quando você busca atendimento médico, você espera alguém que te dê um norte, uma luz. Não obrigatoriamente essa pessoa vai resolver seu problema, mas que pelo menos consiga te encaminhar para o especialista correto. Esse é o segundo ponto de dor do SUS. A gente não tem especialistas para cobrir tudo. Em São Caetano do Sul trabalhamos em grupos específicos, com linhas de cuidado, para cardiologia e dermatologia. A falta de dermatologistas no país é um ponto importante. Um dos cânceres que mais mata é o melanoma, por falta de diagnóstico. Então, um médico com formação generalista ao utilizar o TytoCare como um instrumento de triagem, consegue dizer que a lesão é suspeita e encaminha para um especialista. Em cardiologia atendemos grupos específicos de pessoas com doenças crônicas que precisam de atendimento e não será através de uma Unidade Básica de Saúde. Precisa de um atendimento com um médico acostumado a tratar doenças crônicas e orientar a buscar uma farmácia com tratamentos adequados.

Qual a contribuição do dispositivo para trazer mais resolutividade na telessaúde?

Fabio Mattoso – Em São Caetano zerou a fila de atendimentos para pacientes cardiológicos, por exemplo. Quando falamos que zerou uma fila é muito tocante. A cardiologia tem um peso muito grande, potencializado por patologias prévias como diabetes e hipertensão. Tinha uma lista de espera que foi zerada, é um sinal de orgulho para a gente, e simplesmente porque conectamos um médico especialistas com um médico generalista na ponta. O TytoCare é um estetoscópio também, tem uma ausculta pulmonar, cardíaca e carótida perfeita, comparado a um Littmann digital. A própria FDA diz isso: comparado ao melhor estetoscópio do mundo para pequenas alterações cardíacas, que poderiam passar despercebidos pela utilização de um estetoscópio convencional. Para um leigo é tudo a mesma coisa, pode achar que é preciosismo. Mas se você usa no dia a dia um fone de ouvido ruim, vai ouvir a essência da coisa, mas vai perder detalhes. Na saúde, vai comprometer o diagnóstico. A acurácia depende de qualidade. Além disso, mede função cardíaca. Todas essas informações médicas são armazenadas em cloud, tem o efeito comparativo que não existe hoje, já que depende da memória do médico, que depois de 10 pacientes já esqueceu. Além disso, está gravado. Há dúvidas? Escuta novamente ou faz uma teleinterconsulta com um especialista para ver os detalhes.

Qual a principal barreira para atuar no SUS?

Fabio Mattoso – Vejo resistência dos profissionais de saúde. É muito mais simples andar com um estetoscópio no pescoço, auscultar e mandar o paciente embora. Com o dispositivo vai gastar alguns segundos a mais, mas as informações vão estar salvas para sempre. Existe essa resistência, assim como existe para diabetes, por exemplo. O resultado da glicemia no dispositivo dá um resultado, se ninguém transcrever para um prontuário, a informação está perdida. Gestores não têm resistência. Quando ele olha, observa se é um instrumento de custo, que vai trazer uma economia ou qualidade na melhora de atendimento. Cada um pensa na sua realidade naquele momento, o que é legítimo. Avalia-se caso a caso. Na saúde suplementar, temos clientes operadoras que veem o Tyto como uma ferramenta de saving. Se mando um dispositivo para a casa de um paciente que tem uma patologia específica e remotamente consegue atender esse paciente, ele não precisa ir a unidade. A vaga do pronto-socorro fica livre para outro paciente, reduzindo inclusive, o pedido de exames desnecessários. Existe uma resistência sim, mas é muito mais pelo lado humano do que pelo lado de gestão. 

Vocês atuam através do modelo de assinatura. Os acordos com prefeituras ou estados seguem o mesmo modelo?

Fabio Mattoso – Estamos trabalhando com todos os clientes com esse modelo de assinatura porque achamos melhor. A desvantagem para nós é entrar menos dinheiro de capex, o retorno é mais a longo prazo. Mas é prazeroso saber que esse modelo propicia que mais pessoas tenham acesso a tecnologia. E aí, como gestor, vou ganhar de qualquer jeito, mas vou ganhar um pouco mais pra frente porque não vai ser um modelo transacional. Temos algumas licitações que querem fazer a compra transacional, onde ganharíamos mais dinheiro, mas entramos em um problema de manutenção da solução. Não é caro o suficiente para vender um suporte, é mais fácil trocar o equipamento se acontecer alguma coisa. O modelo de assinatura é mais vantajoso para todo mundo. Porém, existe um hábito dos modelos de licitação que tratam dispositivos médicos igual insumos. Um vidro de constaste radiológico não pode ser tratado como um equipamento de tomografia computadoriza. Mas é. Quantos lugares tem um mamógrafo, mas está parado há tanto tempo porque não tem peças, porque não tinha um contrato de manutenção? Se tivesse um modelo de assinatura ou um modelo de subscrição, o ativo não fica da União. A responsabilidade é do fabricante em fazer a manutenção. Não tem que lidar com a obsolescência de hardware, software ou uma solução. O modelo é respeitosamente viciado a tratar tudo da mesma maneira, e não posso tratar uma solução de tecnologia como se fosse uma caixa de filme de raio-x.

Como a política do Governo para ampliar a saúde digital pode ser uma oportunidade para a Tuinda?

Fabio Mattoso – Vejo uma oportunidade de negócios gigantesca. Está sendo conduzido pela Ana Estela Haddad de um modo primoroso, dentro de todas as dificuldades que tem de regulamentação ou como lida com dados médicos. Mas não é para amanhã. Tudo tem que ter um começo. Demora para sair, mas quando sair, a inércia vai levando. Uma vez que documenta todo o histórico médico do paciente, começa a ter ferramentas de gestão na sua mão que te ajudam não somente na gestão do indivíduo e suas patologias, mas na gestão municipal, estadual ou federal de como o recurso está sendo utilizado. Por isso vejo com excelentes olhos. Não é um programa tapa buraco, que se mudar o governo ele irá mudar. Não tem mais volta. Está sendo muito bem conduzido, mas não é uma coisa que vai acontecer do dia para a noite justamente pelo peso que ele carrega, de seriedade, regulamentação e legislação envolvidas.

E vocês têm capacidade para atender a demanda de todo o país ou há uma limitação na produção da TytoCare?

Fabio Mattoso – A Tuinda é acelerada por duas grandes instituições, o Hospital Pequeno Príncipe e o Hospital Infantil Sabará. Houve um investimento financeiro agressivo justamente para termos um estoque muito sólido. Diferente de outras empresas, que vendem primeiro, correm atrás do dinheiro para fazer, tiramos as licenças de Anvisa, Inmetro e Anatel, construímos a empresa e a partir daí fomos para mercado. Estamos 100% confortáveis com a nossa capacidade atual e com a capacidade de investimentos dos acionistas. Infelizmente, essas limitações atingem o grosso das startups, que tem um grande ideia e vendem para virar um unicórnio ou dependem do dinheiro alheio. A Tuinda tem que ser auditada por duas das big four [empresas de auditoria multinacionais] e faz impairment tests todos os anos. Temos um nível de governança e compliance muito alto, justamente pela capacidade de investimentos dos nossos investidores.

Como você vê a Tuinda nos próximos anos?

Fabio Mattoso – Tenho certeza que estaremos mais consolidados no setor privado, porque tem uma capacidade e velocidade mais rápida para gerar negócios, mas gostaríamos de estar envolvidos no SUS, porque é onde a gente mais precisa de atendimento médico – e não é por falta de médicos. Hoje, temos 575 mil médicos, em pouco tempo vão existir 1 milhão de médicos. Não vai faltar. Mas ao mesmo tempo, vemos notícias de que quase 800 mil pessoas no Rio de Janeiro vão se beneficiar com a chegada de profissionais do Mais Médicos. Estamos falando de 200 médicos. Pegamos um estado do tamanho do Rio de Janeiro e estamos falando que virou um super anúncio colocar 200 médicos a mais lá, sendo que médicos não faltam. Faltam especialistas. O que me incomoda muito é a distribuição demográfica e o acesso. Estamos falando de um país do tamanho do Brasil que só tem 2.500 oncologistas. Gostaria de ver a Tuinda distribuindo mais acesso, estar mais no SUS ajudando como ferramenta de diagnóstico, tratamento e evitando agravos de patologias.

Créditos: https://futurodasaude.com.br/fabio-mattoso-tuinda-care/?trk=organization_guest_main-feed-card_feed-article-content

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Transplante de Fígado de Porco em Humano Marca Avanço Inédito na Medicina Global

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Em um marco histórico para a medicina e a ciência translacional, uma equipe de cirurgiões chineses realizou, pela primeira vez, o transplante de um fígado de porco geneticamente modificado em um paciente humano com morte cerebral. O procedimento, conduzido por médicos da Quarta Universidade Médica Militar de Xian, foi publicado nesta semana na revista Nature, uma das mais prestigiadas do meio científico.

O transplante representa um avanço significativo nas pesquisas sobre xenotransplantes — o uso de órgãos de animais em humanos —, campo que tem ganhado notoriedade frente à escassez crônica de doações de órgãos em todo o mundo. Porcos têm se destacado como os animais mais compatíveis para esse tipo de estudo, e nos últimos anos, já foram utilizados com sucesso em transplantes de rins e corações nos Estados Unidos. No entanto, o fígado, por suas múltiplas funções complexas, ainda era considerado o órgão mais desafiador de se transplantar.

O Experimento e seus Resultados

O fígado utilizado no procedimento foi retirado de um “miniporco” com seis genes editados para torná-lo mais compatível com o corpo humano. O paciente, que estava em morte cerebral, manteve o próprio fígado e recebeu o órgão suíno como um “fígado auxiliar”, técnica que funciona como ponte para pacientes à espera de um transplante definitivo.

Durante os dez dias em que o fígado de porco permaneceu no corpo do paciente, os médicos monitoraram indicadores essenciais como produção de bile, secreção de albumina e resposta imunológica. Segundo o coautor do estudo, Dr. Lin Wang, o órgão funcionou de maneira satisfatória, produzindo bile continuamente e secretando proteínas vitais. Apesar do desempenho estar aquém de um fígado humano em plena atividade, os resultados são considerados extremamente promissores.

Implicações Futuras e Cautela Ética

O estudo foi encerrado após o período de observação, conforme desejo da família do paciente, respeitando todas as diretrizes éticas. A expectativa é de que, futuramente, o uso de fígados suínos modificados possa servir como solução temporária para pacientes com doenças hepáticas graves, ajudando a mantê-los vivos até que um órgão humano esteja disponível.

Pesquisadores internacionais, como o professor Peter Friend, da Universidade de Oxford, destacaram o avanço como “valioso e impressionante”, embora ainda não o vejam como um substituto imediato para transplantes convencionais. Segundo ele, o estudo abre caminho para um futuro em que fígados de porcos geneticamente modificados possam sustentar pacientes com insuficiência hepática grave, especialmente nos momentos críticos.

Colaboração Internacional e Próximos Passos

A equipe chinesa reconheceu a importância das colaborações internacionais, especialmente com pesquisadores dos Estados Unidos. Em experiências anteriores, cientistas americanos conectaram fígados de porco a pacientes com morte cerebral, mas sem realizar o implante. A iniciativa chinesa, portanto, marca um avanço concreto na experimentação clínica do xenotransplante hepático.

Os próximos passos incluirão testes com pacientes vivos, em estudos clínicos mais longos e rigorosos. A esperança é que, com aperfeiçoamentos genéticos adicionais, esses órgãos possam substituir integralmente fígados humanos, salvando milhares de vidas que hoje se perdem na fila de espera por um transplante.

Um Novo Capítulo para a Medicina

A realização do primeiro transplante de fígado suíno em humano é mais do que uma conquista técnica. Trata-se de uma abertura concreta para uma nova era na medicina, onde a biotecnologia, a engenharia genética e a colaboração global podem transformar radicalmente a forma como tratamos falências orgânicas e salvamos vidas.

Diante do sucesso parcial do experimento e da urgência por soluções frente à escassez de órgãos, os olhos do mundo estão agora voltados para a China e os próximos desdobramentos dessa pesquisa. O futuro da medicina de transplantes pode estar mais próximo dos porcos do que jamais imaginamos.

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Transformação Digital na Saúde Pública: O Avanço do PA Saúde Digital no Brasil

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O avanço da transformação digital no setor público brasileiro ganha destaque com o Plano de Ação de Transformação Digital para a Saúde (PA Saúde Digital), uma iniciativa do Ministério da Saúde liderada pelo ministro Alexandre Padilha. O plano tem como principal objetivo modernizar, integrar e otimizar os serviços de saúde pública por meio de tecnologias digitais, inteligência artificial e sistemas de informação interligados.

Lançado como parte da estratégia nacional de digitalização da saúde, o PA Saúde Digital contempla ações de curto, médio e longo prazo que buscam reestruturar a forma como o Sistema Único de Saúde (SUS) opera em todo o território nacional. Um dos marcos do plano é a criação do primeiro hospital inteligente do Brasil, em parceria com a Universidade de São Paulo (USP). A estrutura será modelo na aplicação de inteligência artificial para atendimentos de urgência e emergência, com potencial para reduzir significativamente o tempo de espera e otimizar os fluxos assistenciais.

A iniciativa tem como base a digitalização e integração de dados entre as redes municipais, estaduais e federal. Em março de 2025, o Ministério da Saúde recebeu mais de 120 planos de ação elaborados por gestores locais, reafirmando o compromisso das esferas federativas com o projeto. Essa adesão expressiva demonstra o interesse crescente em modernizar os sistemas de regulação, vigilância, atenção primária e hospitalar por meio da tecnologia.

Um exemplo prático dos resultados já alcançados é a integração dos dados de regulação do estado do Ceará à Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS). A ação permitiu o compartilhamento em tempo real de informações clínicas e administrativas, proporcionando maior eficiência na gestão e tomada de decisões assistenciais.

O PA Saúde Digital também é um dos pilares do programa SUS Digital, iniciativa estruturante que visa transformar o SUS em um sistema mais eficiente, acessível e centrado no cidadão. Em Serrana (SP), por exemplo, foi apresentada a primeira etapa do SUS Digital, evidenciando os ganhos em transparência, redução de desperdícios e ampliação do acesso a serviços por meio da digitalização.

Outro aspecto importante do plano é a adoção de soluções inovadoras como prontuários eletrônicos interoperáveis, telemedicina, aplicativos para acompanhamento de pacientes e algoritmos preditivos de demandas de saúde. A transformação digital não apenas contribui para a melhoria da qualidade dos serviços, como também fortalece o papel do SUS como um sistema público de saúde de referência mundial.

A proposta do Ministério da Saúde com o PA Saúde Digital é clara: colocar o Brasil na vanguarda da saúde digital, garantindo que a tecnologia seja uma aliada na universalização do cuidado, na promoção da equidade e na construção de um sistema de saúde mais resiliente e preparado para os desafios do século XXI.

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Hospitais privados sofrem com R$ 5,8 bilhões em glosas e cobram revisão na relação com operadoras de saúde

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Levantamento da Anahp mostra que quase 16% dos pagamentos foram retidos em 2024, comprometendo investimentos e a sustentabilidade dos serviços hospitalares

A retenção de pagamentos por parte das operadoras de saúde — prática conhecida como glosa — atingiu níveis alarmantes em 2024, segundo dados divulgados pela Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp). De acordo com o levantamento, os hospitais deixaram de receber R$ 5,8 bilhões em valores referentes a procedimentos realizados, o que representa 15,89% do total faturado ao longo do ano.

Esse índice é quatro pontos percentuais maior que em 2023, e levanta sérias preocupações sobre a sustentabilidade financeira do setor hospitalar privado no Brasil.

Glosas: justificativas x excesso

A pesquisa da Anahp foi realizada entre 21 de janeiro e 28 de fevereiro de 2025, com a participação de 85 hospitais associados. Dentre as contas glosadas, apenas 1,96% foram consideradas justificáveis, ou seja, resultaram de erros ou inconsistências legítimas nos processos assistenciais ou administrativos. Isso indica que a maior parte das glosas teve caráter questionável ou excessivo, segundo os hospitais.

Essa prática de glosas sistemáticas compromete diretamente o fluxo financeiro dos hospitais e, por consequência, sua capacidade de manter e expandir a oferta de serviços à população.

Impacto direto na assistência

O levantamento também revelou que o saldo de provisão para devedores — uma espécie de reserva que os hospitais mantêm para lidar com atrasos e inadimplências — cresceu para R$ 1,8 bilhão em 2024, contra R$ 1,4 bilhão no ano anterior.

Em consequência desse cenário, 41,7% dos hospitais entrevistados afirmaram ter sido obrigados a reduzir investimentos planejados. Essa contenção de recursos afeta diretamente áreas essenciais como:

  • Expansão de leitos;
  • Modernização da infraestrutura;
  • Aquisição de novos equipamentos;
  • Capacitação de equipes médicas.

Uma relação que precisa ser revista

Para o diretor-executivo da Anahp, Antônio Britto, o problema vai além dos números. “O setor hospitalar depende, em grande parte, dos repasses das operadoras para manter suas atividades. As glosas, quando utilizadas de forma sistemática para retenção de recursos, afetam toda a cadeia, incluindo fornecedores e serviços de medicina diagnóstica”, afirma.

Britto reforça que o direito de revisar e auditar procedimentos é legítimo, mas deve ser feito com transparência e responsabilidade, de modo a não inviabilizar a operação dos hospitais.

Operadoras lucram, mas hospitais sangram

Os dados do relatório ganham ainda mais peso diante dos bons resultados financeiros recentes das operadoras de saúde, conforme divulgado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). O setor de planos de saúde apresentou, em 2024, o melhor desempenho financeiro dos últimos cinco anos.

Para Britto, é essencial que esses ganhos sejam compartilhados de maneira equilibrada em toda a cadeia da saúde. “A sustentabilidade da saúde suplementar depende da saúde financeira dos hospitais. Não é possível manter um sistema eficiente se os prestadores de serviço não recebem pelos atendimentos realizados”, conclui.


Reflexão: o futuro da saúde suplementar em xeque?

O aumento das glosas e a insatisfação dos hospitais privados sinalizam a urgência de um novo modelo de relação entre operadoras e prestadores. Em um momento em que se discute cada vez mais a importância da eficiência, da qualidade assistencial e da humanização, a sustentabilidade financeira dos hospitais é peça-chave para garantir o acesso da população a serviços de saúde de alto nível.

Mais do que nunca, é preciso repensar os mecanismos de regulação, auditoria e remuneração no setor da saúde suplementar. O equilíbrio entre operadoras e prestadores é não apenas uma questão contábil — é uma questão de saúde pública.

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