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Olimpíadas: toda dor pode virar uma lesão?

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Ortopedista do esporte explica que apesar do preparo físico e mental, atletas de alto rendimento enfrentam dores e lesões que desafiam seus limites

Lesões nos esportes olímpicos desafiam atletas na busca por pódios e medalhas. Créditos: Divulgação

A vida de um atleta olímpico é caracterizada por uma rotina de treinamento intensa e disciplinada. Para muitos, isso significa treinar até seis vezes por semana, com sessões que podem se estender por várias horas diárias, dependendo da modalidade esportiva. Esse rigor é essencial para alcançar o mais alto nível de desempenho, demandando um compromisso total com o desenvolvimento físico e técnico. A rotina também abrange estratégias de recuperação, controle nutricional e cuidados médicos constantes. Mesmo com todo esse preparo, a dor é uma companheira constante nos esportes de alto rendimento, levantando a questão crucial: toda dor pode se transformar em lesão?

“O desconforto é inevitável para os atletas. Nem toda dor significa uma lesão iminente, mas é essencial reconhecer os sinais do corpo para prevenir problemas mais graves,” explica o ortopedista do esporte e cirurgião, Dr. Alexandre Guedes,. “Embora dores musculares e articulares sejam comuns, sintomas persistentes merecem atenção e investigação médica para evitar complicações sérias,” alerta o especialista.

Principais lesões e como os atletas lidam com elas

Os atletas enfrentam uma variedade de lesões, desde tendinites até fraturas. Na ginástica artística, por exemplo, os impactos repetitivos aumentam o risco de lesões nos tornozelos e joelhos. A ginasta Flávia Saraiva competiu nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 após sofrer uma lesão no tornozelo. Rebeca Andrade, por sua vez, que é a atleta brasileira com maior número de medalhas olímpicas, superou múltiplas cirurgias nos joelhos para conquistar medalhas em Tóquio e Paris, demonstrando resiliência técnica na execução de suas séries.

Esportes de contato, como judô e rugby, também estão entre os que mais provocam contusões, mas em modalidades diversas é possível registrar ocorrência de lesões que mudam os planos e as chances de vitória dos atletas por completo. Nestes Jogos Olímpicos de Paris, a atleta de salto em altura Valdileia Martins teve que abandonar a final da competição devido uma entorse no tornozelo esquerdo. Já o atleta Isaac Souza, que estava classificado para a prova de plataforma de 10m dos saltos ornamentais, foi impedido de participar das Olimpíadas deste ano por conta de um rompimento do tendão do cotovelo (tríceps) esquerdo.

Para driblar as lesões durante uma competição, os atletas adotam várias estratégias essenciais além do fortalecimento muscular. “O aquecimento adequado e o alongamento são fundamentais para preparar o corpo para a atividade intensa, reduzindo significativamente o risco de lesões. A fisioterapia também desempenha um papel crucial na recuperação e na reabilitação, permitindo que os atletas retornem à competição com segurança. Além disso, o uso de equipamentos de suporte, como órteses e faixas, é comum para proteger e estabilizar áreas vulneráveis, oferecendo suporte adicional durante a competição e ajudando a prevenir novas lesões”, explica o Dr. Alexandre Guedes. 

Dados históricos de lesões olímpicas

Desde os Jogos Olímpicos de Inverno de 2002, em Salt Lake City, o Comitê Olímpico Internacional (COI) tem monitorado a incidência de lesões em eventos olímpicos. Essa prática sublinha a importância da ortopedia na prática esportiva, tanto no tratamento quanto na prevenção de lesões. 

Nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, a taxa de lesões foi de 10%, próxima dos 11% observados em Londres 2012 e dos 8% registrados no Rio de Janeiro em 2016. Os esportes com maior risco de lesão são taekwondo, futebol, ciclismo BMX, handebol, mountain bike, hóquei, levantamento de peso, atletismo e badminton. As lesões traumáticas mais comuns são rupturas ligamentares em áreas como joelho, tornozelo e coxa.

Durante os Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, uma pesquisa publicada no British Journal of Sports Medicine revelou que, dos 10.568 atletas que participaram (4.676 mulheres, representando 44%, e 5.892 homens, 56%), 11% sofreram pelo menos uma lesão ao longo do evento. 

A pesquisa mostrou que cerca de um terço dessas lesões foi grave o suficiente para impedir os atletas de treinar ou competir. Entre as lesões que afastaram os atletas das competições ou dos treinos por mais de uma semana estavam 47 entorses (afetando várias articulações em diferentes esportes), 38 distensões musculares (principalmente na coxa e predominantemente no atletismo), e 24 fraturas (com maior frequência em esportes coletivos, afetando diversas partes do corpo).

E nos Jogos Olímpicos de Tóquio foram registradas 1.035 lesões.

Evolução dos treinos e aumento de lesões

Com o aumento da intensidade dos treinos, o nível de competitividade aumenta. E isso eleva o risco de lesões. Por isso, o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar de saúde, que inclui ortopedistas e fisioterapeutas, é essencial para profissionais de alto nível. 

“Enquanto os atletas se tornam mais fortes e rápidos, as lesões se tornam mais comuns e complexas. Isso é um reflexo dos programas de treinamento que exigem cada vez mais dos competidores, fazendo com que o gerenciamento de lesões se torne uma parte crítica da vida esportiva”, explica o ortopedista do esporte, complementando: “Em um cenário onde a linha entre a dor aceitável e a lesão grave é tênue, a compreensão dos sinais do corpo e o apoio médico são essenciais para que os atletas possam competir no mais alto nível, sem comprometer sua saúde a longo prazo”.

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