Conecte-se conosco

Atualidades

Fundação do Câncer lança panorama sobre o câncer do colo do útero

Publicado

em

A Fundação do Câncer lançou uma publicação inédita: o info.oncollect, publicação periódica cujo primeiro número trata exclusivamente das lesões precursoras e do câncer do colo do útero no país. “O controle do câncer do colo do útero representa um enorme desafio. Somente para este ano são estimados mais de 16 mil novos casos da doença pelo Ministério da Saúde, apesar da divulgação de medidas de prevenção e de controle e da existência da vacina contra o papilomavírus humano (HPV), principal causador deste câncer”, atenta Luiz Augusto Maltoni, diretor executivo da entidade.

Um problema de saúde pública no Brasil, o câncer do colo do útero está entre os cinco mais incidentes na população feminina e é a quarta causa de morte por câncer em mulheres no país. Em 2020 ocorreram mais de 6 mil óbitos por essa neoplasia, causado pela infecção persistente por tipos oncogênicos do Papilomavírus Humano (HPV). “Daí a importância do primeiro número do nosso boletim científico ser dedicado a esse tema. Nele, encontra-se uma série de análises sobre a incidência, a mortalidade e a morbidade da doença”, diz o epidemiologista e consultor médico da Fundação do Câncer, Alfredo Scaff. Além de Scaff, o projeto conta com a expertise das pesquisadoras Yammé Portela e Rejane Reis.

Os resultados encontrados apontam que muito ainda precisa ser feito no país, pois há diferenças regionais marcantes que sinalizam lacunas no rastreamento, na detecção precoce e no tratamento. O avanço do controle do câncer do colo do útero no Brasil nos próximos anos depende do aumento da cobertura da vacinação contra HPV; da redução das barreiras de acesso, principalmente para mulheres que nunca realizaram exames de rastreamento ou o fizeram há mais de três anos; da redução do rastreamento excessivo fora da população-alvo e da periodicidade recomendada; da garantia da qualidade dos testes de rastreio e da melhoria do seguimento das mulheres com resultados alterados e do tratamento dos casos confirmados, por meio da adesão a diretrizes sólidas baseadas em evidências científicas.

Resultados encontrados

O info.oncollect, a partir dos Registros de Câncer de Base Populacional (RCBP), do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e dos Registros Hospitalares de Câncer (RHC) – entre os anos de 2005 e 2020 – apresenta informações relevantes sobre o atual cenário e tem potencial para subsidiar políticas para o enfrentamento do problema.

Os dados mostram que mais de 50% dos casos de neoplasia do colo do útero são diagnosticados em fase avançada. A publicação revela ainda uma grande diferença na incidência tanto para neoplasia in situ (lesão precursora do câncer e tratável com boa possibilidade de cura antes do desenvolvimento da doença) quanto para neoplasia maligna (a doença estabelecida em si) dentre as regiões do país. “Esse cenário aponta para necessidades relacionadas a políticas de prevenção primária e detecção precoce em níveis diferentes, demandando ações diferenciadas de acordo com o diagnóstico situacional de cada região”, observa Alfredo Scaff.

Por meio das taxas de incidência e mortalidade foi possível conhecer a magnitude da doença nas mulheres com idades-alvo do programa de rastreamento. Já com as análises de morbidade hospitalar observou-se as características sociodemográficas das mulheres com a neoplasia, diagnóstico e tratamento nas unidades de saúde.

Segundo Yammé Portela, uma das pesquisadoras, as análises encontradas reforçam a necessidade de prevenção e diagnóstico precoce, bem como de melhorar o acesso ao tratamento de forma mais rápida, já que mais de um terço das mulheres que chegaram à unidade hospitalar sem diagnóstico e sem tratamento, independentemente do tipo de neoplasia, receberam tratamento após 60 dias. E mais de 65% das que chegaram à unidade hospitalar com diagnóstico e sem tratamento não o receberam dentro do prazo de 60 dias. “Os achados apontam que muito ainda precisa ser feito para resolver este problema e cumprir a lei 12.732/12, que determina que pacientes com câncer devem iniciar o tratamento em até 60 dias após o diagnóstico da doença”, alerta Yammê.

A maior taxa de incidência da neoplasia maligna foi encontrada na região Norte, contrapondo-se com a menor taxa de neoplasia in situ, sendo que a maior taxa de mortalidade no Brasil é nessa região. O risco de morte por câncer do colo do útero é três vezes maior na região Norte, quando comparado à região Sudeste. Por outro lado, a região Sudeste apresenta a maior taxa de incidência de neoplasia in situ, a menor taxa para a neoplasia maligna e a menor taxa de mortalidade, refletindo melhores condições de acesso ao rastreamento, à confirmação diagnóstica e ao tratamento.

A análise do percentual de neoplasia maligna por faixa etária reforça a recomendação de início do rastreamento aos 25 anos, pois antes dessa idade são diagnosticados apenas 1% dos casos e os danos relacionados à prática superam os benefícios.

As informações referentes ao percentual de neoplasia segundo raça/cor da pele demonstram preponderância em mulheres pardas, e estão de acordo com os achados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019, indicando que menor proporção dessas mulheres realizou o exame preventivo para câncer do colo do útero nos últimos 3 anos anteriores à pesquisa. O mesmo ocorre em relação ao percentual de neoplasia segundo escolaridade: tanto no boletim como na PNS a menor escolaridade foi associada com maior percentual de neoplasia e menor proporção de exames preventivos realizados, respectivamente. “É fundamental destacar a iniquidade em saúde. Mulheres pardas e negras e com menor escolaridade estão em maior situação de vulnerabilidade”, destaca a pesquisadora Rejane Reis entre os achados da pesquisa.

Essa não é a primeira publicação da Fundação do Câncer sobre o tema. No ano passado, a instituição lançou o Projeto para Fortalecimento das Ações de Prevenção Primária e Secundária do Câncer do Colo do Útero e divulgou a pesquisa Conhecimento e Práticas da População e dos Profissionais de Saúde sobre Prevenção do Câncer do Colo do Útero, com o objetivo de identificar as barreiras e as lacunas sobre a vacinação contra HPV e o rastreamento no Brasil.

Para ver o estudo completo clique aqui.

Atualidades

Transplante de Fígado de Porco em Humano Marca Avanço Inédito na Medicina Global

Publicado

em

Em um marco histórico para a medicina e a ciência translacional, uma equipe de cirurgiões chineses realizou, pela primeira vez, o transplante de um fígado de porco geneticamente modificado em um paciente humano com morte cerebral. O procedimento, conduzido por médicos da Quarta Universidade Médica Militar de Xian, foi publicado nesta semana na revista Nature, uma das mais prestigiadas do meio científico.

O transplante representa um avanço significativo nas pesquisas sobre xenotransplantes — o uso de órgãos de animais em humanos —, campo que tem ganhado notoriedade frente à escassez crônica de doações de órgãos em todo o mundo. Porcos têm se destacado como os animais mais compatíveis para esse tipo de estudo, e nos últimos anos, já foram utilizados com sucesso em transplantes de rins e corações nos Estados Unidos. No entanto, o fígado, por suas múltiplas funções complexas, ainda era considerado o órgão mais desafiador de se transplantar.

O Experimento e seus Resultados

O fígado utilizado no procedimento foi retirado de um “miniporco” com seis genes editados para torná-lo mais compatível com o corpo humano. O paciente, que estava em morte cerebral, manteve o próprio fígado e recebeu o órgão suíno como um “fígado auxiliar”, técnica que funciona como ponte para pacientes à espera de um transplante definitivo.

Durante os dez dias em que o fígado de porco permaneceu no corpo do paciente, os médicos monitoraram indicadores essenciais como produção de bile, secreção de albumina e resposta imunológica. Segundo o coautor do estudo, Dr. Lin Wang, o órgão funcionou de maneira satisfatória, produzindo bile continuamente e secretando proteínas vitais. Apesar do desempenho estar aquém de um fígado humano em plena atividade, os resultados são considerados extremamente promissores.

Implicações Futuras e Cautela Ética

O estudo foi encerrado após o período de observação, conforme desejo da família do paciente, respeitando todas as diretrizes éticas. A expectativa é de que, futuramente, o uso de fígados suínos modificados possa servir como solução temporária para pacientes com doenças hepáticas graves, ajudando a mantê-los vivos até que um órgão humano esteja disponível.

Pesquisadores internacionais, como o professor Peter Friend, da Universidade de Oxford, destacaram o avanço como “valioso e impressionante”, embora ainda não o vejam como um substituto imediato para transplantes convencionais. Segundo ele, o estudo abre caminho para um futuro em que fígados de porcos geneticamente modificados possam sustentar pacientes com insuficiência hepática grave, especialmente nos momentos críticos.

Colaboração Internacional e Próximos Passos

A equipe chinesa reconheceu a importância das colaborações internacionais, especialmente com pesquisadores dos Estados Unidos. Em experiências anteriores, cientistas americanos conectaram fígados de porco a pacientes com morte cerebral, mas sem realizar o implante. A iniciativa chinesa, portanto, marca um avanço concreto na experimentação clínica do xenotransplante hepático.

Os próximos passos incluirão testes com pacientes vivos, em estudos clínicos mais longos e rigorosos. A esperança é que, com aperfeiçoamentos genéticos adicionais, esses órgãos possam substituir integralmente fígados humanos, salvando milhares de vidas que hoje se perdem na fila de espera por um transplante.

Um Novo Capítulo para a Medicina

A realização do primeiro transplante de fígado suíno em humano é mais do que uma conquista técnica. Trata-se de uma abertura concreta para uma nova era na medicina, onde a biotecnologia, a engenharia genética e a colaboração global podem transformar radicalmente a forma como tratamos falências orgânicas e salvamos vidas.

Diante do sucesso parcial do experimento e da urgência por soluções frente à escassez de órgãos, os olhos do mundo estão agora voltados para a China e os próximos desdobramentos dessa pesquisa. O futuro da medicina de transplantes pode estar mais próximo dos porcos do que jamais imaginamos.

Continue Lendo

Atualidades

Transformação Digital na Saúde Pública: O Avanço do PA Saúde Digital no Brasil

Publicado

em

O avanço da transformação digital no setor público brasileiro ganha destaque com o Plano de Ação de Transformação Digital para a Saúde (PA Saúde Digital), uma iniciativa do Ministério da Saúde liderada pelo ministro Alexandre Padilha. O plano tem como principal objetivo modernizar, integrar e otimizar os serviços de saúde pública por meio de tecnologias digitais, inteligência artificial e sistemas de informação interligados.

Lançado como parte da estratégia nacional de digitalização da saúde, o PA Saúde Digital contempla ações de curto, médio e longo prazo que buscam reestruturar a forma como o Sistema Único de Saúde (SUS) opera em todo o território nacional. Um dos marcos do plano é a criação do primeiro hospital inteligente do Brasil, em parceria com a Universidade de São Paulo (USP). A estrutura será modelo na aplicação de inteligência artificial para atendimentos de urgência e emergência, com potencial para reduzir significativamente o tempo de espera e otimizar os fluxos assistenciais.

A iniciativa tem como base a digitalização e integração de dados entre as redes municipais, estaduais e federal. Em março de 2025, o Ministério da Saúde recebeu mais de 120 planos de ação elaborados por gestores locais, reafirmando o compromisso das esferas federativas com o projeto. Essa adesão expressiva demonstra o interesse crescente em modernizar os sistemas de regulação, vigilância, atenção primária e hospitalar por meio da tecnologia.

Um exemplo prático dos resultados já alcançados é a integração dos dados de regulação do estado do Ceará à Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS). A ação permitiu o compartilhamento em tempo real de informações clínicas e administrativas, proporcionando maior eficiência na gestão e tomada de decisões assistenciais.

O PA Saúde Digital também é um dos pilares do programa SUS Digital, iniciativa estruturante que visa transformar o SUS em um sistema mais eficiente, acessível e centrado no cidadão. Em Serrana (SP), por exemplo, foi apresentada a primeira etapa do SUS Digital, evidenciando os ganhos em transparência, redução de desperdícios e ampliação do acesso a serviços por meio da digitalização.

Outro aspecto importante do plano é a adoção de soluções inovadoras como prontuários eletrônicos interoperáveis, telemedicina, aplicativos para acompanhamento de pacientes e algoritmos preditivos de demandas de saúde. A transformação digital não apenas contribui para a melhoria da qualidade dos serviços, como também fortalece o papel do SUS como um sistema público de saúde de referência mundial.

A proposta do Ministério da Saúde com o PA Saúde Digital é clara: colocar o Brasil na vanguarda da saúde digital, garantindo que a tecnologia seja uma aliada na universalização do cuidado, na promoção da equidade e na construção de um sistema de saúde mais resiliente e preparado para os desafios do século XXI.

Continue Lendo

Atualidades

Hospitais privados sofrem com R$ 5,8 bilhões em glosas e cobram revisão na relação com operadoras de saúde

Publicado

em

Levantamento da Anahp mostra que quase 16% dos pagamentos foram retidos em 2024, comprometendo investimentos e a sustentabilidade dos serviços hospitalares

A retenção de pagamentos por parte das operadoras de saúde — prática conhecida como glosa — atingiu níveis alarmantes em 2024, segundo dados divulgados pela Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp). De acordo com o levantamento, os hospitais deixaram de receber R$ 5,8 bilhões em valores referentes a procedimentos realizados, o que representa 15,89% do total faturado ao longo do ano.

Esse índice é quatro pontos percentuais maior que em 2023, e levanta sérias preocupações sobre a sustentabilidade financeira do setor hospitalar privado no Brasil.

Glosas: justificativas x excesso

A pesquisa da Anahp foi realizada entre 21 de janeiro e 28 de fevereiro de 2025, com a participação de 85 hospitais associados. Dentre as contas glosadas, apenas 1,96% foram consideradas justificáveis, ou seja, resultaram de erros ou inconsistências legítimas nos processos assistenciais ou administrativos. Isso indica que a maior parte das glosas teve caráter questionável ou excessivo, segundo os hospitais.

Essa prática de glosas sistemáticas compromete diretamente o fluxo financeiro dos hospitais e, por consequência, sua capacidade de manter e expandir a oferta de serviços à população.

Impacto direto na assistência

O levantamento também revelou que o saldo de provisão para devedores — uma espécie de reserva que os hospitais mantêm para lidar com atrasos e inadimplências — cresceu para R$ 1,8 bilhão em 2024, contra R$ 1,4 bilhão no ano anterior.

Em consequência desse cenário, 41,7% dos hospitais entrevistados afirmaram ter sido obrigados a reduzir investimentos planejados. Essa contenção de recursos afeta diretamente áreas essenciais como:

  • Expansão de leitos;
  • Modernização da infraestrutura;
  • Aquisição de novos equipamentos;
  • Capacitação de equipes médicas.

Uma relação que precisa ser revista

Para o diretor-executivo da Anahp, Antônio Britto, o problema vai além dos números. “O setor hospitalar depende, em grande parte, dos repasses das operadoras para manter suas atividades. As glosas, quando utilizadas de forma sistemática para retenção de recursos, afetam toda a cadeia, incluindo fornecedores e serviços de medicina diagnóstica”, afirma.

Britto reforça que o direito de revisar e auditar procedimentos é legítimo, mas deve ser feito com transparência e responsabilidade, de modo a não inviabilizar a operação dos hospitais.

Operadoras lucram, mas hospitais sangram

Os dados do relatório ganham ainda mais peso diante dos bons resultados financeiros recentes das operadoras de saúde, conforme divulgado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). O setor de planos de saúde apresentou, em 2024, o melhor desempenho financeiro dos últimos cinco anos.

Para Britto, é essencial que esses ganhos sejam compartilhados de maneira equilibrada em toda a cadeia da saúde. “A sustentabilidade da saúde suplementar depende da saúde financeira dos hospitais. Não é possível manter um sistema eficiente se os prestadores de serviço não recebem pelos atendimentos realizados”, conclui.


Reflexão: o futuro da saúde suplementar em xeque?

O aumento das glosas e a insatisfação dos hospitais privados sinalizam a urgência de um novo modelo de relação entre operadoras e prestadores. Em um momento em que se discute cada vez mais a importância da eficiência, da qualidade assistencial e da humanização, a sustentabilidade financeira dos hospitais é peça-chave para garantir o acesso da população a serviços de saúde de alto nível.

Mais do que nunca, é preciso repensar os mecanismos de regulação, auditoria e remuneração no setor da saúde suplementar. O equilíbrio entre operadoras e prestadores é não apenas uma questão contábil — é uma questão de saúde pública.

Continue Lendo

Mais Vistos