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Hospital dos EUA vira “cobaia” da IA; médicos estão preocupados

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Mount Sinai, entre outros, testam novas tecnologias, que, em tese, auxiliam os médicos; mas há quem duvide disse.

O Hospital Mount Sinai, nos EUA, vem sendo usado como “cobaia” da inteligência artificial (IA) por meio de alguns aparatos que, enquanto mostram potencial para uns, deixam alguns médicos e enfermeiros preocupados com o custo que ela pode trazer.

Um exemplo disso é o que aconteceu com Bojana Milekic, médica de cuidados críticos do hospital, que, a cada dia, verifica em seu computador o nome de cada paciente seu, buscando a pontuação de cada um – gerenciada por IA – que aponta aqueles que podem morrer.

Certo dia, em maio, ela notou que um paciente de 74 anos com problemas pulmonares estava com pontuação .81, sendo que o valor máximo é de .64.

Contudo, ele não parecia estar com dores, mas se agarrou à mão de sua filha. Foi então que Milekic notou que um tubo conectado aos pulmões do paciente estava retendo fluído, diminuindo a oxigenação no sangue do idoso. Após a “simples intervenção”, a oxigenação do homem se estabilizou. Se não fosse o software no computador da médica, talvez ela não soubesse da condição.

Testando a tecnologia na saúde

Isso mostra o potencia da IA na medicina, como já vemos há tempos. O Mount Sinai está entre os hospitais de elite dos EUA que tem gasto centenas de milhões de dólares para implantar softwares de IA e instrução adequada, de modo que essas instituições viraram laboratórios da tecnologia.

A animação da chefia desses hospitais com a IA se baliza, por exemplo, em recente estudo, que indicou que leituras de mamografias realizadas pela tecnologia detecta 20% a mais de cânceres de mama do que os radiologistas, além, é claro, da convicção de que a IA é o futuro da medicina mundial.

Os pesquisadores também vêm trabalhando na tradução da IA generativa – aquela que suporta o ChatGPT, Bard, e tantos outros chatbots que surgiram desde o ano passado – para a configuração hospitalar.

  • Segundo o The Washington Post, o Mount Sinai, por exemplo, implantou grupo de especialistas na tecnologia para desenvolver ferramentas médicas internas, às quais médicos e enfermeiros da instituição já estão testando nos cuidados clínicos;
  • Softwares de transcrição auxiliam no preenchimento da papelada, enquanto os chatbots auxiliam no preenchimento do resumo das condições clínicas dos pacientes.

IA e medicina: namoro é antigo

Os hospitais vêm flertando com a IA por décadas. Já nos anos 1970, pesquisadores da Universidade de Stanford criaram sistema rudimentar de IA que perguntava aos médicos sobre sintomas de um paciente e, a partir delas, dava um diagnóstico com base em banco de dados com infecções conhecidas à época.

Nos anos 1990 e no início dos anos 2000, algoritmos de IA começaram a decifrar padrões complexos em raios-x, tomografias computadorizadas e imagens MRIs para encontrar anormalidades que o olho humano pode não detectar.

Anos depois, robôs equipados com visão via IA começaram a operar ao lado de cirurgiões humanos. Com o advento dos registros médicos eletrônicos, as empresas implementaram algoritmos que escaneavam dados-chave do paciente para encontrar tendências e comorbidades com certas doenças, recomendando assim tratamentos ideais para cada caso.

Conforme a computação foi ficando mais e mais desenvolvida e empoderou a IA, os algoritmos saíram da identificação de tendências para prever se um paciente em particular sofreria de alguma doença no futuro. O engrandecimento da IA generativa criou ferramentas que imitam mais detalhadamente o cuidado ao paciente.

Outros testes

Em março, o sistema de saúde da Universidade do Kansas começou a usar chatbots médicos para automatizar notas clínicas e conversas médicas.

Por sua vez, a clínica Mayo, em Minnesota, vem utilizando um chatbot do Google treinado em perguntas do exame de licenciamento de médicos, chamado Med-Pal 2, de modo a gerar respostas a questões de cuidados com a saúde, sumarizar documentos clínicos e organizar dados.

Preocupação política

Muitos desses produtos já estão sob os olhos dos políticos. O senador estadunidense Mark R. Warner, na terça-feira (8), pediu cautela no lançamento de Med-Palm 2, citando repetidas incongruências em carta enviada ao Google.

Enquanto a inteligência artificial (IA) sem sombra de dúvidas possui tremendo potencial para melhorar cuidados ao paciente e resultados de saúde, me preocupo de que implantações de tecnologias não-testadas poderia levar à ruptura da confiança em nossos profissionais médicos e instituições.Mark R. Warner, senador dos EUA, em carta enviada ao Google

Por sua vez, Thomas J. Fuchs, reitor de IA na Escola de Medicina Icahn do Mount Sinai, afirmou ser imperativo que hospitais de pesquisa, que possuem físicos e pesquisadores pioneiros, ajam como laboratórios para testar a tecnologia.

O Mount Sinai tomou a premissa literalmente, gastando mais de US$ 100 milhões (R$ 489,3 milhões) entre filantropia privada, construção de centros de pesquisa e instalações computacionais internas.

Tudo isso permite aos programadores a criarem ferramentas de IA do próprio hospital que podem ser refinadas com base na entrada de dados médicos, usados em seus hospitais e, ainda, ser enviados para locais que não possuem dinheiro para realizar pesquisas semelhantes.

Você não pode transplantar pessoas, mas você pode transplantar conhecimento e experiência até certo ponto com esses modelos que podem auxiliar os médicos da comunidade.Thomas J. Fuchs, reitor de IA na Escola de Medicina Icahn do Mount Sinai

Contudo, Fuchs alerta que, hoje, a IA na medicina “é uma grande moda” e “mais startups do que você pode contar que… gostam de evangelizar em graus, às vezes, absurdos” sobre os poderes revolucionários que a tecnologia pode trazer à medicina.

Ele se preocupa que elas podem criar produtos que podem fazer diagnósticos enviesados ou colocar os dados do paciente em risco. Regulações federais de peso, com supervisão médica, é primordial, diz.

Já o presidente do Hospital Mount Sinai e Mount Sinai Queens, David L. Reich, afirmou que seu hospital já vinha querendo usar a IA mais amplamente há anos, mas que a pandemia de Covid-19 atrapalhou os planos.

Enquanto chatbots generativos se tornam cada vez mais populares, a equipe de Reich foca mais no uso de algoritmos. Médicos de cuidados críticos, estão testando softwares preditivos para identificar pacientes com risco de incidentes, como sepse ou queda (esse é o tipo de software usado por Milekic).

Já os radiologistas usam a IA para conseguirem identificar de forma mais precisa o câncer de mama. Os nutricionistas, por sua vez, fazem uso da tecnologia para marcar os pacientes com probabilidade de estarem desnutridos.

Reich pontual que seu maior objetivo não é substituir os profissionais da saúde, mas, sim, algo mais simples: garantir o médico certo para o paciente que necessita dele no tempo certo.

Mas nem todos pensam assim…

Contudo, há alguns profissionais que não estão tão confortáveis assim com as novas tecnologias.

  • Os avanços não estão despertando somente empolgação; também despertam tensão entre o pessoal da linha de frente, muitos deles temendo que a tecnologia venha com enorme custo para os humanos;
  • A preocupação é que a tecnologia dê diagnósticos equivocados, vaze dados sensíveis dos pacientes e se torne uma desculpa para convênios médicos e hospitais para cortar postos de trabalho em nove da inovação e eficiência;
  • Muitos deles afirmam que o software não pode fazer o trabalho de um médico ou enfermeiro.

Se acreditamos que, em nossos momentos mais vulneráveis… queremos alguém para nos dar atenção, então, precisamos ser muito cuidadosos neste momento.Michelle Mahon, diretora-assistente de práticas de enfermagem na União Nacional dos Enfermeiros dos EUA

Mahon continua, dizendo que há poucas evidências empíricas que demonstram que a IA está melhorando os cuidados aos enfermos.

Fazemos experimentos neste país, usamos os testes clínicos, mas, por alguma razão, essas tecnologias […] estão sendo propagadas como superiores, como sempre presentes, e outros tipos de coisas que simplesmente não se comprovam em sua utilização.Michelle Mahon, diretora-assistente de práticas de enfermagem na União Nacional dos Enfermeiros dos EUA

Apesar de a IA poder canalizar dados-chave de pacientes e prever quão doente uma pessoa possa estar, Mahon vê que, às vezes, os algoritmos podem se enganar. Enfermeiros veem além dos sinais vitais do paciente, ela argumenta. Eles veem como um paciente está de aparência, sente odores incomuns de seus corpos e podem usar esses dados de pontos biológicos como predileções de que algo está errado. “A IA não pode fazer isso”, pontuou.

Alguns médicos entrevistados pela Universidade Duke em maio via questionário expressaram suas reservas sobre como os modelos de IA podem exacerbar problemas existentes com cuidados, incluindo vieses.

“Não acho que vamos sequer ter bom entendimento sobre como medir o desempenho de um algoritmo, muito menos em diferentes raças e etnias”, um dos entrevistados afirmou. A pesquisa envolveu, por exemplo, a Clínica Mayo, Kaiser Permanente e a Universidade de Califórnia São Francisco.

Em época de severa escassez de enfermeiros, Mahon argumentou que a empolgação dos administradores hospitalares para incorporar a tecnologia é menos sobre resultados do paciente e mais sobre “tapar buracos” e cortar custos.

“A indústria [de cuidados à saúde] está ajudando as pessoas a comprarem toda a excitação”, afirmou, “para que possam reduzir seu trabalho sem questionamentos”.

Robbie Freeman, vice-presidente de experiência digital do Mount Sinai, afirmou que as maiores partes de se implantar a IA nos hospitais são os médicos e enfermeiros. “Você vem trabalhar por 20 anos e faz isso de uma forma, e, agora, estamos pedindo para fazerem de outra”, afirmou.

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Healthtech Mevo capta R$ 110 milhões em Série B

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Mevo, healthtech brasileira especializada em prescrições digitais, captou R$ 110 milhões em sua série B. O aporte teve como principal investidor a Matrix, tradicional fundo de venture capital sediado em São Francisco, na Califórnia, que já investiu em empresas como a Apple e FedEx  quando ainda estavam começando, e teve a participação da Jefferson River Capital, family office de Hamilton E. James, ex-presidente da Blackstone e atual presidente do conselho da Costco.

Neste ano, a healthtech – que aplicará os recursos recém captados no avanço tecnológico e desenvolvimento de novos produtos – deve superar a marca de 10 milhões de brasileiros atendidos com prescrições eletrônicas e outras soluções digitais.

“Esse investimento não é apenas um voto de confiança em nosso modelo de negócios, mas também um passo crucial para acelerarmos a adoção da prescrição eletrônica no Brasil. Ainda existem muitas instituições de saúde e médicos que não têm acesso a essa tecnologia, e nosso objetivo é desenvolver a melhor solução do mercado para alcançá-los”, comenta Pedro Dias, fundador e CEO da Mevo, que já atende instituições como o Sírio-Libanês, Rede D’Or São Luiz e Oncoclínicas.

Reconhecida por sua expertise em identificar e apoiar startups inovadoras, a Matrix escolheu a Mevo como seu primeiro investimento no Brasil e o segundo, depois de mais de 13 anos, na América Latina. A Matrix possui US$ 2,2 bilhões em Assets Under Management (AUM) e a chegada ao Brasil reforça seu compromisso em apoiar o ecossistema de inovação onde quer que esteja.

“Temos a convicção de que, na próxima década, a prescrição manuscrita será algo do passado. Nosso foco é trazer mais segurança, transparência e qualidade para pacientes e profissionais de saúde, e este investimento nos permitirá continuar perseguindo esse sonho com ainda mais determinação”, completa Pedro.

Anteriormente, a Mevo já havia realizado outras captações seed e série A, entre 2019 e 2022, totalizando aproximadamente R$ 100 milhões levantados, que contaram com a participação de investidores como Floating Point, fundo de venture capital sediado em NY, IKJ Capital, FIR Capital, além de representantes de grupos e famílias de referência como a LTS Investments, dos fundadores do 3G Capital, Paul Fribourg, da Continental Grain Company, e a família Martins do Grupo Martins e Tribanco, entre outros.

Recentemente, a empresa foi selecionada para participar da 4ª turma do Programa Emerging Giants, uma parceria entre o Distrito e a KPMG, para apoiar os próximos passos estratégicos de startups em rápido estágio de crescimento e já consolidadas em seus mercados.

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Entenda como se proteger e quais os principais danos à saúde causados pelas fumaças das queimadas no Brasil

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Com a presença de fumaças que percorreram longas distâncias até grandes cidades, os cuidados com a saúde devem aumentar

A quantidade de queimadas no Brasil no mês de agosto bateu recordes em diversos estados e a fumaça decorrente dessas queimadas se espalhou, para além de locais próximos, para grandes cidades no Brasil. O resultado foram dias que se tornaram “nublados” e em que muitas pessoas relataram incômodos e até mesmo dificuldades para respirar. Mas quais são os principais danos que as fumaças das queimadas podem causar à saúde e como se proteger desses prejuízos?

O cirurgião torácico do Hospital Edmundo Vasconcelos, Marcel Sandrini, explica que os maiores danos são causados às pessoas com problemas respiratórios anteriores, que apresentam piora dos sintomas, como tosse e falta de ar. Esses pacientes, como asmáticos, enfisematosos e alérgicos, podem apresentar um quadro de crise aguda de tosse, rinite, bronco espasmo (chiado no peito) e desconforto para respirar.

Crédito: Marcelo Camargo / Agência Brasil

“Isso podemos falar para casos de queimadas à distância, em que a fumaça chega até outras cidades. Para pessoas que moram próximas aos locais com incêndios, pode haver a inalação de fumaças extremamente tóxicas. Os casos podem ser muito graves, com quadros de lesões com queimaduras de vias aéreas, por exemplo. Se as queimadas da mata atingirem depósitos de lixo, por exemplo, onde existem muitos tipos de plástico e outros materiais tóxicos, esta fumaça traz prejuízos adicionais à saúde”, detalha o médico.

O especialista afirma que todo tipo de fumaça é prejudicial, inclusive pessoas que inalam muita fumaça ao longo dos anos, como, por exemplo, fumaça de fogão a lenha, podem apresentar quadro de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), síndrome que engloba doenças como bronquite e asma, e até mesmo o enfisema pulmonar. Essas pessoas que já apresentam DPOC podem evoluir com quadros respiratórios mais graves durante as queimadas. “Os problemas mais graves vão depender do tempo de exposição à fumaça, da disposição do corpo, quantidade de vezes essa pessoa foi exposta e da distância em que a pessoa está em relação à fonte da fumaça”, avalia.

Marcel Sandrini ainda indica que, em casos de exposição leve à fumaça, pode ser normal ter um quadro de tosse, contudo, caso o quadro piore, o melhor a fazer é se afastar da fumaça e pode ser necessário procurar atendimento médico de urgência. “Se começar a evoluir para um chiado ou falta de ar e tosse persistente, o conselho é se afastar da fonte da fumaça e procurar um hospital, pois o quadro clínico pode se agravar. Uma reversão do bronco espasmo (chiado no peito) e intoxicação causados pela fumaça podem levar muito tempo para melhorar e se o paciente continuar inalando isso por mais tempo, só agrava a situação. Por isso, é preciso observar o quadro junto a especialistas”, ressalta. 

Para se proteger, o médico explica que o mais indicado é, sempre que possível, se afastar da fumaça ou ficar o mais distante possível. Utilizar umidificadores de ar dentro de casa também podem colaborar para a respiração.

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O impacto psicológico das barreiras sociais para autistas e cuidadores

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66% das pessoas com autismo já pensaram em suicídio, aponta estudo

O mês de setembro é marcado pela campanha do Setembro Amarelo, dedicada à conscientização e prevenção do suicídio. Entre os temas cruciais abordados durante o período, destaca-se a saúde mental de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), que enfrentam desafios únicos em todas as fases da vida. Além dos autistas, os cuidadores, principalmente as mães, também vivenciam pressões significativas que afetam diretamente seu bem-estar psicológico.

Não é de hoje que as pessoas com autismo enfrentam barreiras sociais e emocionais desde a infância, o que pode levar ao isolamento e ao agravamento de condições psicológicas. Segundo o estudo “Cuidando de quem cuida: um panorama sobre as famílias e o autismo no Brasil”, realizado pela Genial Care, 29% das pessoas com TEA sofrem de transtornos de ansiedade, e 4% apresentam distúrbios do sono, epilepsia ou Transtorno Opositivo-Desafiador. Esses dados destacam como as adversidades cotidianas podem afetar a qualidade de vida dos autistas. 

Outro obstáculo significativo enfrentado durante a adolescência e a vida adulta é a busca por empregos, que pode gerar sérios problemas devido à constante luta pela inclusão no mercado de trabalho. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 85% dos autistas permanecem fora do mercado de trabalho, contribuindo para o número de 1,7 milhão de desempregados no Brasil, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS). A dificuldade em conseguir um emprego agrava ainda mais os sentimentos de frustração e exclusão social, impactando diretamente a saúde mental.

Dados da National Autistic Society indicam que 66% das pessoas com TEA já pensaram em suicídio, e 35% já planejaram ou tentaram se suicidar, destacando o impacto profundo das dificuldades diárias na saúde psicológica. Pessoas com TEA têm até quatro vezes mais chances de desenvolver depressão ao longo da vida. O estudo “Retratos do Autismo no Brasil”, da Genial Care, apontou que 49% dos autistas já apresentaram comportamentos de autolesão ou automutilação, e 7% tentaram tirar a própria vida. 

Em suma, o ‘preço’ de ser uma pessoa autista no Brasil é alto, multifacetado e muitas vezes injusto. Enfrentar obstáculos em todas as áreas da vida, desde o acesso ao diagnóstico até a inclusão no mercado de trabalho, é uma batalha contínua e exaustiva mentalmente. 

“Apoiar cada jornada, especialmente na comunidade autista, é uma necessidade urgente. Os números não deixam dúvidas: o risco de lidar com desafios de saúde mental é significativamente maior entre pessoas com TEA, reforçando a importância de uma atenção coletiva. O impacto acumulado da exclusão social, da dificuldade de inserção no mercado de trabalho e da falta de suporte adequado afeta não apenas a saúde mental dos autistas, mas também de suas famílias”, afirma a Diretora Clínica da Genial Care, Alice Tufolo.

No entanto, o bem-estar psicológico de uma criança ou adulto com TEA está diretamente ligada ao ambiente ao seu redor. A criação de redes de suporte, desde escolas preparadas até empresas mais inclusivas, pode fazer uma enorme diferença na qualidade de vida dessas pessoas e de suas famílias. 

O outro lado da jornada: a saúde mental dos cuidadores

Embora o foco esteja crescendo nas dificuldades enfrentadas pelos autistas, os cuidadores, especialmente as mães atípicas, também sofrem impactos emocionais profundos.  Conforme o estudo “Cuidando de quem cuida: um panorama sobre as famílias e o autismo no Brasil”, da Genial Care, 86% das pessoas cuidadoras de crianças com TEA são as próprias mães, e 68% dos cuidadores relataram dificuldades em encontrar tempo para cuidar de si e descansar, o que compromete diretamente a sua estabilidade mental e bem-estar.

Para quem vive uma maternidade atípica, as responsabilidades podem ser ainda mais complicadas, pois os tratamentos contínuos dos filhos demandam mais tempo na vida dessas mães. Segundo o estudo da Genial Care, 47% delas sentem-se culpadas pela condição de seus filhos. Esse sentimento de culpa também afeta 36% dos outros cuidadores. A sobrecarga emocional combinada com a falta de tempo para autocuidado prejudica a saúde psicológica, tornando necessário o desenvolvimento de redes de apoio e programas de acolhimento.

A presença de um sistema de apoio, formada por familiares, amigos, profissionais de saúde e grupos especializados, oferece às mães suporte emocional, recursos práticos e informações valiosas sobre o autismo. Esse grupo torna as decisões menos pesadas e proporciona solidariedade, fortalecendo-as para superar desafios e celebrar conquistas. Ao compartilhar experiências, as mães se sentem compreendidas e menos isoladas, criando um ambiente essencial para o bem-estar de toda a família e o desenvolvimento de seus filhos.

A orientação parental é essencial para apoiar o desenvolvimento de crianças com autismo, proporcionando aos pais ferramentas e conhecimento para lidar com os desafios diários. Pais bem informados podem desempenhar um papel fundamental no ensino de habilidades e comportamentos que facilitam a autonomia e o crescimento da criança. É necessário que eles se sintam preparados e seguros, pois a insegurança pode impactar negativamente o desenvolvimento infantil. Por isso, etapas como educação sobre o autismo, comunicação aberta com profissionais, definição de metas claras e consistência nas rotinas são muito importantes.

Além de focar no desenvolvimento da criança, a orientação parental também cuida da saúde emocional dos pais. “A orientação parental auxilia os cuidadores a entenderem melhor os comportamentos desafiadores de seus filhos e a lidar com suas próprias emoções. A inclusão do autocuidado e a criação de uma rede de apoio são aspectos essenciais para garantir que os cuidadores tenham o suporte necessário para promover o bem-estar de toda a família”, ressalta Alice.

Nesse cenário, falar sobre saúde emocional de forma aberta e acessível é imprescindível para desmistificar o tema e promover intervenções eficazes. O Setembro Amarelo serve como um lembrete de que cuidar da saúde mental é essencial para todos, especialmente para os que enfrentam os desafios diários do autismo, direta ou indiretamente. 

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