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Busca por enfermeiros gera atrito entre Alemanha e Brasil

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Após pressão de Brasília, agência do governo alemão suspendeu seleção de enfermeiros brasileiros que desejam trabalhar no país europeu. Oportunidade de evolução profissional ou perda de trabalhadores qualificados?

A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e uma comitiva de ministros a Berlim, em dezembro, teve elogios recíprocos e aprofundamento de parcerias, mas um tema provocou mal-estar entre os dois países: os esforços da Alemanha para atrair enfermeiros brasileiros.

O país europeu projeta um déficit de ao menos 280 mil enfermeiros nos próximos 25 anos, e uma das apostas de Berlim para preencher as vagas é contratar profissionais do exterior. Mas o ministro do Trabalho do Brasil, Luiz Marinho, não gostou da forma como a Alemanha vinha tentando atrair os brasileiros.

Ele reclamou com o ministro alemão do Trabalho, Hubertus Heil, em uma reunião privada entre os dois em Berlim em dezembro, e tornou pública a insatisfação no programa Café com o Presidente: “Estávamos com um problema relacionado com a intenção da Alemanha de trazer trabalhadores da enfermagem para trabalhar aqui na Alemanha. Mas não adotaram os procedimentos que nós tínhamos combinado”, disse.

Qual é o conflito

Marinho e Heil assinaram em junho de 2023, em Brasília, um memorando de entendimento para estabelecer uma cooperação futura entre os dois países sobre migração de mão de obra qualificada. Mas, antes disso, Berlim já tinha outros canais para atrair enfermeiros do Brasil, em especial por meio de iniciativas desde 2018 da Agência Federal de Emprego alemã (Bundesagentur für Arbeit – BfA), que assinou um acordo com o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) em junho de 2022 para aprofundar esse recrutamento.

O Ministério do Trabalho brasileiro disse à DW que tinha a expectativa de que, após a assinatura do memorando de entendimento, o governo federal alemão suspendesse as iniciativas para atração de enfermeiros brasileiros até que a cooperação fosse estabelecida. Marinho pressionou para que o acordo entre a BfA e o Cofen fosse suspenso, o que ocorreu no final de 2023.

A suspensão do acordo também havia sido solicitada pela Federação Nacional dos Enfermeiros, que representa 15 sindicatos estaduais da categoria.

Desde então, o Ministério do Trabalho, o Cofen e entidades que representam os enfermeiros seguem realizando conversas sobre o tema. Marinho conduziu em março uma reunião a respeito, mas não há previsão de se e quando será firmado um novo acordo com balizas para a migração de enfermeiros brasileiros para o país europeu.

A BfA suspendeu a partir de janeiro novos programas de seleção de enfermeiros brasileiros. Enquanto isso, Berlim segue procurando parcerias do tipo com outros países – em março, o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, tratou do tema diretamente com o presidente da Filipinas, Ferdinand Marcos Jr.

Quais são os números

O Brasil tem 741 mil enfermeiros inscritos na atividade, além de 1,8 milhão de técnicos de enfermagem, segundo dados do Cofen. Os enfermeiros fazem curso de bacharelado, que dura cerca de cinco anos, enquanto os técnicos fazem uma formação de cerca de dois anos.

O país forma cerca de 50 mil novos enfermeiros por ano. Em 2022, segundo o Censo da Educação Superior feito pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), 51.348 novos enfermeiros receberam o diploma. No mesmo ano, o Cofen registrou a inscrição de 49.489 novos enfermeiros na atividade – além de 133.992 novos técnicos de enfermagem.

Na Alemanha, a enfermagem é uma profissão de nível técnico, com formação de três anos e menor autonomia e complexidade nas tarefas hospitalares. Em junho de 2023, o país europeu tinha 1,2 milhões de enfermeiros na ativa, dos quais 140.329 (12%) não eram alemães. A participação de brasileiros vem crescendo, mas é muito baixa: 1.252 eram do Brasil, ou 0,1% do total, segundo dados da BfA.

Devido à natureza diferente da formação em enfermagem no Brasil e na Alemanha, a comparação direta entre os números de enfermeiros é problemática. Uma aproximação, também imprecisa, é comparar a soma de enfermeiros e técnicos de enfermagem no Brasil com o número de enfermeiros na Alemanha. Nesse cálculo, o Brasil tem 11,8 desses profissionais de saúde a cada mil habitantes, enquanto a Alemanha tem 14,2 enfermeiros a cada mil habitantes.

Em 2023, o governo alemão informou que tinha a intenção de atrair até 700 enfermeiros brasileiros por ano para trabalhar no país.

Como funciona a migração de enfermeiros

Durante a vigência do acordo com o Cofen, a BfA anunciava periodicamente processos seletivos para enfermeiros brasileiros que desejavam migrar para a Alemanha. Os candidatos selecionados recebiam curso de alemão gratuito e uma bolsa mensal de 500 euros mensais (R$ 2.800) pelo período de 8 a 12 meses, para se dedicar exclusivamente ao aprendizado do idioma, até obter o certificado do nível intermediário B1.

Os enfermeiros depois se mudavam para a Alemanha, com voo custeado pelo recrutador e um visto com duração de até três anos para reconhecimento parcial de formação profissional. Eles eram inicialmente contratados por hospitais alemães como assistentes de cuidados – em uma seleção realizada em agosto de 2023, o salário bruto para essa função era de 2.540 euros (R$ 14 mil).

Por até 12 meses, os enfermeiros seguiam realizando curso de alemão gratuito, para alcançar o nível B2, e acumulavam o trabalho como assistentes de cuidados com a preparação para o exame prático e teórico de reconhecimento do diploma na Alemanha. Os profissionais tinham até três anos após a chegada ao país para serem aprovados nesse exame e, então, serem contratados como enfermeiros. Se não concluíssem o processo no período, ficariam sem visto e precisariam retornar ao Brasil.

Os enfermeiros que desejam migrar para a Alemanha ainda podem seguir esse roteiro, porém sem a atuação da BfA e do Cofen, mas individualmente ou por meio de processos de agências de recrutamento privadas, como já ocorre há alguns anos.

Algumas dessas agências foram alvo no passado de denúncias de assédio moral e desrespeito de direitos de enfermeiros que migraram para a Alemanha – um dos motivos que levaram o governo alemão a buscar o acordo formal de cooperação.

Um dos problemas denunciados era a exigência, por alguns recrutadores, de que o candidato devolvesse o valor do curso de alemão, da passagem e dos procedimentos de reconhecimento de documentos se decidisse rescindir o contrato – o que criava altas dívidas em euro para os enfermeiros que não se adaptassem e decidissem voltar ao Brasil durante o processo. Essa prática havia sido proibida no acordo entre a BfA e o Cofen.

Cofen via “oportunidade” para quem desejasse morar fora

O Cofen afirmou à DW que assinou o convênio com a BfA após ter sido procurado pelas autoridades alemãs, e indicado como o órgão competente para tal pelos ministérios da Saúde e do Trabalho do então governo Jair Bolsonaro.

Alberto Cabral, assessor legislativo do Cofen, disse que o órgão via o acordo como vantajoso para a categoria, pois estabelecia cláusulas e direitos para os profissionais e facilitava o caminho para os que tinham vontade de ter uma experiência internacional.

“Uma oportunidade para enfermeiros que quisessem morar em outro país, com certeza de boa remuneração e com a possibilidade de se desenvolver pessoalmente e profissionalmente”, diz. Ele afirma que, na primeira rodada de seleção sob o acordo, havia 150 vagas e 5 mil currículos foram enviados.

“O Brasil tem uma capilaridade extraordinária de instituições de ensino superior e mão de obra excedente na enfermagem. Podemos contribuir com outras nações, assim como recebemos de outras, como pelo [programa] Mais Médicos reeditado no governo Lula”, disse Cabral.

Governo reclama de “perda de trabalhadores qualificados”

O Ministério do Trabalho brasileiro tem uma visão diferente. Maíra Lacerda, chefe da assessoria especial de assuntos internacionais da pasta, disse à DW que o Cofen, por não ser uma entidade sindical, não tinha legitimidade para assinar um acordo do tipo, e que o governo recebeu reclamações de enfermeiros que migraram para a Alemanha, citando problemas como o fato de os profissionais serem inicialmente contratados como assistentes de cuidado.

“A formação de enfermeiro é muito forte no Brasil, uma graduação longa, com residência. É claro que os trabalhadores têm direito de ir aonde quiserem, mas temos resistência a perder trabalhadores qualificados”, disse Lacerda. Ela também questionou o argumento do Cofen de que o Brasil teria excedente de enfermeiros.

“Se outros países estão precisando de pessoal qualificado, por que não pegam pessoas em locais de vulnerabilidade e dão formação e as levam para trabalhar lá? Por que vir aqui buscar um profissional que está pronto, formado, com investimento do governo brasileiro, e levar para lá sem contrapartida?”, questionou.

Sua declaração reflete uma visão majoritária no atual governo federal sobre a mobilidade internacional de trabalhadores. No final de abril, Lula também criticou a americana Boeing por contratar engenheiros brasileiros. “Não é honesto vir aqui e roubar nossos engenheiros, sem gastar um centavo para formá-los”, afirmou o presidente na ocasião.

A presidente da Federação Nacional dos Enfermeiros, Solange Caetano, disse à DW que o acordo “não era bom para os trabalhadores”. Ela criticou a falta de referências sobre a preparação para se adaptar a uma cultura diferente da brasileira, e o fato de o enfermeiro permanecer na Alemanha por até três anos aguardando a validação do diploma e, enquanto isso, trabalhando como cuidador, o que, segundo ela, seria “subemprego”.

Caetano também disse que não há desemprego na categoria, mas uma má distribuição dos profissionais, concentrados nos grandes centros urbanos e escassos nas áreas remotas. “Se o trabalhador quiser migrar, ok, a gente apoia desde que tenha condições garantidas, mas não estimulamos nem achamos que tem que ser estimulado.”

Alemanha: acordo oferecia migração “regulada, justa e ética”

A BfA afirmou à DW, por meio de nota, que “lamenta” a suspensão do acordo com o Cofen e entende que ele oferecia um mecanismo confiável para a “migração de trabalhadores de forma regulada, justa e ética, de acordo com padrões internacionais”.

A agência alemã ressaltou que não tem a intenção de provocar “fuga de cérebros” de outros países, que respeita as preocupações do governo brasileiro e que interrompeu novas iniciativas de recrutamento após a suspensão do acordo. A BfA afirmou ainda que recebeu indicações do governo brasileiro de que as conversas sobre uma nova cooperação seguirão no segundo semestre de 2024, mas não comenta negociações em andamento.

O Ministério do Trabalho e Assuntos Sociais alemão afirmou à DW que considera de “alta prioridade” a implementação do memorando de entendimento com o Brasil sobre migração de mão de obra qualificada. “É importante promover um intercâmbio no qual os dois países, assim como seus trabalhadores, beneficiem-se, e por meio do qual a imigração de mão de obra do Brasil seja intensificada.”

A pasta ressalta que a maior parte da migração de trabalhadores ocorre de forma autônoma, por meio de canais privados de seleção, e que o governo alemão desenvolveu um selo de qualidade que obriga as agências privadas de recrutamento a conduzirem o processo de forma justa e transparente.

“Segurança financeira e moradia”

Yasmin Casini, de 32 anos, é uma enfermeira brasileira que decidiu migrar para o país europeu. Natural do Rio de Janeiro, ela se mudou em 2017 para Kiel, no norte da Alemanha, e relata à DW que a experiência teve “pontos positivos e negativos”.

Formada pela Universidade Federal Fluminense, ela teve dificuldades para se inserir no mercado de trabalho e estava há três anos desempregada quando viu o anúncio de uma empresa de recrutamento alemã. “Nunca tinha pensado em morar na Alemanha, não falava nada de alemão, mas me interessei”, diz.

Ela se inscreveu no processo, foi selecionada e fez curso de alemão por cinco meses no Brasil, pago pelo recrutador. Em Kiel, ela foi contratada por um salário de auxiliar de enfermagem até que passasse na prova de reconhecimento de diploma, o que levou sete meses no seu caso, e depois efetivou-se como enfermeira.

Nos sete anos em que mora na Alemanha, ela se casou – com o namorado brasileiro que tinha antes de se mudar – teve um filho e diz ter hoje uma vida “relativamente segura”. “Consigo prover para a minha família, tenho segurança e moradia, por isso não me vejo voltando para o Brasil, onde não consegui nem meu primeiro emprego.”

Mas nem tudo é simples, e ela também ressalta as dificuldades de morar em outro país. Ela diz ter sofrido episódios de xenofobia, inclusive no hospital onde trabalha, de colegas e de pacientes, como comentários de que brasileiros só saberiam “sambar e fazer carnaval” ou de que seu objetivo mesmo era “casar com um alemão”.

Ela vê com bons olhos a ideia de um acordo entre autoridades alemães e brasileiras que ofereça mais proteção a quem está chegando. E tem uma sugestão: que ele inclua a necessidade de orientar os candidatos sobre como lidar com a xenofobia e a quem recorrer nesses casos.

“Boa experiência internacional, mas decidi voltar”

Camila Ferreira, 31 anos, também migrou para trabalhar como enfermeira na Alemanha, mas voltou para o Brasil após três anos e meio. Formada em 2014, ela teve dificuldade para encontrar o primeiro emprego e conhecia uma tutora da residência que migrou para a Alemanha. Decidiu então seguir o mesmo caminho, em busca de uma “experiência internacional”.

Depois de seis meses de curso de alemão no Brasil, custeados pela recrutadora, ela se mudou em 2019 para Lübeck, no norte da Alemanha. Ferreira pontua que, na questão salarial, a Alemanha “está muito à frente do Brasil”, mas que o trabalho em si como enfermeira é mais básico. “No Brasil, é enfermeira que punciona a veia, instala a quimioterapia, coloca cateter. Na Alemanha, é o médico”, exemplifica.

Ela validou seu diploma oito meses após chegar em Lübeck e foi contratada como enfermeira, mas sentia que recebia um tratamento diferente por ser estrangeira e que passou a não tolerar mais “comentário xenófobo em tom de brincadeira”. “Talvez por eu ter ido para uma cidade pequena, isso tinha uma proporção maior. Mas foi o principal motivo que me fez voltar”, diz.

Em retrospectiva, ela afirma que a experiência também teve aspectos positivos, como “ter condições para visitar vários países e levar minha família para conhecê-los” e ampliar seu horizonte cultural. “Cresci como ser humano, financeiramente é muito bom, mas a sensação deles te lembrarem o tempo todo de que você não pertence àquele lugar faz muita gente querer desistir.”

Outro brasileiro com uma visão interna do setor na Alemanha é Luciano Rossetto, que trabalha como auxiliar de enfermagem há 11 anos no país. Hoje no Charité, em Berlim, ele diz que os hospitais alemães que contratam enfermeiros brasileiros costumam indicar mentores para os acompanharem na adaptação, mas que muitos não têm tempo suficiente para se dedicar a esse treinamento diante da alta pressão do ambiente hospitalar.

Ele também avalia que o nível intermediário B1 de alemão, com os quais os enfermeiros brasileiros hoje podem começar a trabalhar como assistentes de cuidado, é insuficiente para uma comunicação adequada e adiciona mais pressão na fase de chegada.

Por Bruno Lopin

Créditos: https://amp.dw.com/pt-br/busca-por-enfermeiros-gera-atrito-entre-alemanha-e-brasil/a-69140257

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Healthtech Mevo capta R$ 110 milhões em Série B

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Mevo, healthtech brasileira especializada em prescrições digitais, captou R$ 110 milhões em sua série B. O aporte teve como principal investidor a Matrix, tradicional fundo de venture capital sediado em São Francisco, na Califórnia, que já investiu em empresas como a Apple e FedEx  quando ainda estavam começando, e teve a participação da Jefferson River Capital, family office de Hamilton E. James, ex-presidente da Blackstone e atual presidente do conselho da Costco.

Neste ano, a healthtech – que aplicará os recursos recém captados no avanço tecnológico e desenvolvimento de novos produtos – deve superar a marca de 10 milhões de brasileiros atendidos com prescrições eletrônicas e outras soluções digitais.

“Esse investimento não é apenas um voto de confiança em nosso modelo de negócios, mas também um passo crucial para acelerarmos a adoção da prescrição eletrônica no Brasil. Ainda existem muitas instituições de saúde e médicos que não têm acesso a essa tecnologia, e nosso objetivo é desenvolver a melhor solução do mercado para alcançá-los”, comenta Pedro Dias, fundador e CEO da Mevo, que já atende instituições como o Sírio-Libanês, Rede D’Or São Luiz e Oncoclínicas.

Reconhecida por sua expertise em identificar e apoiar startups inovadoras, a Matrix escolheu a Mevo como seu primeiro investimento no Brasil e o segundo, depois de mais de 13 anos, na América Latina. A Matrix possui US$ 2,2 bilhões em Assets Under Management (AUM) e a chegada ao Brasil reforça seu compromisso em apoiar o ecossistema de inovação onde quer que esteja.

“Temos a convicção de que, na próxima década, a prescrição manuscrita será algo do passado. Nosso foco é trazer mais segurança, transparência e qualidade para pacientes e profissionais de saúde, e este investimento nos permitirá continuar perseguindo esse sonho com ainda mais determinação”, completa Pedro.

Anteriormente, a Mevo já havia realizado outras captações seed e série A, entre 2019 e 2022, totalizando aproximadamente R$ 100 milhões levantados, que contaram com a participação de investidores como Floating Point, fundo de venture capital sediado em NY, IKJ Capital, FIR Capital, além de representantes de grupos e famílias de referência como a LTS Investments, dos fundadores do 3G Capital, Paul Fribourg, da Continental Grain Company, e a família Martins do Grupo Martins e Tribanco, entre outros.

Recentemente, a empresa foi selecionada para participar da 4ª turma do Programa Emerging Giants, uma parceria entre o Distrito e a KPMG, para apoiar os próximos passos estratégicos de startups em rápido estágio de crescimento e já consolidadas em seus mercados.

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Entenda como se proteger e quais os principais danos à saúde causados pelas fumaças das queimadas no Brasil

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Com a presença de fumaças que percorreram longas distâncias até grandes cidades, os cuidados com a saúde devem aumentar

A quantidade de queimadas no Brasil no mês de agosto bateu recordes em diversos estados e a fumaça decorrente dessas queimadas se espalhou, para além de locais próximos, para grandes cidades no Brasil. O resultado foram dias que se tornaram “nublados” e em que muitas pessoas relataram incômodos e até mesmo dificuldades para respirar. Mas quais são os principais danos que as fumaças das queimadas podem causar à saúde e como se proteger desses prejuízos?

O cirurgião torácico do Hospital Edmundo Vasconcelos, Marcel Sandrini, explica que os maiores danos são causados às pessoas com problemas respiratórios anteriores, que apresentam piora dos sintomas, como tosse e falta de ar. Esses pacientes, como asmáticos, enfisematosos e alérgicos, podem apresentar um quadro de crise aguda de tosse, rinite, bronco espasmo (chiado no peito) e desconforto para respirar.

Crédito: Marcelo Camargo / Agência Brasil

“Isso podemos falar para casos de queimadas à distância, em que a fumaça chega até outras cidades. Para pessoas que moram próximas aos locais com incêndios, pode haver a inalação de fumaças extremamente tóxicas. Os casos podem ser muito graves, com quadros de lesões com queimaduras de vias aéreas, por exemplo. Se as queimadas da mata atingirem depósitos de lixo, por exemplo, onde existem muitos tipos de plástico e outros materiais tóxicos, esta fumaça traz prejuízos adicionais à saúde”, detalha o médico.

O especialista afirma que todo tipo de fumaça é prejudicial, inclusive pessoas que inalam muita fumaça ao longo dos anos, como, por exemplo, fumaça de fogão a lenha, podem apresentar quadro de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), síndrome que engloba doenças como bronquite e asma, e até mesmo o enfisema pulmonar. Essas pessoas que já apresentam DPOC podem evoluir com quadros respiratórios mais graves durante as queimadas. “Os problemas mais graves vão depender do tempo de exposição à fumaça, da disposição do corpo, quantidade de vezes essa pessoa foi exposta e da distância em que a pessoa está em relação à fonte da fumaça”, avalia.

Marcel Sandrini ainda indica que, em casos de exposição leve à fumaça, pode ser normal ter um quadro de tosse, contudo, caso o quadro piore, o melhor a fazer é se afastar da fumaça e pode ser necessário procurar atendimento médico de urgência. “Se começar a evoluir para um chiado ou falta de ar e tosse persistente, o conselho é se afastar da fonte da fumaça e procurar um hospital, pois o quadro clínico pode se agravar. Uma reversão do bronco espasmo (chiado no peito) e intoxicação causados pela fumaça podem levar muito tempo para melhorar e se o paciente continuar inalando isso por mais tempo, só agrava a situação. Por isso, é preciso observar o quadro junto a especialistas”, ressalta. 

Para se proteger, o médico explica que o mais indicado é, sempre que possível, se afastar da fumaça ou ficar o mais distante possível. Utilizar umidificadores de ar dentro de casa também podem colaborar para a respiração.

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O impacto psicológico das barreiras sociais para autistas e cuidadores

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66% das pessoas com autismo já pensaram em suicídio, aponta estudo

O mês de setembro é marcado pela campanha do Setembro Amarelo, dedicada à conscientização e prevenção do suicídio. Entre os temas cruciais abordados durante o período, destaca-se a saúde mental de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), que enfrentam desafios únicos em todas as fases da vida. Além dos autistas, os cuidadores, principalmente as mães, também vivenciam pressões significativas que afetam diretamente seu bem-estar psicológico.

Não é de hoje que as pessoas com autismo enfrentam barreiras sociais e emocionais desde a infância, o que pode levar ao isolamento e ao agravamento de condições psicológicas. Segundo o estudo “Cuidando de quem cuida: um panorama sobre as famílias e o autismo no Brasil”, realizado pela Genial Care, 29% das pessoas com TEA sofrem de transtornos de ansiedade, e 4% apresentam distúrbios do sono, epilepsia ou Transtorno Opositivo-Desafiador. Esses dados destacam como as adversidades cotidianas podem afetar a qualidade de vida dos autistas. 

Outro obstáculo significativo enfrentado durante a adolescência e a vida adulta é a busca por empregos, que pode gerar sérios problemas devido à constante luta pela inclusão no mercado de trabalho. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 85% dos autistas permanecem fora do mercado de trabalho, contribuindo para o número de 1,7 milhão de desempregados no Brasil, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS). A dificuldade em conseguir um emprego agrava ainda mais os sentimentos de frustração e exclusão social, impactando diretamente a saúde mental.

Dados da National Autistic Society indicam que 66% das pessoas com TEA já pensaram em suicídio, e 35% já planejaram ou tentaram se suicidar, destacando o impacto profundo das dificuldades diárias na saúde psicológica. Pessoas com TEA têm até quatro vezes mais chances de desenvolver depressão ao longo da vida. O estudo “Retratos do Autismo no Brasil”, da Genial Care, apontou que 49% dos autistas já apresentaram comportamentos de autolesão ou automutilação, e 7% tentaram tirar a própria vida. 

Em suma, o ‘preço’ de ser uma pessoa autista no Brasil é alto, multifacetado e muitas vezes injusto. Enfrentar obstáculos em todas as áreas da vida, desde o acesso ao diagnóstico até a inclusão no mercado de trabalho, é uma batalha contínua e exaustiva mentalmente. 

“Apoiar cada jornada, especialmente na comunidade autista, é uma necessidade urgente. Os números não deixam dúvidas: o risco de lidar com desafios de saúde mental é significativamente maior entre pessoas com TEA, reforçando a importância de uma atenção coletiva. O impacto acumulado da exclusão social, da dificuldade de inserção no mercado de trabalho e da falta de suporte adequado afeta não apenas a saúde mental dos autistas, mas também de suas famílias”, afirma a Diretora Clínica da Genial Care, Alice Tufolo.

No entanto, o bem-estar psicológico de uma criança ou adulto com TEA está diretamente ligada ao ambiente ao seu redor. A criação de redes de suporte, desde escolas preparadas até empresas mais inclusivas, pode fazer uma enorme diferença na qualidade de vida dessas pessoas e de suas famílias. 

O outro lado da jornada: a saúde mental dos cuidadores

Embora o foco esteja crescendo nas dificuldades enfrentadas pelos autistas, os cuidadores, especialmente as mães atípicas, também sofrem impactos emocionais profundos.  Conforme o estudo “Cuidando de quem cuida: um panorama sobre as famílias e o autismo no Brasil”, da Genial Care, 86% das pessoas cuidadoras de crianças com TEA são as próprias mães, e 68% dos cuidadores relataram dificuldades em encontrar tempo para cuidar de si e descansar, o que compromete diretamente a sua estabilidade mental e bem-estar.

Para quem vive uma maternidade atípica, as responsabilidades podem ser ainda mais complicadas, pois os tratamentos contínuos dos filhos demandam mais tempo na vida dessas mães. Segundo o estudo da Genial Care, 47% delas sentem-se culpadas pela condição de seus filhos. Esse sentimento de culpa também afeta 36% dos outros cuidadores. A sobrecarga emocional combinada com a falta de tempo para autocuidado prejudica a saúde psicológica, tornando necessário o desenvolvimento de redes de apoio e programas de acolhimento.

A presença de um sistema de apoio, formada por familiares, amigos, profissionais de saúde e grupos especializados, oferece às mães suporte emocional, recursos práticos e informações valiosas sobre o autismo. Esse grupo torna as decisões menos pesadas e proporciona solidariedade, fortalecendo-as para superar desafios e celebrar conquistas. Ao compartilhar experiências, as mães se sentem compreendidas e menos isoladas, criando um ambiente essencial para o bem-estar de toda a família e o desenvolvimento de seus filhos.

A orientação parental é essencial para apoiar o desenvolvimento de crianças com autismo, proporcionando aos pais ferramentas e conhecimento para lidar com os desafios diários. Pais bem informados podem desempenhar um papel fundamental no ensino de habilidades e comportamentos que facilitam a autonomia e o crescimento da criança. É necessário que eles se sintam preparados e seguros, pois a insegurança pode impactar negativamente o desenvolvimento infantil. Por isso, etapas como educação sobre o autismo, comunicação aberta com profissionais, definição de metas claras e consistência nas rotinas são muito importantes.

Além de focar no desenvolvimento da criança, a orientação parental também cuida da saúde emocional dos pais. “A orientação parental auxilia os cuidadores a entenderem melhor os comportamentos desafiadores de seus filhos e a lidar com suas próprias emoções. A inclusão do autocuidado e a criação de uma rede de apoio são aspectos essenciais para garantir que os cuidadores tenham o suporte necessário para promover o bem-estar de toda a família”, ressalta Alice.

Nesse cenário, falar sobre saúde emocional de forma aberta e acessível é imprescindível para desmistificar o tema e promover intervenções eficazes. O Setembro Amarelo serve como um lembrete de que cuidar da saúde mental é essencial para todos, especialmente para os que enfrentam os desafios diários do autismo, direta ou indiretamente. 

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