Por José Branco
O diagnóstico médico é um processo fundamental no tratamento de qualquer paciente. Um diagnóstico correto e oportuno pode salvar vidas e reduzir significativamente o impacto de doenças. No entanto, erros de diagnóstico são comuns, perigosos e caros, tanto para os sistemas de saúde quanto para os pacientes.
De acordo com a Academia Nacional Medicina (ANM), um erro de diagnóstico ocorre quando há falha em estabelecer uma explicação precisa e oportuna para os problemas de saúde de um paciente, ou em comunicar essa explicação ao paciente. Isso inclui diagnósticos que estão tardios, errados ou que simplesmente não foram feitos.
Os exemplos desses erros são amplos: diagnósticos tardios, como no caso do câncer, onde o diagnóstico deveria ter sido feito mais cedo, diagnósticos incorretos, onde uma condição, como um ataque cardíaco, é diagnosticada como algo menos grave, e diagnósticos perdidos, em que os sintomas do paciente nunca são explicados adequadamente.
Os erros de diagnóstico afetam milhões de pacientes anualmente. Nos Estados Unidos, por exemplo, estima-se que entre 40.000 a 80.000 pessoas morram todos os anos devido a diagnósticos incorretos. Além disso, pelo menos uma em cada três pessoas experimentará um erro de diagnóstico em sua vida, e essas falhas são a principal causa de alegações de negligência médica, respondendo pela maior fração de danos graves ao paciente e pelos maiores custos associados a ações judiciais.
Em termos econômicos, erros de diagnóstico não apenas custam vidas, mas também impactam financeiramente os sistemas de saúde. O uso inadequado de testes, tratamentos errados e ações judiciais podem custar bilhões de dólares anualmente. Estima-se que melhorar a precisão diagnóstica possa economizar mais de 100 bilhões de dólares por ano.
Os erros de diagnóstico podem ocorrer em qualquer fase do processo de atendimento ao paciente, seja na obtenção de um histórico médico completo, realização de exames físicos adequados, escolha dos testes corretos ou na interpretação correta dos resultados desses testes. Além disso, fatores como a complexidade do sistema de saúde, falhas na comunicação e coordenação de cuidados, bem como problemas organizacionais, podem contribuir significativamente para esses erros.
Os médicos também estão sujeitos a erros cognitivos, como tirar conclusões precipitadas ou negligenciar informações importantes. Em muitos casos, esses erros resultam do uso de heurísticas mentais, que são atalhos que auxiliam na tomada de decisões rápidas, mas que nem sempre resultam em decisões corretas.
Nos últimos anos, a inteligência artificial (IA) tem mostrado um grande potencial para melhorar a precisão diagnóstica. Em estudos, o uso da IA para auxiliar radiologistas e em exames como a colonoscopia reduz significativamente a ocorrência de erros. Por exemplo, a IA reduziu em mais de 50% a taxa de pólipos e adenomas não detectados durante colonoscopias.
Além disso, grandes modelos de linguagem, como GPT-4, têm mostrado uma precisão diagnóstica superior à dos médicos em muitos casos, especialmente em diagnósticos complexos. Isso indica que a IA pode desempenhar um papel crucial no fornecimento de segundas opiniões e na mitigação de erros diagnósticos.
Os erros de diagnóstico são uma questão de saúde pública de extrema gravidade, causando danos consideráveis a milhões de pessoas em todo o mundo. Embora sejam comuns, caros e prejudiciais, há um potencial significativo para melhorar esse cenário com o uso da IA e a adoção de estratégias mais eficazes no processo de diagnóstico. A redução desses erros não só salvará vidas, mas também reduzirá os custos associados a tratamentos inadequados e processos judiciais.
O futuro da medicina pode ver a IA desempenhando um papel ainda mais vital no diagnóstico médico, ajudando a alcançar o objetivo de erradicar os erros de diagnóstico e melhorar significativamente a segurança do paciente.
*José Branco é Presidente na Sociedade Médica de Oxigenoterapia Hiperbárica, faz parte da Direção Executiva do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente, atua como Diretor Técnico do Instituto Nacional de Desenvolvimento Social e é Diretor Médico da CLOUDSAÚDE.