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Uso de IA, gerenciamento de custos, escassez de mão de obra e sustentabilidade são tendências e desafios do setor de saúde neste ano.

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O setor global de saúde continuará a enfrentar desafios sem precedentes em 2024, como vem ocorrendo desde o início da pandemia da covid-19, revela a nova edição do estudo “Perspectivas Globais do Setor de Saúde 2024”, realizado pela Deloitte. De acordo com o relatório, que apresenta cinco grandes tendências do setor, o futuro da saúde global será moldado pela inovação, gerenciamento de custos, adaptação da força de trabalho, integração de cuidados sociais e sustentabilidade.

Uma das tendências que devem vir com mais força para o setor é a inteligência artificial (IA), que deve desempenhar um papel fundamental na otimização da administração, diagnóstico, tratamento e cuidado dos pacientes. Desde a análise preditiva até a automação de registros eletrônicos, a IA pode aprimorar ainda mais a precisão e a eficiência da entrega de cuidados de saúde.

“Em 2024, o setor de saúde enfrentará transformações sem precedentes. A pandemia da covid-19 segue impactando as organizações no Brasil e no mundo todo, pois deixou uma escassez de mão de obra e custos crescentes. Por outro lado, a adoção generalizada da inteligência artificial promete soluções inovadoras. Contudo, as desigualdades em saúde persistem, podendo triplicar os custos até 2040. A sustentabilidade é agora vital, com práticas ambientais e inovações na telemedicina moldando um futuro mais eficiente e acessível. Estamos no limiar de uma mudança profunda, em que inovação, sustentabilidade e adaptação da força de trabalho se tornam pilares essenciais do cuidado global”, destaca Luis Joaquim, sócio-líder de Life Sciences & Health Care da Deloitte.

O ano de 2023 foi marcado por desafios na saúde brasileira, com a persistência dos impactos da pandemia da covid-19 e o surgimento de novas questões de saúde. O sistema de saúde no Brasil divide-se entre público e privado, com 25% da população (cerca de 50,9 milhões de pessoas) utilizando serviços privados regulamentados, enquanto o restante depende de serviços não regulamentados ou do Sistema Único de Saúde (SUS). O país gasta aproximadamente 9,3% de seu PIB (Produto Interno Bruto) em saúde, totalizando cerca de R$ 800 bilhões, distribuídos entre saúde pública e privada.

Além das cinco áreas apontadas no relatório global, Luís Joaquim destaca outros temas, tendências e desafios que impactarão o mercado brasileiro nos próximos meses. De acordo com o executivo, no Brasil, as disparidades regionais, o envelhecimento populacional, os impactos da pandemia e a sinistralidade são alguns dos principais desafios do setor. 

Disparidades regionais e desigualdades

O Brasil apresenta grandes disparidades regionais na oferta de serviços de saúde, evidenciadas pela variação no número de médicos por mil habitantes, chegando a diferenças de até cinco vezes entre regiões. Essas desigualdades refletem na expectativa de vida, com variações significativas entre cidades e bairros, destacando a desigualdade social existente no acesso à saúde.

Envelhecimento populacional e obesidade

O Brasil enfrenta um rápido envelhecimento populacional, prevendo-se uma das maiores taxas do mundo, o que representa um desafio adicional para o sistema de saúde. A taxa de obesidade, tanto em crianças quanto em adultos, é outra preocupação crescente, projetando-se que 41% dos adultos brasileiros serão considerados obesos até 2035.

Impactos da pandemia

No começo, a pandemia levou a uma redução temporária no uso de serviços de saúde devido ao distanciamento social. Mas, posteriormente, houve um aumento significativo do referido uso, resultando no ingresso de 4 milhões de brasileiros no sistema de saúde suplementar nos últimos três anos. O aumento de casos de autismo, somado a fraudes e abusos, contribuiu para um recrudescimento dos gastos com saúde, pressionando financeiramente hospitais e planos.

Sinistralidade e desafios financeiros

A sinistralidade, indicador importante do sistema de saúde, permanece elevada, atingindo até 90% em alguns momentos. A questão da sustentabilidade financeira no setor é agravada pelos altos custos operacionais, especialmente para hospitais, que enfrentam desafios mesmo com o aumento da demanda.

Saúde no mundo: os principais desafios globais

A inteligência artificial (IA) surge como uma necessidade competitiva no setor, com um investimento global de US$ 31,5 bilhões entre 2019 e 2022. A IA está simplificando tarefas administrativas, automatizando a gestão de reclamações, melhorando a qualidade do cuidado, otimizando equipes hospitalares e proporcionando diagnósticos eficientes e precisos. No entanto, a confiança dos pacientes e a mitigação de vieses são cruciais para a adoção bem-sucedida dessa tecnologia inovadora. 

No Brasil, de acordo com Luis Joaquim, a IA tornou-se crucial para melhorar a eficiência e o controle no sistema de saúde, abrangendo áreas como detecção de fraudes e modernização de processos operacionais. A aplicação da IA na radiologia, especialmente para diagnósticos por imagem, tem sido uma tendência, embora a falta de investimentos em infraestrutura digital, gestão de dados, padronização e qualidade nos dados de saúde ainda seja um obstáculo.

Gerenciando custos, cadeia de suprimentos e acessibilidade

Os custos no setor de saúde são impulsionados por riscos trabalhistas, inflação e a necessidade de cuidados especializados para populações envelhecidas. Os custos hospitalares nos Estados Unidos, por exemplo, aumentaram 22,5% desde antes da pandemia, e a inflação na América Latina contribuiu para um aumento de 18,9% nos custos com saúde em 2023. O setor está respondendo com inovações para reduzir custos relacionados à idade, mas a acessibilidade e o investimento são desafios, especialmente nos países em desenvolvimento. Os custos de saúde no Brasil estão em ascensão, com a inflação médica superando a média mundial. Mudanças legislativas, como o Projeto de Lei do piso de enfermagem e a transformação do rol taxativo em exemplificativo, aumentam as incertezas e pressionam ainda mais os custos do setor. A área da saúde lida com um grande desafio em manter o equilíbrio entre os custos dos insumos hospitalares e a qualidade assistencial, ou seja, o setor de suprimentos precisa posicionar-se como estratégico e acompanhar as linhas de oportunidades no mercado. Outro ponto sensível, que precisa de um gerenciamento, são os processos que possam gerar desperdícios quando não monitorados.

Respondendo à iminente escassez global de profissionais de saúde

A Organização Mundial da Saúde (OMS) projeta um déficit de 10 milhões de profissionais de saúde até 2030, agravado pelo esgotamento dos profissionais, que atinge quase 50% dos médicos nos Estados Unidos. Líderes de saúde são instados a reconstruir a confiança, restaurar significado e envolver os clínicos da linha de frente em papéis de liderança, além de priorizar tecnologias para reduzir as demandas de trabalho. Para Joaquim, no Brasil, questões como burnout, afastamento de profissionais de saúde e desigualdade na distribuição de profissionais são desafios significativos. As questões mentais dos profissionais do setor têm se agravado, influenciadas pela instabilidade econômica, pelo desemprego e por perdas pessoais.

O papel dos cuidados sociais

Com 80% dos resultados de saúde vinculados a fatores sociais, governos e organizações estão integrando serviços de saúde e cuidados sociais para alcançar uma “saúde integral”. Parcerias estão sendo formadas para empoderar os trabalhadores de cuidados sociais e melhorar os resultados entre populações desatendidas, incluindo a implementação de tecnologias digitais para otimizar serviços. Na realidade brasileira, fatores sociais — como localização geográfica, cor e raça — desempenham um papel crucial nos determinantes da saúde. A desigualdade no acesso a alimentos saudáveis também é destacada como um fator importante.

Um futuro sustentável

O setor de saúde, suscetível aos impactos das mudanças climáticas, está construindo operações mais sustentáveis para mitigar emissões. Hospitais estão investindo em descarbonização, estabelecendo metas de neutralidade de carbono e incentivando cadeias de valor sustentáveis. Joaquim destaca que, no Brasil, o setor de saúde é apontado como um dos principais poluidores, e a sustentabilidade torna-se uma preocupação crescente. A busca por operações mais verdes, eficiência energética e resiliência da cadeia de suprimentos são consideradas essenciais para abordar os desafios ambientais e garantir a sustentabilidade.

“O estudo destaca a necessidade urgente de inovação, colaboração e responsabilidade no setor de saúde. À medida que enfrentamos transformações significativas, a adoção responsável de tecnologias, a abordagem proativa dos custos e da escassez de profissionais, o fortalecimento dos cuidados sociais e o compromisso com a sustentabilidade emergem como imperativos para moldar um futuro saudável para todos”, conclui Luis Joaquim.

Saúde mais personalizada

A saúde está se tornando mais personalizada, descentralizada, e encontrando formas de se otimizar. É o que mostra o estudo “Forecast Healthcare 2024”, elaborado pela LLYC, no qual são apresentados os principais desafios que o setor enfrentará no próximo ano.

As longas listas de espera geradas pela pandemia e os problemas orçamentários se somam a outros fatores que antes já estavam evidentes, como o envelhecimento da população, o crescimento da desigualdade econômica e a sobrecarga gerada por algumas doenças não transmissíveis. Com os serviços de saúde sob enorme pressão, os governos, a indústria médica, os profissionais e os pacientes precisarão encontrar, juntos, formas inovadoras para reverter essa situação e garantir a sustentabilidade do setor.

O estudo destaca que, entre os principais temas para o ano, estão o aumento da conscientização da população sobre o autocuidado e a melhoria dos hábitos de vida. Ele também destaca a importância do papel dos cuidadores na melhoria da saúde dos pacientes e o aumento da transparência e da inclusão na pesquisa clínica. O setor seguirá avançando na abordagem One Health (saúde humana, animal e ambiental) e critérios ESG.

Saúde Mental

Ao longo de 2024, a desestigmatização das doenças mentais continuará em pauta, haverá um aumento das soluções apresentadas para casos e doenças com poucas opções de tratamento aumentarão, e a tecnologia continuará desempenhando um papel fundamental. A inteligência artificial e o big data vão acelerar o desenvolvimento de medicamentos e vacinas, e a inovação e a tecnologia convergirão para melhorar a assistência médica.

Para Giuliana Gregori, diretora de Healthcare e Advocacy da LLYC Brasil, o ano de 2024 começa com grandes desafios para o setor de saúde, mas também com motivos para ser otimista. “Há uma grande preocupação com a capacidade de sustentação dos serviços de saúde. Como é possível diminuir essa sobrecarga? Será inevitável que todos os atores, públicos e privados, trabalhem juntos para melhorar a situação. No momento, o apoio da pesquisa e da tecnologia está se mostrando fundamental. O impacto delas está sendo muito importante para avançar no desenvolvimento de tratamentos ou medicamentos que podem facilitar a vida dos pacientes”, destaca.


As principais tendências apontadas no relatório Forecast Healthcare 2024

Maior conscientização sobre o cuidado individual da saúde e melhoria dos hábitos, foco nos cuidadores e em seu papel para a melhora da saúde dos pacientes, aumento da pressão sobre a sustentabilidade dos sistemas de saúde, maior transparência e inclusão na pesquisa clínica, a abordagem One Health: meio ambiente, animais e saúde humana, a perspectiva empresarial com responsabilidade social, Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e ESG, desestigmatização das doenças mentais, mais acesso à inovação farmacológica e às tecnologias de saúde, mais e melhores soluções para doenças devastadoras com poucas opções de tratamento, big data e inteligência artificial para acelerar o desenvolvimento de medicamentos e vacinas, vacinação: o momento dos idosos e crianças, e novas tecnologias para aproximar a saúde do paciente.


Tendências Globais dos Custos de Saúde

Aon plc, empresa global em serviços profissionais, aponta em seu novo relatório “Global Medical Trend Rates Report 2024” que, no Brasil, a previsão é que a taxa média de aumento de planos de saúde corporativos em 2024 será de 14,1%, mantendo o patamar de 14,4% realizado em 2023.  

O indicador encontra-se acima da taxa média da América Latina, que atingiu 11,6% em 2023 e chegará a 11,7% em 2024, com uma inflação geral de 4,3% em 2023 e 4,1% em 2024. 

O estudo reúne informações dos escritórios da Aon que intermediam e administram planos médicos corporativos nos 113 países incluídos na pesquisa. Com base nas interações entre profissionais da Aon e clientes, os insights do relatório refletem as expectativas quanto às tendências dos custos de saúde nos âmbitos local, regional e global. 

As taxas representam uma previsão dos aumentos percentuais que serão necessários para compensar a inflação de preços projetada, considerando a evolução do comportamento de utilização dos planos médicos e custos dos eventos, tais como exames, terapias e internações, além do impacto da incorporação à cobertura obrigatória (rol de procedimentos) de novas tecnologias e medicamentos. 

“Os números do Brasil são elevados se comparados com as médias da América Latina e global. Com a frequência de utilização dos serviços médicos retornando ao patamar anterior à pandemia, os indicadores que impactam na variação dos custos médicos também estão se aproximando daqueles registrados antes do período pandêmico. As perspectivas para 2024 continuam apontando para uma trajetória de alta, tendência impulsionada principalmente por serviços como exames, terapias e internações (nesta ordem)”, explica Leonardo Coelho, head de Health & Talent Solutions da Aon no Brasil.

O especialista ressalta ainda a crescente relevância de iniciativas de bem-estar para as empresas: “A complexidade do cenário de saúde reforça a necessidade de análises detalhadas desses dados para facilitar o acesso à assistência médica e promover a saúde e o bem-estar, convergindo em uma estratégia mais sustentável para os benefícios de saúde. Cada vez mais países reportam o bem-estar como sua iniciativa de mitigação de custos mais importante, já que um quarto dos 113 países consultados citaram sua importância, e países como o Brasil, a Colômbia, a Índia, Singapura e Hong Kong estão encabeçando a lista”. 

Para 2024, a companhia prevê que a média global de aumento será de 10,1%, acima dos 9,2% registrados no ano anterior e a mais alta desde 2015. As condições médicas que mais impulsionaram os custos com planos médicos no Brasil foram:

  • Cardiovasculares: incluem transtornos do coração e vasos sanguíneos, abrangendo diferentes condições. Essas doenças impactaram a sinistralidade nas regiões da América Latina e Caribe, Ásia-Pacífico e Europa.
  • Câncer: os mais comuns são os de mama, pulmão, colo, reto e próstata, os quais apresentam números crescentes em todo o mundo.

“Passamos por um cenário inflacionário significativo e de grande volatilidade econômica. Os impactos nas economias em todo o mundo após a pandemia da covid-19 continuarão provocando um ambiente instável para o mercado de planos de saúde e, embora já existam sinais de melhoria, essas condições ainda devem persistir. Especialmente em razão da incerteza de quanto tempo ainda vão durar as pressões inflacionárias, fica claro que todas as regiões pesquisadas terão um aumento acentuado em planos de saúde corporativos em 2024”, destaca Max Saraví, head de Health & Talent Solutions da Aon para a América Latina.

O relatório prevê que, em termos globais, 60% das empresas avaliam flexibilizar seus benefícios como estratégia de mitigação que lhes permitirá maior controle de seus gastos e custos, tornando-se uma ferramenta eficiente de recursos humanos para oferecer pacotes de benefícios diferenciados. 

“A flexibilização dos benefícios pode ser uma ferramenta de atração e retenção de talentos ao oferecer aos colaboradores um pacote mais adaptável, que atenda às suas necessidades individuais e, ao mesmo tempo, aborde aspectos e expectativas de diversidade, equidade e inclusão”, conclui Saraví.

Imperativos estratégicos  

KPMG destaca quatro ações estratégicas que garantem o sucesso contínuo das empresas de ciências da vida. São elas: elaborar experiências viabilizadas por tecnologia e centradas no cliente; desenvolver colaborações de inteligência artificial (IA) para uma entrada mais rápida no mercado; repensar a cadeia de suprimentos; gerenciar riscos cibernéticos. Segundo o levantamento, diante de um cenário novo e altamente conectado, as organizações do setor devem agir de acordo com os quatro imperativos cruciais apresentados, que serão a base de um novo modelo para a indústria.

“As tendências na área de ciências da vida sinalizam um período de conectividade e inovação, que mudará o modo como os pacientes e seus prestadores de serviços entendem, gerenciam e até curam doenças. As instituições devem estar bem preparadas para agir de acordo com as diretrizes, de forma que ofereçam aos usuários experiências inovadoras e uma qualidade de vida melhor”, conclui o sócio-líder de infraestrutura, governo e saúde da KPMG no Brasil, Leonardo Giusti.

As prioridades essenciais enfatizadas são listadas abaixo.

Elaborar experiências viabilizadas por tecnologia e centradas no cliente: comunicar-se efetivamente com os investidores envolve não apenas destacar o valor financeiro, mas também demonstrar como os serviços beneficiam não só o acionista, mas também o paciente e a sociedade em geral. Além disso, as propostas de valor para novos produtos devem ser respaldadas por dados convincentes, demonstrando melhorias em relação às ofertas existentes e aos impactos na saúde, alinhamento de custos e opções de pagamento inovadoras.

Desenvolver colaborações de IA para uma entrada mais rápida no mercado: as empresas devem se adaptar ao cenário atual de desenvolvimento acelerado de medicamentos, buscando formas de maximizar o retorno sobre o investimento em um tempo menor. Nesse sentido, é recomendável estabelecer parcerias estratégicas com organizações de inteligência artificial, visando acelerar processos desde a identificação de candidatos a medicamentos até a análise de dados de ensaios clínicos.

Repensar a cadeia de suprimentos: viabilizar uma experiência mais conectada e personalizada ao cliente, dar suporte às novas terapias e à medicina de precisão, e mitigar riscos de disrupção tornam-se prioridades cruciais para a área. Investir na modernização da cadeia de suprimentos permite a criação de um ecossistema dinâmico e interconectado de serviços de saúde, focado na satisfação contínua dos clientes e pacientes, ao mesmo tempo em que impulsiona a eficiência e o crescimento de receita.

Gerenciar riscos cibernéticos: as companhias do segmento também devem entender os riscos associados ao uso de tecnologias digitais e emergentes. Embora ferramentas como nuvem, IA e aprendizado de máquina possam impulsionar melhorias significativas na produtividade da produção, elas trazem novos desafios de segurança cibernética. Para aproveitar ao máximo essas tecnologias avançadas, é essencial que se estabeleçam protocolos robustos de gestão de acesso, especialmente ao utilizar dados da cadeia de suprimentos digital em ambientes de tecnologia operacional.

Atualidades

Rede D’Or São Luiz (RDOR3) vende D’Or Consultoria por R$ 800 milhões

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Serão pagos 65% na data de fechamento e 35% em parcelas futuras variáveis

O grupo de saúde Rede D’Or São Luiz (RDOR3) assinou documentos definitivos para a venda de participação na D’Or Consultoria para a corretora e administradora de seguros MDS, conforme fato relevante ao mercado nesta quinta-feira (16).

A companhia acrescentou que o acordo avalia a D’Or Consultoria, empresa de corretagem do grupo, em R$ 800 milhões, valor “o qual será descontado da dívida líquida e sujeito a eventuais mecanismos de ajuste de preço usuais a operações dessa natureza”. A Rede D’Or detém 93,5% da mesma.

Segundo a Rede D’Or, um pagamento de 65% do valor de aquisição será feito na data de fechamento, com outros 35% em “parcelas futuras variáveis”, a serem efetuadas em três parcelas anuais a contar da data de fechamento da operação.

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A conclusão e o fechamento da transação ainda estão sujeitos a determinadas condições, incluindo a aprovação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

A D’Or Consultoria é composta pela JTO Holding S.A., JTO Fundadores Participações LTDA e Rede D’Or São Luiz Soluções Corporativas em Saúde e Segurança do Trabalho Ltda.

Créditos: https://www.infomoney.com.br/mercados/rede-dor-sao-luiz-rdor3-vende-dor-consultoria-por-r-800-milhoes/

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Antonio Campos analisa a formação do cartel pelos planos de saúde da Rede D’Or, Sulamérica e Bradesco Seguros para criar rede de hospitais

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A saúde suplementar está na UTI. O cartel de preços dos planos de saúde. Agora, Rede D’Or-Sulamérica se aliam em joint ventura ao Bradesco Seguros para criar a Atlântica Hospitais. É a Saúde Suplementar cada vez mais nas mãos de poucos. Usuários dos planos, hospitais e entidades de defesa, uni-vos.

1.Aumento abusivo

Publiquei um texto, nesse início do ano, sobre os aumentos abusivos dos planos de saúde, o que vinha alertando, inclusive em artigo publicado, desde março de 2023. Destaco artigo publicado essa semana no Jornal de Pernambuco sobre o tema. Em 2023, os planos tiveram reajustes em torno de 25%, bem superior a uma inflação que fechou em 4,62%. Sete em cada dez usuários de saúde suplementar comprometem até um terço com despesas médicas da sua renda mensal, segundo recente pesquisa.

2.Concentração econômica no setor da saúde já é uma realidade e não é saudável

A realidade atual é a oligopolização da cadeia econômica de saúde e não apenas a concentração no mercado securitário de planos de saúde, também englobando seguros e serviços de saúde privados. A estratégia é a verticalização de clínica, laboratório, hospital e farmácia, numa cadeia societária interligada, gerando uma oligopolização do setor de saúde privado no Brasil. Tal fenômeno, se não acompanhado pelas entidades reguladoras para coibir os excessos vai deixar o sistema complementar de saúde na UTI, mas com paciente fora dela, quando precisar. Tal oligopolização passa também por uma combinação tácita ou combinada pelos preços, numa tabela geral para os planos no Brasil. É um cartel.

3.A fusão da rede D’Or e Sulamérica pelo CADE, algo emblemático. Agora, faz joint venture com o Bradesco Seguros e cria a Atlântica Hospitais.

O CADE aprovou sem restrições a fusão entre a Rede D’Or e a Sulamérica, com 5 conselheiros e o presidente a favor, contra 1 voto com pedido de imposição de remédio. Um grande número de entidades questionou o negócio, uma vez que a legislação não permite que operadoras de planos de saúde e administradoras de benefício façam parte de um mesmo grupo econômico. O CADE considerou que seria apenas preocupante concentrações acima de 30%, e que a união dos dois teria um market share apenas de 20%. Ora, de 20% para 30% é um pulo.
Coube a ANS se debruçar sobre a questão societária da Rede D’Or na Qualicorp, que é algo relevante. Esse modelo de negócio tem levado a uma concentração econômica que gera oligopólio, fixação de preço, eliminação de concorrência, entre outras práticas que prejudicam a livre concorrência. O esperado em uma fusão desta natureza com severas repercussões diretas sobre a assistência à vida seria a imposição de restrição de práticas a tal grupo econômico, o que além de não acontecer serviu de um incentivo a mais para que agora a Rede D’Or – Sulamérica criasse a Atlântica Hospitais juntamente com o Bradesco Seguros, ampliando a já grande concentração operada no setor.
Segundo informações do mercado financeiro, a Sulamérica, agora parte da Rede D’Or seria um grande aplicador do mercado de títulos públicos, onde estaria ganhando rios de dinheiro, daí a sua menor preocupação com o número de usuários.

4.O caso Amil

A Amil tinha um passivo de mais de R$ 20 bilhões. Tentou vender o grupo para um plano inexpressivo de São Paulo, que foi vetado, na última hora, pela ANS, ante iniciativas do Tribunal de Contas da União. Agora, está sendo vendida ao empresário José Seripieri Filho, que fundou a Qualicorp e a Qsaúde. É um assunto que merece um acompanhamento especial, quanto a capacidade financeira do adquirente.

5. Golden Cross / Unimed – Rio

Outro caso emblemático, foram as quebras da Golden Cross, que foi incorporada pela Unimed – Rio, deixando os usuários sem assistência, o que tem sido objeto de ações judiciais para os usuários serem atendidos até em outras Unimeds.

6.ANS omissa

Cabe a ANS regular e fiscalizar como os players estão se comportando no mercado. Se ofertam rede credenciada adequada; se seguem os padrões contratuais fixados na ANS; se repassam reajustes à rede de prestadores; entre outras tarefas.
Para a atual realidade do sistema complexo de saúde suplementar a atuação da ANS está extremamente deficiente, prejudicando os usuários e os hospitais independentes, que não vêm outra alternativa a não ser fechar ou ser vendidos às grandes redes. Outro aspecto, é a fiscalização contra aumentos abusivos, que tem sido deficiente.

7.É preciso um CADE mais atuante e vigilante, inclusive pela cartelização da saúde e eliminação da concorrência, práticas vedadas

Um grupo de juristas e de entidades de usuários estão elaborando uma representação denunciando diversas práticas que ferem a livre concorrência ao Ministério Público com assento no CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica, para abertura de investigação e adoção de medidas cautelares, inclusive cartel de preços. São muitas as denúncias diárias de infrações, fruto de um sistema que está se oligopolizando. Outras iniciativas jurídicas e políticas também estão sendo estudadas, inclusive no TCU quanto a atuação da ANS.

1.Aumento abusivo

Publiquei um texto, nesse início do ano, sobre os aumentos abusivos dos planos de saúde, o que vinha alertando, inclusive em artigo publicado, desde março de 2023. Destaco artigo publicado essa semana no Jornal de Pernambuco sobre o tema. Em 2023, os planos tiveram reajustes em torno de 25%, bem superior a uma inflação que fechou em 4,62%. Sete em cada dez usuários de saúde suplementar comprometem até um terço com despesas médicas da sua renda mensal, segundo recente pesquisa.

2.Concentração econômica no setor da saúde já é uma realidade e não é saudável

A realidade atual é a oligopolização da cadeia econômica de saúde e não apenas a concentração no mercado securitário de planos de saúde, também englobando seguros e serviços de saúde privados. A estratégia é a verticalização de clínica, laboratório, hospital e farmácia, numa cadeia societária interligada, gerando uma oligopolização do setor de saúde privado no Brasil. Tal fenômeno, se não acompanhado pelas entidades reguladoras para coibir os excessos vai deixar o sistema complementar de saúde na UTI, mas com paciente fora dela, quando precisar. Tal oligopolização passa também por uma combinação tácita ou combinada pelos preços, numa tabela geral para os planos no Brasil. É um cartel.

3.A fusão da rede D’Or e Sulamérica pelo CADE, algo emblemático. Agora, faz joint venture com o Bradesco Seguros e cria a Atlântica Hospitais.

O CADE aprovou sem restrições a fusão entre a Rede D’Or e a Sulamérica, com 5 conselheiros e o presidente a favor, contra 1 voto com pedido de imposição de remédio. Um grande número de entidades questionou o negócio, uma vez que a legislação não permite que operadoras de planos de saúde e administradoras de benefício façam parte de um mesmo grupo econômico. O CADE considerou que seria apenas preocupante concentrações acima de 30%, e que a união dos dois teria um market share apenas de 20%. Ora, de 20% para 30% é um pulo.
Coube a ANS se debruçar sobre a questão societária da Rede D’Or na Qualicorp, que é algo relevante. Esse modelo de negócio tem levado a uma concentração econômica que gera oligopólio, fixação de preço, eliminação de concorrência, entre outras práticas que prejudicam a livre concorrência. O esperado em uma fusão desta natureza com severas repercussões diretas sobre a assistência à vida seria a imposição de restrição de práticas a tal grupo econômico, o que além de não acontecer serviu de um incentivo a mais para que agora a Rede D’Or – Sulamérica criasse a Atlântica Hospitais juntamente com o Bradesco Seguros, ampliando a já grande concentração operada no setor.
Segundo informações do mercado financeiro, a Sulamérica, agora parte da Rede D’Or seria um grande aplicador do mercado de títulos públicos, onde estaria ganhando rios de dinheiro, daí a sua menor preocupação com o número de usuários.

4.O caso Amil

A Amil tinha um passivo de mais de R$ 20 bilhões. Tentou vender o grupo para um plano inexpressivo de São Paulo, que foi vetado, na última hora, pela ANS, ante iniciativas do Tribunal de Contas da União. Agora, está sendo vendida ao empresário José Seripieri Filho, que fundou a Qualicorp e a Qsaúde. É um assunto que merece um acompanhamento especial, quanto a capacidade financeira do adquirente.

5. Golden Cross / Unimed – Rio

Outro caso emblemático, foram as quebras da Golden Cross, que foi incorporada pela Unimed – Rio, deixando os usuários sem assistência, o que tem sido objeto de ações judiciais para os usuários serem atendidos até em outras Unimeds.

6.ANS omissa

Cabe a ANS regular e fiscalizar como os players estão se comportando no mercado. Se ofertam rede credenciada adequada; se seguem os padrões contratuais fixados na ANS; se repassam reajustes à rede de prestadores; entre outras tarefas.
Para a atual realidade do sistema complexo de saúde suplementar a atuação da ANS está extremamente deficiente, prejudicando os usuários e os hospitais independentes, que não vêm outra alternativa a não ser fechar ou ser vendidos às grandes redes. Outro aspecto, é a fiscalização contra aumentos abusivos, que tem sido deficiente.

7.É preciso um CADE mais atuante e vigilante, inclusive pela cartelização da saúde e eliminação da concorrência, práticas vedadas

Um grupo de juristas e de entidades de usuários estão elaborando uma representação denunciando diversas práticas que ferem a livre concorrência ao Ministério Público com assento no CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica, para abertura de investigação e adoção de medidas cautelares, inclusive cartel de preços. São muitas as denúncias diárias de infrações, fruto de um sistema que está se oligopolizando. Outras iniciativas jurídicas e políticas também estão sendo estudadas, inclusive no TCU quanto a atuação da ANS.

8.A estratégia dos planos em 2024 é o reajuste dos planos

O foco das operadoras de planos de saúde em 2024 é reajustar os planos, mesmo que perca clientes. Privilegiar rentabilidade, mesmo que implique em perder segurados. Após um prejuízo de mais de 10 bilhões em 2022, por diversas razões, os planos tomaram essa decisão estratégica. Muitos usuários começaram um 2024 perplexos ante o tamanho do aumento dos seus planos de saúde.

9.A judicialização da saúde

A realidade da judicialização da saúde, em razão de várias práticas abusivas dos planos de saúde é uma realidade, infelizmente. Os planos tem tentado criar mecanismos de desjudicializar as contendas do mercado securitário e criar precedentes contra os usuários. O que é necessário é ter o justo equilíbrio e evitar os excessos, que devem ser coibidos, seja de usuários ou dos planos, mas nunca tentar defender o não acesso à Justiça.
Na realidade, o maior plano de saúde do Brasil, maior que qualquer plano privado, é saber utilizar corretamente o SUS, buscar os direitos assegurados pela Constituição, pela via judicial ou não.

10.Usuários dos planos e entidades de defesa, uni-vos.

Mais do que nunca os usuários de planos de saúde e as entidades de defesa dos usuários devem se unir e fazer uma reflexão sobre o momento porque passa o sistema suplementar de saúde buscando saídas que preservem o direito dos usuários e que também permita que os planos sobrevivam, buscando o justo equilíbrio dos direitos, especialmente os valores dos planos que estão insuportáveis.
Contudo, é preciso compreender que estamos em uma nova realidade ainda mais complexa e que precisa a atuação enérgica e inteligente para a defesa dos usuários e cidadãos. Ou se age logo, extirpando casuísmos, ou o paciente vai morrer e com ele também o sistema suplementar de saúde, porque a dose do remédio do tamanho dos reajustes pode virar veneno e matar o seu cliente, reduzindo a carteira de clientes, a gerar grande desequilíbrio, numa crise sistêmica.
Estou nessa luta em favor dos usuários e da vida, mas sempre na busca do equilíbrio dos direitos dos planos e dos usuários. Contudo, nessa relação de consumo, a parte mais fraca é o usuário do plano de saúde, inclusive por disposição legal.

Autor

*Antônio Campos é advogado e atua também nesta área de direito da saúde

8.A estratégia dos planos em 2024 é o reajuste dos planos

O foco das operadoras de planos de saúde em 2024 é reajustar os planos, mesmo que perca clientes. Privilegiar rentabilidade, mesmo que implique em perder segurados. Após um prejuízo de mais de 10 bilhões em 2022, por diversas razões, os planos tomaram essa decisão estratégica. Muitos usuários começaram um 2024 perplexos ante o tamanho do aumento dos seus planos de saúde.

9.A judicialização da saúde

A realidade da judicialização da saúde, em razão de várias práticas abusivas dos planos de saúde é uma realidade, infelizmente. Os planos tem tentado criar mecanismos de desjudicializar as contendas do mercado securitário e criar precedentes contra os usuários. O que é necessário é ter o justo equilíbrio e evitar os excessos, que devem ser coibidos, seja de usuários ou dos planos, mas nunca tentar defender o não acesso à Justiça.
Na realidade, o maior plano de saúde do Brasil, maior que qualquer plano privado, é saber utilizar corretamente o SUS, buscar os direitos assegurados pela Constituição, pela via judicial ou não.

10.Usuários dos planos e entidades de defesa, uni-vos.

Mais do que nunca os usuários de planos de saúde e as entidades de defesa dos usuários devem se unir e fazer uma reflexão sobre o momento porque passa o sistema suplementar de saúde buscando saídas que preservem o direito dos usuários e que também permita que os planos sobrevivam, buscando o justo equilíbrio dos direitos, especialmente os valores dos planos que estão insuportáveis.
Contudo, é preciso compreender que estamos em uma nova realidade ainda mais complexa e que precisa a atuação enérgica e inteligente para a defesa dos usuários e cidadãos. Ou se age logo, extirpando casuísmos, ou o paciente vai morrer e com ele também o sistema suplementar de saúde, porque a dose do remédio do tamanho dos reajustes pode virar veneno e matar o seu cliente, reduzindo a carteira de clientes, a gerar grande desequilíbrio, numa crise sistêmica.
Estou nessa luta em favor dos usuários e da vida, mas sempre na busca do equilíbrio dos direitos dos planos e dos usuários. Contudo, nessa relação de consumo, a parte mais fraca é o usuário do plano de saúde, inclusive por disposição legal.

Autor

*Antônio Campos é advogado e atua também nesta área de direito da saúde

Créditos: https://www.opoder.com.br/noticias/17696/artigo-antonio-campos-analisa-a-formacao-do-cartel-pelos-planos-de-saude-da-rede-dor-sulamerica-e-bradesco-seguros-para-criar-rede-de-hospitais

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Atualidades

Fábio Mattoso, CEO da Tuinda Care: “Com modelos de assinatura, dispositivos médicos não ficariam obsoletos no SUS”

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Tuinda é distribuidora do TytoCare, dispositivo portátil que realiza 8 exames à distância e armazena os resultados em nuvem. Empresa atua em São Caetano do Sul e participa de outras 12 licitações para implementar dispositivo no SUS

Os dispositivos médicos têm potencial para revolucionar cada vez mais a saúde. Com o avanço da tecnologia, a inteligência artificial e a interoperabilidade de dados podem modificar a rapidez, a assertividade em diagnósticos e a forma como profissionais de saúde atuam. Parte dessas tecnologias pode, inclusive, ampliar o acesso da população à saúde. É de olho nesse cenário que a Tuinda Care vem atuando. A empresa é distribuidora exclusiva no Brasil do TytoCare, um dispositivo portátil que realiza 8 exames à distância e armazena os resultados em sua plataforma. Em entrevista ao Futuro da Saúde, o CEO Fabio Mattoso falou sobre os planos da empresa, entrada no SUS e como o modelo de negócio de assinatura poderia contribuir para que equipamentos de saúde não se tornassem obsoletos no SUS.

A healthtech vem buscando aumentar o número de clientes, com o apoio de investidores como o Sabará Hospital Infantil e o Hospital Pequeno Príncipe. Desde janeiro de 2023, a Tuinda realiza atendimentos em São Caetano do Sul, cidade próxima a capital paulista, em uma parceria com a prefeitura. Mais de 11 mil teleconsultas utilizaram a tecnologia e, de acordo com o CEO, foram essenciais para zerar a fila de cardiologia no município.

À frente da empresa, Mattoso quer ampliar o uso do dispositivo no SUS e aponta que a empresa está participando de 12 licitações públicas, mas que ainda não podem ser divulgadas por questões jurídicas. Com experiência no setor, ele foi líder executivo do Watson, tecnologia da IBM que era o “ChatGPT” do tratamento oncológico muito antes do boom da inteligência artificial, além de passagens por GE e Philips.  

Veja abaixo os principais trechos da entrevista:

Hoje, qual a inserção da Tuinda no SUS?

Fabio Mattoso – Neste momento de calamidade pública no Rio Grande do Sul, fornecemos equipamentos a vários municípios, mas isso é pontual. Além de São Caetano, temos outras iniciativas com o SUS, mas elas não são públicas ainda, estão em um momento de licitação, em aprovação pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Estamos participando de 12 licitações diretamente. Isso é muito expressivo. Existe um tempo regulamentar, alguém pode tentar impugnar a licitação, é um instrumento legal e temos que respeitar.

São Paulo está à frente dessa discussão?

Fabio Mattoso – O Estado de São Paulo é onde estamos mais ativos em licitações hoje. Ele está muito maduro em telemedicina. Comparando com outros estados, estamos falando de universos completamente diferentes. A região Centro-Oeste está em uma tendência muito forte, mas em outras regiões não vemos grandes movimentos. Apesar de a telemedicina ser recém-regulamentada, ainda depende muito de um bem querer das pessoas. Alguém que quer fazer isso nascer. A tecnologia está consolidada, mas quando chega um ator disruptivo, se os envolvidos não estiverem com os bons olhos para inserir a telemedicina, não vai para frente.

Como é a parceria com o Hospital Pequeno Príncipe?

Fabio Mattoso – O Hospital Pequeno Príncipe é um dos nossos investidores, através da Associação Eunice Weaver. Cerca de 40% do atendimento é prestado ao SUS, o que o torna um hospital deficitário em lucro, mas que recupera isso através de doações em geral ou de imposto de renda. É totalmente publicizado a maneira como ele trabalha, com seriedade e transparência. O Hospital atende municípios específicos no Paraná utilizando Tyto. Paranaguá e a comunidade indígena de Kakané Porã, por exemplo. O Pequeno Príncipe faz um trabalho belíssimo de atendimento ao SUS, seja para telessaúde, para doenças de alta complexidade, patologias congênitas, pacientes oncológicos ou cirurgias críticas em neonatos. Eles já tratam igual o paciente da saúde suplementar e do SUS. São atendidos na mesma sala, pelo mesmo médico e com hotelaria igual, o que é difícil de ver. Profissionais de saúde nunca viram isso antes. É normal as Santas Casas atenderem ambos sistemas, mas a saúde suplementar na entrada principal e o SUS pela porta da rua lateral. O Pequeno Príncipe atende todo mundo igual, e na alta complexidade. Além de contar com faculdade, centro de pesquisas, centro genômico, unidade oncológica e de transplante. Fico muito orgulhoso de saber que um dos nossos investidores faz um trabalho tão bonito quanto esse.

E além do SUS?

Fabio Mattoso – Fora isso, estamos atendendo o sistema carcerário, que era uma grande dor. A dificuldade do médico lá é ter a colaboração do paciente e também a ajuda de outros colegas dele para o tratamento ou acompanhamento. O médico ficar em uma entidade distante do preso não é o que realmente ajuda. Estar inserido dentro do contexto também é prejudicial, tanto para o médico – porque coloca em risco –, quanto para a população prisional. Muitas vezes instrumentos de telemedicina são importantes como ferramentas para aproximação de extremos, quando você não tem médico, especialista ou subespecialistas para população ou através de interconsultas.

No SUS, a entrada da Tuinda é feita através de parcerias com empresas de telemedicina ou sozinha, em contratos diretos com as próprias prefeituras?

Fabio Mattoso – Em alguns casos, entramos em parceria porque é uma solução mais completa, não queremos colocar só o device. O device sozinho vira um peso de papel, como um estetoscópio normal. Quando entramos prestando serviços médicos ou com uma empresa de telemedicina/telessaúde, às vezes precisa ter todo um aparato para atendimento remoto, mas ao mesmo tempo precisa ter funcionários físicos. Nesse ambiente híbrido a gente não opera, porque aumenta muito a complexidade e esforço, é mais fácil a gente entrar em associação. É muito transparente.

Na sua visão, quais os maiores desafios do SUS?

Fabio Mattoso – Há vários desafios. O primeiro deles, independente se na esfera federal, estadual ou municipal, é que não falta profissionais em um âmbito global, o que falta é uma distribuição demográfica para isso. Faltam especialistas. Quando você busca atendimento médico, você espera alguém que te dê um norte, uma luz. Não obrigatoriamente essa pessoa vai resolver seu problema, mas que pelo menos consiga te encaminhar para o especialista correto. Esse é o segundo ponto de dor do SUS. A gente não tem especialistas para cobrir tudo. Em São Caetano do Sul trabalhamos em grupos específicos, com linhas de cuidado, para cardiologia e dermatologia. A falta de dermatologistas no país é um ponto importante. Um dos cânceres que mais mata é o melanoma, por falta de diagnóstico. Então, um médico com formação generalista ao utilizar o TytoCare como um instrumento de triagem, consegue dizer que a lesão é suspeita e encaminha para um especialista. Em cardiologia atendemos grupos específicos de pessoas com doenças crônicas que precisam de atendimento e não será através de uma Unidade Básica de Saúde. Precisa de um atendimento com um médico acostumado a tratar doenças crônicas e orientar a buscar uma farmácia com tratamentos adequados.

Qual a contribuição do dispositivo para trazer mais resolutividade na telessaúde?

Fabio Mattoso – Em São Caetano zerou a fila de atendimentos para pacientes cardiológicos, por exemplo. Quando falamos que zerou uma fila é muito tocante. A cardiologia tem um peso muito grande, potencializado por patologias prévias como diabetes e hipertensão. Tinha uma lista de espera que foi zerada, é um sinal de orgulho para a gente, e simplesmente porque conectamos um médico especialistas com um médico generalista na ponta. O TytoCare é um estetoscópio também, tem uma ausculta pulmonar, cardíaca e carótida perfeita, comparado a um Littmann digital. A própria FDA diz isso: comparado ao melhor estetoscópio do mundo para pequenas alterações cardíacas, que poderiam passar despercebidos pela utilização de um estetoscópio convencional. Para um leigo é tudo a mesma coisa, pode achar que é preciosismo. Mas se você usa no dia a dia um fone de ouvido ruim, vai ouvir a essência da coisa, mas vai perder detalhes. Na saúde, vai comprometer o diagnóstico. A acurácia depende de qualidade. Além disso, mede função cardíaca. Todas essas informações médicas são armazenadas em cloud, tem o efeito comparativo que não existe hoje, já que depende da memória do médico, que depois de 10 pacientes já esqueceu. Além disso, está gravado. Há dúvidas? Escuta novamente ou faz uma teleinterconsulta com um especialista para ver os detalhes.

Qual a principal barreira para atuar no SUS?

Fabio Mattoso – Vejo resistência dos profissionais de saúde. É muito mais simples andar com um estetoscópio no pescoço, auscultar e mandar o paciente embora. Com o dispositivo vai gastar alguns segundos a mais, mas as informações vão estar salvas para sempre. Existe essa resistência, assim como existe para diabetes, por exemplo. O resultado da glicemia no dispositivo dá um resultado, se ninguém transcrever para um prontuário, a informação está perdida. Gestores não têm resistência. Quando ele olha, observa se é um instrumento de custo, que vai trazer uma economia ou qualidade na melhora de atendimento. Cada um pensa na sua realidade naquele momento, o que é legítimo. Avalia-se caso a caso. Na saúde suplementar, temos clientes operadoras que veem o Tyto como uma ferramenta de saving. Se mando um dispositivo para a casa de um paciente que tem uma patologia específica e remotamente consegue atender esse paciente, ele não precisa ir a unidade. A vaga do pronto-socorro fica livre para outro paciente, reduzindo inclusive, o pedido de exames desnecessários. Existe uma resistência sim, mas é muito mais pelo lado humano do que pelo lado de gestão. 

Vocês atuam através do modelo de assinatura. Os acordos com prefeituras ou estados seguem o mesmo modelo?

Fabio Mattoso – Estamos trabalhando com todos os clientes com esse modelo de assinatura porque achamos melhor. A desvantagem para nós é entrar menos dinheiro de capex, o retorno é mais a longo prazo. Mas é prazeroso saber que esse modelo propicia que mais pessoas tenham acesso a tecnologia. E aí, como gestor, vou ganhar de qualquer jeito, mas vou ganhar um pouco mais pra frente porque não vai ser um modelo transacional. Temos algumas licitações que querem fazer a compra transacional, onde ganharíamos mais dinheiro, mas entramos em um problema de manutenção da solução. Não é caro o suficiente para vender um suporte, é mais fácil trocar o equipamento se acontecer alguma coisa. O modelo de assinatura é mais vantajoso para todo mundo. Porém, existe um hábito dos modelos de licitação que tratam dispositivos médicos igual insumos. Um vidro de constaste radiológico não pode ser tratado como um equipamento de tomografia computadoriza. Mas é. Quantos lugares tem um mamógrafo, mas está parado há tanto tempo porque não tem peças, porque não tinha um contrato de manutenção? Se tivesse um modelo de assinatura ou um modelo de subscrição, o ativo não fica da União. A responsabilidade é do fabricante em fazer a manutenção. Não tem que lidar com a obsolescência de hardware, software ou uma solução. O modelo é respeitosamente viciado a tratar tudo da mesma maneira, e não posso tratar uma solução de tecnologia como se fosse uma caixa de filme de raio-x.

Como a política do Governo para ampliar a saúde digital pode ser uma oportunidade para a Tuinda?

Fabio Mattoso – Vejo uma oportunidade de negócios gigantesca. Está sendo conduzido pela Ana Estela Haddad de um modo primoroso, dentro de todas as dificuldades que tem de regulamentação ou como lida com dados médicos. Mas não é para amanhã. Tudo tem que ter um começo. Demora para sair, mas quando sair, a inércia vai levando. Uma vez que documenta todo o histórico médico do paciente, começa a ter ferramentas de gestão na sua mão que te ajudam não somente na gestão do indivíduo e suas patologias, mas na gestão municipal, estadual ou federal de como o recurso está sendo utilizado. Por isso vejo com excelentes olhos. Não é um programa tapa buraco, que se mudar o governo ele irá mudar. Não tem mais volta. Está sendo muito bem conduzido, mas não é uma coisa que vai acontecer do dia para a noite justamente pelo peso que ele carrega, de seriedade, regulamentação e legislação envolvidas.

E vocês têm capacidade para atender a demanda de todo o país ou há uma limitação na produção da TytoCare?

Fabio Mattoso – A Tuinda é acelerada por duas grandes instituições, o Hospital Pequeno Príncipe e o Hospital Infantil Sabará. Houve um investimento financeiro agressivo justamente para termos um estoque muito sólido. Diferente de outras empresas, que vendem primeiro, correm atrás do dinheiro para fazer, tiramos as licenças de Anvisa, Inmetro e Anatel, construímos a empresa e a partir daí fomos para mercado. Estamos 100% confortáveis com a nossa capacidade atual e com a capacidade de investimentos dos acionistas. Infelizmente, essas limitações atingem o grosso das startups, que tem um grande ideia e vendem para virar um unicórnio ou dependem do dinheiro alheio. A Tuinda tem que ser auditada por duas das big four [empresas de auditoria multinacionais] e faz impairment tests todos os anos. Temos um nível de governança e compliance muito alto, justamente pela capacidade de investimentos dos nossos investidores.

Como você vê a Tuinda nos próximos anos?

Fabio Mattoso – Tenho certeza que estaremos mais consolidados no setor privado, porque tem uma capacidade e velocidade mais rápida para gerar negócios, mas gostaríamos de estar envolvidos no SUS, porque é onde a gente mais precisa de atendimento médico – e não é por falta de médicos. Hoje, temos 575 mil médicos, em pouco tempo vão existir 1 milhão de médicos. Não vai faltar. Mas ao mesmo tempo, vemos notícias de que quase 800 mil pessoas no Rio de Janeiro vão se beneficiar com a chegada de profissionais do Mais Médicos. Estamos falando de 200 médicos. Pegamos um estado do tamanho do Rio de Janeiro e estamos falando que virou um super anúncio colocar 200 médicos a mais lá, sendo que médicos não faltam. Faltam especialistas. O que me incomoda muito é a distribuição demográfica e o acesso. Estamos falando de um país do tamanho do Brasil que só tem 2.500 oncologistas. Gostaria de ver a Tuinda distribuindo mais acesso, estar mais no SUS ajudando como ferramenta de diagnóstico, tratamento e evitando agravos de patologias.

Créditos: https://futurodasaude.com.br/fabio-mattoso-tuinda-care/?trk=organization_guest_main-feed-card_feed-article-content

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